Campeões do basquete cobram ajuda do Governo após 'prêmio' ao futebol

A aposentadoria concedida pelo Governo Federal aos campeões do futebol alimenta cobranças da geração dourada do basquete nacional pelos mesmos benefícios. Mesmo descrentes com uma possível ajuda, os jogadores que levaram o Brasil ao bi mundial nas quadras em 1959 e 1963 ressaltam as dificuldades financeiras dos atletas dos esportes olímpicos e pedem o mesmo reconhecimento recebido pelos ídolos dos gramados.

“Não foi feito para o futebol? Por que não todos os campeões mundiais? O Éder Jofre, a Maria Esther Bueno, o Ademar Ferreira da Silva”, cobrou Wlamir Marques, capitão da seleção bicampeã mundial de basquete. “Somos tão poucos. Quem do basquete está vivo? As coisas não estão fáceis para ninguém, não ganhamos dinheiro jogando basquete. Ganhamos trabalhando, dando aulas que nem uns desesperados”. 

Após cinco anos de tramitação, o Governo Federal aprovou o pagamento de aposentadorias aos jogadores de futebol campeões mundiais com a seleção brasileira nas Copas de 1958, 62 e 70. Os ex-atletas cadastrados receberam um prêmio de R$ 100 mil e ainda terão direito a uma aposentadoria mensal de R$ 4.100, sob comprovação de renda.

“Não espero nada do Governo, não acredito que nada vá ser feito nesse sentido. Eles fazem para o futebol porque isso é política”, disse Amaury, escolhido o melhor jogador do Mundial de 1963. “As outras modalidades têm tanto direito quanto o futebol a essa medida. Outros jogadores que já faleceram morreram em situação apertada. A falta de sensibilidade é total”.

Presidente da Associação dos Campeões Mundiais do Futebol, Marcelo Neves revelou ter sido procurado por representantes de outras modalidades em busca dos mesmos benefícios obtidos pelos campeões dos gramados. Filho do ex-goleiro Gilmar, o dirigente se colocou à disposição para ajudar nas tratativas e acredita ser possível conseguir estender a aposentadoria a ídolos de outras modalidades.

“Acho que dá para viabilizar nesse semestre. Depois de todo o noticiário, é o momento propício para aprovar essa situação”, disse Marcelo, que revelou já ter sido procurado por campeões do basquete e por representante da tenista Maria Esther Bueno. “Tem que entender o que cada um está querendo. Também é aquela coisa, depois que se ganha alguma coisa no Brasil, todo mundo quer”.

“A primeira coisa que tem que ser feita é um levantamento exato dos campeões mundiais de outros esportes. Isso é primordial, porque têm títulos e títulos. Tem que ser campeão mundial ou medalhista olímpico de ouro. Estamos falando do campeão, senão fica uma coisa sem objetivo”, concluiu Marcelo.

As reivindicações dos ídolos do basquete, porém, não serão fáceis de serem atendidas. Procurado pelo UOL Esporte, o Ministério do Esporte ressaltou que a lei aprovada pelo Congresso prevê benefício apenas aos campeões mundiais do futebol. Um novo projeto teria que ser criado e colocado em votação para que a aposentadoria se estendesse a atletas de outras modalidades.

Esta não é a primeira vez que os bicampeões mundiais do basquete buscam reconhecimento governamental. Na ocasião das comemorações dos 50 anos do primeiro título, em 2009, foram recebidos pelo então presidente Lula e receberam uma série de promessas que não foram cumpridas.

“O Lula disse que seríamos embaixadores do esporte no Brasil. Depois desse encontro nós voltamos e nunca mais fomos procurados por ninguém”, comentou Wlamir. “Sozinhos não vamos conseguir nada. Tentei fazer isso com o Ubiratan, já falei com um monte de políticos. Mas não tocam isso para frente porque não dá voto. É preciso que imprensa, CBB, COB e outras entidades se unam para levar isso ao ministro do Esporte”.

A perda de popularidade do basquete nos últimos anos e a escassez de registros das grandes conquistas do passado fazem com que a geração dourada do esporte nacional seja pouco conhecida do público. Na tentativa de reverter um pouco este quadro, os remanescentes do título de 1963 iniciaram a produção do documentário ‘Cesta Bicampeã’, que contará a trajetória da seleção brasileira no Mundial disputado no Rio de Janeiro.

“Praticamente já não existem registros e a imprensa ainda é completamente voltada ao futebol, que fica com 90% do espaço”, reclamou Amaury. “Fui incluído no Hall da Fama da Fiba, ao lado da Hortência e do Kanela, e saiu uma notinha de quatro linhas. Na mesma página, metade do espaço era de um jogador do Palmeiras que não poderia treinar porque estava machucado”.