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OPINIÃO

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Sem Luka Doncic, o Dallas Mavericks corre um sério risco de eliminação

Luka Doncic lamenta perda da medalha de bronze no basquete - Gregory Shamus/Getty Images
Luka Doncic lamenta perda da medalha de bronze no basquete Imagem: Gregory Shamus/Getty Images

18/04/2022 04h00

Quando eu escrevi a prévia da série entre Dallas Mavericks e Utah Jazz pela primeira rodada dos playoffs da NBA, eu mostrei confiança em uma vitória de Dallas sem maiores dificuldades (meu palpite foi Mavericks em 5). E grande parte do motivo era Luka Doncic, o craque esloveno dos Mavericks: Luka não só é um dos melhores jogadores do planeta, mas ele também é uma arma de destruição de um homem só, capaz de quebrar qualquer esquema tático. E Utah, no passado, se mostrou frágil justamente quando forçado a sair da sua zona de conforto e do seu esquema tático. Nesse sentido, enquanto Luka existisse, eu acreditava que Dallas teria uma grande vantagem na série. Só tem um problema: Luka Doncic não está jogando.

O motivo é tão bizarro que parece mentira: no penúltimo jogo da temporada, Luka Doncic recebeu (injustamente) uma falta técnica, sua 16a na temporada, o que configurava uma suspensão automática para o último jogo. Dallas, no entanto, apelou e conseguiu que a NBA rescindisse essa falta técnica, fazendo com que Luka pudesse jogar - muito embora a partida não valesse nada para os Mavericks. E foi nessa partida que Doncic machucou a panturrilha, lesão que o deixou de fora do primeiro jogo dos playoffs e talvez mais.

Quando eu escrevi a prévia da série, ainda não tinha nenhuma informação sobre a situação física de Luka - a expectativa era de que jogasse, sem nada confirmado. Mas sua ausência foi determinante para a vitória do Jazz no primeiro confronto, e com seu status em dúvida para o Jogo 2, de repente Dallas começa a encarar um problema gigantesco.

Eu não preciso te falar, é claro, que um time que perca um jogador do calibre de Luka vai sofrer muito; qualquer equipe do mundo vai sofrer perdendo seu melhor jogador, e isso é duplamente verdade da forma como Dallas joga ao redor do seu astro. Isso tudo é óbvio. Mas o Jogo 1 mostrou que os problemas de Dallas com a ausência de Luka vão muito além da gigantesca perda de talento - dos dois lados da quadra.

O impacto mais claro nesse sentido veio no ataque. Luka é um dos melhores pontuadores e criadores da NBA, um monstro atacando trocas de marcação e batendo qualquer um a partir do drible, e quem inicia a grande maioria dos ataques da equipe. Dallas, hoje, tem mais alternativas a Luka para jogar com a bola nas mãos - o time, inclusive, entrou com Brunson E Dinwiddie juntos de titulares, os dois criadores além do esloveno - mas nenhum dos dois comanda tanta atenção como Luka, nenhum força tanta ajuda, e nenhum é tão eficiente quando precisa criar a partir do drible. Isso é particularmente verdade contra Utah, que é um time com uma identidade extremamente bem definida na defesa: marcar o pick-and-roll sem enviar ajuda, manter a defesa de perímetro apertada, e contar que Rudy Gobert vai impedir cestas no aro - convidando chutes de meia distância. E Dallas, durante a grande maioria da partida, aceitou e entrou no jogo de Utah, dependendo de Jalen Brunson e Dinwiddie acertarem vários floaters ou chutes médios, muitos deles contestados por Gobert.

Não ajudou que Dallas manteve durante a maior parte do tempo um pivô de ofício em quadra (e por vezes até dois pivôs ao mesmo tempo), o que permitia a Gobert permanecer perto do aro e impedir Dallas de chegar ao aro. Sem um esquema tático ofensivo criativo e sem o criador capaz de destruir um esquema defensivo como o de Utah sozinho, Dallas simplesmente não teve resposta.

As melhores chances dos Mavericks na partida vieram justamente quando a equipe conseguiu aproveitar rebotes defensivos para sair em velocidade e pegar a defesa do Jazz desprevinida; foi quando o time conseguiu achar o aro sem Gobert por perto, ou criar caos suficiente no adversário para abrir as bolas de três pontos. Mas é ai que aparece outro problema de Dallas sem Luka: os rebotes. Dallas cedeu 13 rebotes ofensivos para Utah, seis a mais do que pegou no garrafão de ataque; não só essas foram chances extras que Utah teve para pontuar contra uma boa defesa de Dallas, como são oportunidades de contra-ataque que os Mavs precisavam desesperadamente para pontuar. Luka, é claro, fez muita falta nisso também; não só ele é um excelente reboteiro e teria evitado Utah a dominar a batalha dos rebotes, mas ele também é excelente disparando em transição quando pega um rebote de defesa - criando essas chances preciosas contra uma marcação embaralhada.

Então sim, perder um grande jogador sempre vai ser um problema, mas não é apenas Luka individualmente que é a questão; é que sua ausência altera completamente os termos do confronto, com um Dallas limitado em opções se vendo em uma situação onde precisa jogar o jogo como Utah quer, e como o adversário é mais mortal. E, com Luka sendo esperado que perca o Jogo 2 também - pelo menos - agora a pressão está toda do lado de Dallas para encontrar uma forma de se adaptar sem seu craque e tentar puxar o jogo novamente a seu favor, senão sua temporada pode acabar antes do que o esperado.