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OPINIÃO

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Vitor: LeBron, Giannis ou Embiid - quem vai ser o cestinha da NBA em 2022?

LeBron James bate recorde da NBA e alcança 10 mil assistências - Andrew D. Bernstein/NBAE via Getty Images
LeBron James bate recorde da NBA e alcança 10 mil assistências Imagem: Andrew D. Bernstein/NBAE via Getty Images

23/03/2022 04h00

Por mais que eu não ligue para essas marcas arbitrárias, LeBron James novamente fez história essa semana, dessa vez ao ultrapassar o desprezível Karl Malone como segundo maior pontuador da história da temporada regular da NBA. E, junto a uma explosão recente de jogos de 50+ pontos ao redor da NBA, isso trouxe novamente para o centro das discussões a questão dos pontuadores individuais - e foi quando todo mundo se deu conta de que a disputa pelo título de cestinha da temporada 2022 da NBA está extremamente apertada. Pode ser uma disputa apenas simbólica, é claro, mas é uma que os jogadores valorizam consideravelmente, e uma que a história nos ensina que pode dar margem a jogos espetaculares (mais sobre isso em instantes).

O líder da NBA na disputa no momento é LeBron James, que aos TRINTA E SETE ANOS de idade e com 19 temporadas de NBA no corpo ainda está tendo média de 30 pontos por jogo, com excelente eficiência. A discussão do quão surreal isso é vai ficar para outro dia, mas por ora basta saber que ele está na frente... mas não por muito. Logo atrás de LeBron, Giannis Antetokounmpo e Joel Embiid estão empatados com 29,8 pontos por jogo, o que significa que apenas DEZ pontos separam LeBron e Giannis (em terceiro nas casas decimais), e sete pontos separam o Rei de Embiid. Com 11 jogos ainda por disputar para o grego e o camaronês e 10 para James, essa corrida promete ser decidida nos mínimos detalhes nessa reta final.

E, talvez mais interessante, o passado nos mostra que essa disputa pode levar a momentos históricos. Quando acontece de dois ou mais jogadores chegarem tão próximos assim dessa honra estatística, inevitavelmente algum deles explode para uma pontuação inusitada nos jogos finais em uma tentativa de bater recordes.

O mais famoso desses jogos na história recente aconteceu em 1994, cortesia do lendário Almirante, David Robinson. O pivô dos Spurs chegou à última noite da temporada cinco pontos atrás de Shaquille O'Neal na disputa pelo posto de cestinha da temporada, e com os Spurs já classificados e enfrentando os fraquíssimos Los Angeles Clippers, essa era a grande chance de Robinson passar Shaq nas estatísticas. O Almirante jogou 44 minutos naquela noite, e explodiu para SETENTA E UM PONTOS conforme todo o time dos Spurs se juntou a Robinson nesse esforço para atingir a marca.

O esforço de Robinson acabou dando certo; ele elevou sua média de 29,3 para 29,8 pontos com essa partida, ficando na frente de Shaq e conseguindo liderar a liga em pontos por jogo. Mas, apesar do jogo de 71 pontos de Robinson ser o caso mais famoso dessas explosões de pontuação no fim da temporada na disputa pelo cargo de cestinha, ele não é o mais espetacular. Essa honraria vai para a temporada 1978, quando tivemos não uma, mas DUAS marcas históricas na noite final da temporada regular.

Faltando apenas um jogo no calendário, em uma noite que marcaria a aposentadoria de um dos maiores jogadores da história da NBA (John Havlicek), dois ala-armadores rivais chegavam nesse dia com chances de serem o cestinha da NBA: George Gervin, jogador dos Spurs que tinha 26,8 pontos por jogo, e David Thompson, dos Nuggets, com 26,6. E pode apostar - os dois estavam plenamente cientes do quão próximos estavam nessa disputa.

Os Nuggets jogaram primeiro contra o Detroit Pistons, em Detroit, e o técnico de Denver Larry Brown perguntou a Thompson antes do jogo se ele queria jogar para bater Gervin; Skywalker, como Thompsone era conhecido, recusou, dizendo que preferia que as coisas acontecessem naturalmente. De fato, as pessoas que estavam presentes no ginásio (o jogo não foi transmitido pela TV) concordam que Thompson não entrou para forçar arremessos, e que jogou seu jogo de costume. A questão é que Thompson simplmesmente não errou naquele dia: ele começou acertando alguns chutes de meia distância, atacou a cesta, sofreu faltas... o de sempre. Até que, ao final do primeiro quarto, Skywalker se deu conta de que tinha anotado TRINTA E DOIS PONTOS no período, acertando 13 de 14 arremessos no processo - ambas as marcas recordes da história da NBA na época, superando o jogo de 100 pontos de Wilt Chamberlain. Bill Simmons, naquela época um garoto de 9 anos que estava no Boston Garden para a aposentadoria de Havlicek, ainda lembra distintamente de ter visto essa marca (e depois o anúncio de que Thompson tinha 53 pontos no intervalo) e pensado que ele iria superar Wilt.

Acabou não acontecendo, mas Thompson terminou a partida com 73 pontos - suficiente para elevar sua média para 27,2 pontos, à frente de Gervin, e quebrar o recorde da história da NBA para mais pontos de um jogador de perímetro E mais pontos de um jogador não chamado Wilt Chamberlain (marcas quebradas por Kobe Bryant quando anotou 81 pontos em 2006). E detalhe: não existia linha dos três pontos em 1978. Se existisse, é altamente possível que Thompson passasse dos 80 dadas as localizações dos seus arremessos.

Mas Gervin jogava à noite, quando os Spurs enfrentaram o Utah Jazz, e ele jogou sabendo que precisava de 59 pontos para bater Thompson e manter o posto de cestinha da temporada; e Gervin superou essa marca, anotando SESSENTA E TRÊS PONTOS, e quebrando o recorde que Thompson havia estabelecido meras horas antes para mais pontos em um quarto na história da NBA (com 34). A marca também levaria Gervin para 27,2 pontos por jogo, superando Skywalker por meros centesimais no que é até hoje a menor margem de diferença para o quesito em uma temporada na história do basquete.

Com a disputa entre Embiid, LeBron e Giannis prometendo uma nova corrida acirrada, até o ponto final da última noite da temporada regular, será que algum deles vai fazer o David Robinson/George Gervin/David Thompson para conquistar o posto de cestinha da temporada? Eu não sei dizer, mas a história nos indica que é uma boa ideia acompanhar de perto pela chance de vermos a história acontecendo.