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Alicia Klein

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Copa América vs Euro: vergonha alheia de nós mesmos

Jogadores do Brasil celebram gol sobre o Equador, na Copa América, enquanto goleiro busca bola no fundo da rede - ANDRÉ COSTA/UAI FOTO/ESTADÃO CONTEÚDO
Jogadores do Brasil celebram gol sobre o Equador, na Copa América, enquanto goleiro busca bola no fundo da rede Imagem: ANDRÉ COSTA/UAI FOTO/ESTADÃO CONTEÚDO

27/06/2021 20h10

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Copa América e Euro acontecendo ao mesmo tempo deveria ser proibido. Não porque haja conflito de horários ou por sobrecarregar a agenda do super torcedor ou torcedora, ou a grade dos canais esportivos. É a comparação.

Ficamos para trás em tantos aspectos e de maneira tão aviltante, que ter o contraste esfregado na cara dói.

É tudo melhor. O nível do futebol. A velocidade. O tempo de bola rolando. A arbitragem. O uso do VAR. A qualidade da transmissão. A audiência (Euro subindo no mundo inteiro, Copa América em baixa histórica). Até as camisas são mais bonitas.

Assistindo agora ao modorrento jogo do Brasil contra o Equador, jogo desimportante de um torneio que não deveria estar acontecendo, em um estádio pequeno e vazio, com pouquíssimos atletas que atuam por aqui, em meio a uma pandemia sem fim, não consigo separar a experiência da partida anterior, Bélgica e Portugal.

Não que tenha sido uma exibição de gala ludopédica, mas houve brilho (como não com Hazard, Lukaku, Cristiano Ronaldo) - e houve gente.

E talvez seja este o contraste mais dolorido. A torcida. Pessoas felizes, sorrindo, bebendo cerveja, assistindo a futebol ao vivo. Em países em que não morreram meio milhão de pessoas. A vida começando a ter alguma aparência de normalidade.

Senti um misto de decepção, tristeza, inveja e vergonha. E vontade de tomar cerveja vendo futebol ao vivo.

Na Copa América? Arquibancadas vazias e 190 casos confirmados de Covid. Segundo algumas estimativas, somando as delegações e as pessoas trabalhando na organização do evento, isso significa uma taxa de contaminação acima de 15% (o que é 50% maior que a gigantesca taxa do Brasil, mas semelhante à taxa de outros campeonatos disputados no país). Um crime.

Tudo isso para poder realizar a quarta edição da Copa América desde 2015. Euro foram duas. Porque grandes torneios de seleções são assim: escassos. Mas escassez no futebol do nosso continente só temos de bom senso. De noção. De consciência.