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Alicia Klein

2021: será que dá pra virar?

Visão geral do Estádio do Maracanã, fogos de artifício marcam o final da cerimônia de abertura da Rio-2016. - AFP PHOTO / Andrej ISAKOVIC
Visão geral do Estádio do Maracanã, fogos de artifício marcam o final da cerimônia de abertura da Rio-2016. Imagem: AFP PHOTO / Andrej ISAKOVIC

31/12/2020 13h34

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Sabe quando seu time vai pro intervalo perdendo de 3 a 0, mas você ainda acredita que dá pra virar? Bom, se a gente marcar logo no início do segundo tempo, botamos pressão no adversário, depois basta fazer dois. Aí é só virar! Bora pra cima! Totalmente viável.

Só que não é. Praticamente certo que sua agremiação do coração voltará pra casa com a derrota. Mas quem sabe? (Mercosul 2000 feelings, né, minha filha?)

O Brasil, para mim, é esse jogo. Na iminente chegada de 2021, mais do que nunca. Uma sensação de que tudo vai dar errado, mas também pode dar certo. Que se uma substituição encaixar, o coletivo engrenar, a torcida ajudar a empurrar, que talvez a gente chegue lá.

(Estou aqui me policiando para não escrever mais uma coluna "tiro, porrada e bomba", azeda, metendo o dedo na ferida e na cara de todo mundo. Quero ser otimista, afinal, se entrarmos o ano achando que só vai dar merda, qual a chance de dar bom?)

O Brasil, para mim, é aquele jogo da primeira fase da Copa do Brasil: time muito rico da série A enfrenta time praticamente amador que só quer não tomar goleada na ida e poder viajar pra partida de volta, pegar um avião, pisar num gramado famoso. Duas realidades diametralmente opostas ocupando um mesmo espaço e, no apito final, voltando para seus lares cada vez mais desiguais.

Um lugar em que tantos sobrevivem com mil reais, enquanto falamos com naturalidade de um goleiro que renegocia seu contrato e "aceita" receber 650 mil. Seiscentos e cinquenta mil reais, mensais, todos os meses, a cada 30 dias.

O Brasil, para mim, é aquele nadador que mal sabe nadar, porém todos aplaudem pela perseverança e coragem. Aquela tenista que desafiou a pobreza e conseguiu se destacar num esporte de rico. Aquele corredor descalço que, sabe-se lá como, vai vencer a maratona.

Um país rico que é pobre. Um país negro que é racista. Um país de gente que ri quando deve chorar. Que dribla a tristeza com futebol, churrasco e cerveja. Que dá uma bicuda na desesperança, porque é sempre melhor ter esperança.

São muitos motivos para não acreditar. Mas, por qualquer razão que desafia a razão, a gente segue jogando esse jogo que parece armado pra gente não ganhar. Porque é preciso ter força, é preciso ter raça. É preciso ter gana, sempre. Mesmo quando viramos perdendo de 3 a 0.

Feliz 2021!