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Alicia Klein

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Palmeiras bate Flamengo em jogão e só falam de Abel Ferreira: por que será?

Abel Ferreira chuta microfone em Palmeiras x Flamengo, pela Supercopa do Brasil - Reprodução/TV Globo
Abel Ferreira chuta microfone em Palmeiras x Flamengo, pela Supercopa do Brasil Imagem: Reprodução/TV Globo

30/01/2023 14h40

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Abel Ferreira, o arrogante.

Agressivo.

Mau exemplo.

Faz-se de vítima.

É impressionante o foco dado ao treinador do Palmeiras, depois da vitória maiúscula sobre o Flamengo, naquele que será provavelmente um dos melhores jogos do futebol brasileiro em 2023.

Sete gols, pênaltis, polêmicas de arbitragem, uma atuação alviverde que poucos especialistas esperavam (a julgar pelos palpitômetros por aí), os dois melhores times do país em campo entregando tudo e? o assunto: Abel Ferreira tem um comportamento lamentável.

Abel Ferreira é ótimo treinador, mas precisa de mais humildade. É competente, mas não pode reclamar assim. É vencedor, mas mas mas.

É óbvio que não tem cabimento alguém da sua importância desrespeitar qualquer pessoa ou chutar qualquer coisa. Por pior que seja a qualidade da arbitragem brasileira, isso não lhe confere o direito de perder as estribeiras daquela forma. Mereceu ser expulso.

Parece-me curioso, no entanto, a voracidade com que se julgam as suas ações especificamente. Como se a ele coubesse uma análise com microscópio, como se ele fosse a exceção entre os bem comportados "misters" da elite.

Aliás, em outubro, o outro mister, Jorge Jesus, não chutou um microfone, e sim um jogador adversário caído no chão (!).

Enfim, Abel precisa controlar seu temperamento e ele mesmo sabe disso. Em 2022, recebeu mais cartões vermelhos do que qualquer atleta de seu elenco. O português andou até visitando a Monja Cohen.

O problema é permitir que os momentos em que ele perde a cabeça dominem o noticiário, a despeito de todo o resto que ele faz de bom. Do momento de carinho com a filha de Pelé, do respeito com todos os funcionários do clube (não só os jogadores), da atenção que dispensa às crianças, dos momentos em que ele oferece a cara à tapa por toda a comunidade ludopédica ao criticar a CBF.

Enquanto isso, tem treinador que xinga torcida, arbitragem, que lava roupa suja em público, que não cumpre contrato, que mente, que foi condenado por violência sexual, tem de tudo.

Mas o Abel?

O que se faz dentro de campo não anula os exemplos dados fora dele. Ganhar títulos não significa ter passe livre para errar na vida — ao contrário do que pensam muitos famosos.

A questão é olhar para as pessoas globalmente, tirar a venda do clubismo e tentar entender por que a torcida palmeirense é obcecada pelo homem.

Não é fácil se tornar uma unanimidade em qualquer time brasileiro. No universo alviverde então, historicamente ranzinza, trata-se de feito ainda mais notável. Quem quiser olhar de perto descobrirá que a montanha de troféus é apenas parte da razão do amor conquistado por esse forasteiro.

Abel Ferreira não se resume a um chute de microfone. E o Palmeiras venceu o Flamengo, para quem deixou esse detalhe de lado.

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