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OPINIÃO

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Quatro chaves para Celtics e Warriors vencerem o Jogo 3 das Finais da NBA

Jaylen Brown e Stephen Curry em jogo entre Boston Celtics e Golden State Warriors pelo jogo 1 das finais da NBA - Ezra Shaw/Getty Images
Jaylen Brown e Stephen Curry em jogo entre Boston Celtics e Golden State Warriors pelo jogo 1 das finais da NBA Imagem: Ezra Shaw/Getty Images

08/06/2022 04h00

Nos dois primeiros jogos das Finais da NBA, Boston fez o que precisava: venceu um jogo fora de casa, roubou mando de quadra, e se colocou em boa posição para o resto da série. Ainda assim, você não imaginaria isso vendo as reações à espetacular vitória dos Warriors no Jogo 2; de repente, parece que as Finais já estão decididas.

Grande parte disso é nossa tendência normal a exagerar a amostras pequenas; eu já escrevi sobre como não podemos ler demais em um jogo só, e assim como o Jogo 1 não foi parâmetro para o que aconteceu no Jogo 2, este também não necessariamente vai ser uma base para os próximos. Ainda assim, Golden State mostrou ajustes e contra-ataques que ajudaram a virar a maré a seu favor, e como ainda não sabemos quais serão as respostas de Boston, temos a tendência de assumir que no momento a vantagem está do lado dos Warriors. Pode ser até que seja verdade, mas não é sábio dizer que é o caso.

Então eu separei aqui cinco fatores que serão decisivos nos próximos jogos - começando pelo Jogo 3 - que podem ajudar a definir quem está com a vantagem de uma vez por todas.

Duelo dos Turnovers

Eu sei que já bati muito nessa tecla nos últimos tempos, mas ela continua a ser fundamental para os Celtics: evitar turnovers. Turnovers são ruins em qualquer contexto: é uma posse de bola que você não tenta um arremesso, você está dando posses extras para o adversário, e ainda corre o risco de oferecer um contra-ataque para o outro time - uma jogada que tem eficiência ofensiva muito acima em relação a jogadas "normais".

Isso é especialmente verdade no caso dos Celtics, um time que tem uma defesa historicamente dominante que tem sufocado times por completo nessa pós temporada... quando está montada e pronta para reagir ao ataque. Turnovers e jogadas de contra-ataque, no entanto, são uma forma de evitar enfrentar a defesa de Boston bem posicionada, conseguindo pontos fáceis e neutralizando a maior força dos Celtics. Para piorar, Boston é um time muito dado a cometer esses erros no ataque, e o impacto nos resultados é evidente: Boston está cometendo insanos 17 turnovers por jogo nas suas derrotas nos playoffs, contra 12 nas vitórias. Na derrota no Jogo 2 das Finais, foram 18. Quando Boston toma conta da bola, ele tende a vencer.

Como Golden State também é um time com um problema de turnovers - nós vimos isso no Jogo 1, quando foram quatro só no último período para ajudar a virada dos Celtics - e essas são duas defesas especialistas em forçar erros dos adversários, esse vai ser um fator crítico para o resto da série. Os Warriors além de Curry estão tendo dificuldade de pontuar, e os Celtics não podem facilitar a vida do adversário oferecendo cestas fáceis.

O que esperar de Klay e Poole?

Nos dois primeiros jogos, a volta às Finais não tem sido muito feliz para Klay Thompson. O armador dos Warriors tem médias de apenas 13 pontos por jogo, arremessando 30% de quadra e 27% nas bolas longas; e, embora não esteja comprometendo na defesa, ele também não tem feito a diferença como no passado (curiosamente, é o outro Splash Brother que está brilhando desse lado da quadra).

Jordan Poole, por sua vez, também tem 13 pontos de média com 38% nos arremessos de quadra, mas seu caso é mais extremo: foram 9 pontos em 2-7 nos arremessos no Jogo 1 com defesa terrível e uma tomada de decisões atroz, que fez dele o pior jogador em quadra; ele seguiu esse desastre 3 pontos em 1-5 no primeiro tempo do Jogo 2 antes de explodir para 14 pontos em 13 minutos no segundo tempo.

Não é à toa que foi justamente nesse segundo tempo - em especial no terceiro quarto, onde Klay e Poole combinaram para 11 pontos e quatro bolas longas - que os Warriors destruíram Boston para definir a partida. A defesa dos Celtics é boa demais, dominante demais para apenas Curry vencer sozinho no ataque; por mais brilhante que o armador esteja sendo, os Warriors precisam que seus outros principais pontuadores apareçam. Curry vai criar espaços e a defesa dos Celtics vai direcionar esforços extras para parar Steph, abrindo espaços - para vencer o título, Poole e Klay vão precisar aproveitar esses espaços e aproveitarem para embalar no ataque.

Arremessos dos Coadjuvantes

Depois do Jogo 1, no qual os Celtics venceram com grande performance nos arremessos e principalmente dos coadjuvantes, Draymond Green enfureceu a torcida dos Celtics ao dizer que essa atuação - e em especial nas bolas longas - não era sustentável, e que tudo que os Warriors precisavam fazer era esperar a volta à normalidade. É possível compreender de onde veio essa reação dos torcedores - afinal, outros fatores que favoreceram Golden State também tendiam a voltar ao normal - mas, de certa forma, Green estava certo: Boston não ia arremessar 53% de três pontos todo jogo, com Derrick White, Marcus Smart e Al Horford em especial combinando para 15 acertos em 23 tentativas (65%).

E, de fato, isso não aconteceu: esses três jogadores combinaram para 2 de 7 nas bolas longas (28%), e tirando White (12 pontos) Boston não recebeu nenhuma ajuda dos seus coadjuvantes ao redor de Tatum e Brown na derrota. Essa atuação desastrosa também é um ponto fora da curva, assim como o oposto foi verdade no Jogo 1, e é de se esperar que no Jogo 3 em diante as estrelas dos Celtics recebam mais ajuda. A questão é: quanta ajuda?

Os Warriors não chegaram ao nível dos Bucks de ignorar Grant Williams (ótimo arremessador!) completamente livre na zona morta e ceder uma tonelada de chutes fáceis, mas Golden State também tem se mostrado confortável dando distância para os arremessadores secundários dos Celtics a fim de congestionar o garrafão e reduzir o espaço de Brown e Tatum. É fundamental, portanto, que esses jogadores castiguem a tática e comandem mais atenção da defesa, por sua vez abrindo o jogo para o resto do ataque.

Os Warriors não tem uma defesa tão física como Bucks e Heat, mas ela é talvez a segunda melhor (depois de Boston) defesa da NBA fazendo rotações e comunicando para evitar erros; Golden State está, portanto, apostando que consegue fechar esses espaços para não ficarem excessivamente grandes, e que fazendo isso eles conseguem contestar os chutes o suficiente para a matemática virar a seu favor.

Como marcar o pick-and-roll dos Warriors

No primeiro tempo do Jogo 1, Steph Curry explodiu para 21 pontos com sua tradicional movimentação sem bola, e nós vimos Boston sofrer com essa mudança de estilo com várias batidas de cabeça e momentos de confusão entre seus defensores. No segundo tempo, no entanto, os Celtics se adaptaram: seus armadores começaram a marcar Curry muito mais de perto, e o time sempre tinha alguém fazendo uma ajuda por cima do corta-luz para evitar os chutes longos. Dessa maneira, o time sufocou Steph e conseguiu manter o ex-MVP apagado.

Mas os Warriors e Steph responderam com estilo no Jogo 2: eles deixaram em segundo plano a movimentação fora da bola de costume e recorreram à jogada mais básica do esporte, o pick-and-roll, colocando a bola na mão de Steph (e Poole) e deixando ele atacar os pivôs de Boston dessa maneira. Os Celtics não tiveram resposta, Golden State destruiu a defesa adversária com chutes longos e infiltrações, e foi o que definiu a partida.

Como Boston se ajuste e responde a isso vai ser decisivo para o título: se os Celtics continuarem recuando os pivôs nessas situações, Curry vai continuar fazendo chover fogo - essa não é uma opção (não colocar Theis em quadra é um bom começo). Mas os Celtics também tem sido reticentes em trocar a marcação com seus pivôs e deixá-los defendendo Steph, o que também é compreensível, só que cria uma questão sem resposta para os Celtics em como defender esse tipo de jogada.

Eu espero ver Boston mais agressivo dobrando sobre Steph para tirar a bola da sua mão, forçando Green e principalmente Looney a jogarem no 4-contra-3 e obrigar os coadjuvantes a decidirem o jogo. É obviamente uma estratégia arriscada e uma contra a qual Golden State sabe jogar bem até demais, mas em certas situações pode ajudar a tirar o ritmo dos Warriors e de Steph. Também vai ser interessante ver se Boston faz a troca antes do pick-and-roll, tirando seu pivô da jogada e colocando dois alas ou dois armadores que evitem favorecer Curry pela falta de velocidade - uma estratégia que também gera espaços e tem seus riscos, mas esses são os dilemas de se enfrentar um talento como Stephen Curry. E, se Boston não encontrar uma resposta para ele, vai ser difícíl chegar ao título.