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Bolsonaro resiste a marqueteiros para dar protagonismo a Carlos

Hanrrikson de Andrade

Do UOL, em Brasília

21/02/2022 04h00Atualizada em 21/02/2022 10h58

O presidente Jair Bolsonaro (PL) tem manifestado resistência à possibilidade de nomear um marqueteiro oficial para a corrida eleitoral de 2022. Pelo menos três nomes foram cotados e apresentados ao pré-candidato à reeleição, mas descartados provisoriamente. A relutância tem motivo: dar protagonismo ao filho "02", Carlos Bolsonaro, sobretudo na condução das redes sociais.

Bolsonaro diz ter total confiança na atuação do vereador carioca pelo Republicanos, acostumado a gerenciar as mídias digitais do pai desde a vitoriosa empreitada em 2018. De acordo com o desenho original da chapa, caberia a Carlos a formulação de estratégias, linguagens e, sobretudo, os alvos em potencial --como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o ex-juiz Sergio Moro, que deve concorrer pelo Podemos.

A internet é um terreno fundamental para os bolsonaristas, e o patriarca não abre mão de fomentar, na esfera digital, o engajamento de sua base. Na visão dele, pavimentar esse caminho garantiria, no mínimo, a ida ao segundo turno.

Além do Twitter e do Facebook, os dois canais preferenciais, Bolsonaro aposta alto no compartilhamento de conteúdo via Telegram —aplicativo russo que tem pouca moderação e estrutura propícia à disseminação de fake news, mensagens de ódio e informações distorcidas. O app está na mira do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

Mas há ainda um segundo fator. Segundo avaliações de aliados ouvidos pelo UOL, o pleiteante à reeleição quer ter máxima liberdade para definir os rumos da candidatura, o que o levaria a rejeitar a ideia de ter uma espécie de "gerente da campanha", conforme termos utilizados por interlocutores do Planalto.

Bolsonaro teria dito que não quer repetir a experiência de 2018, quando a campanha foi administrada e operacionalizada pelo advogado Gustavo Bebianno —nomeado posteriormente ministro da Secretaria-Geral da Presidência e, quase dois meses depois da posse, demitido em razão de brigas com Carlos Bolsonaro.

Bebianno - Fátima Meira/Futura Press/Folhapress - Fátima Meira/Futura Press/Folhapress
Após coordenar campanha, Bebianno brigou com o presidente e se filiou ao PSDB. Ele morreu em março de 2020
Imagem: Fátima Meira/Futura Press/Folhapress

À época, embora a última palavra fosse prerrogativa de Jair Bolsonaro, Bebianno tinha poder para ditar o ritmo da campanha, delegar tarefas e construir pontes entre o então candidato e setores como a imprensa, empresários e outros.

Para 2022, Bolsonaro sinalizou ao PL que pode consentir com a contratação de um profissional de marketing, porém este atuaria mais como um conselheiro, sem poder decisório. Uma das áreas de atuação seria a formulação de materiais para a TV, território no qual o partido entende que há uma lacuna a ser preenchida.

PL quer profissionalizar a campanha

Lideranças do PL têm se revezado na tentativa de convencer o presidente a escolher um marqueteiro de modo a profissionalizar a campanha. Em geral, o objetivo seria tentar ampliar o alcance de votos da chapa encabeçada por Bolsonaro, que, segundo projeções iniciais e pesquisas realizadas até o momento, esbarra em um teto percentual e estaria em desvantagem na disputa com o ex-presidente Lula.

Entre os três nomes que foram cotados recentemente, o do publicitário Duda Lima, que trabalha há mais de uma década com Valdemar Costa Neto (cacique do PL), é o que mais agrada os auxiliares próximos ao presidente da República. Também já estiveram no páreo os publicitários Paulo Moura e Paulo Gonçalves.

Polarização

Nos bastidores, Bolsonaro nunca escondeu ter sentimento de gratidão pelo trabalho desempenhado por Carlos em 2018 —e que continuou durante a execução do mandato presidencial, na condição de líder do chamado "gabinete do ódio".

Por esse motivo, explicam aliados ouvidos pelo UOL, o presidente não desistirá de garantir protagonismo ao filho. Quem também deve ser atuante na campanha é o filho mais velho, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), com a missão de construir pontes dentro do Congresso.

A atuação de Carlos se destaca principalmente em um cenário político cada vez mais polarizado à medida que a eleição se aproxima. Recentemente, por exemplo, o "gabinete do ódio" começou a investir em mais uma estratégia para acirrar os ânimos e manter o engajamento da base: relembrar o atentado a faca do qual o então candidato foi alvo em 6 de setembro de 2018.

Com ajuda dos bolsonaristas nas redes sociais, o episódio voltou a ecoar com boatos de que, em novo depoimento à Polícia Federal, o autor do crime, Adélio Bispo, teria citado um partido de oposição como mandante da facada. Segundo apuração do UOL, a informação é falsa, e não houve esse depoimento. A PF afirma que os inquéritos já concluídos sobre o caso mostram que Adélio agiu sozinho.

Bolsonaro pegou carona na reverberação da notícia falsa e, na manhã de 14 de fevereiro, postou um vídeo do momento em que acordou da cirurgia pela qual passou após o atentado.

A fake news que cita falso depoimento de Adélio também foi vinculada por militantes a um comentário do presidente, feito em conversa com apoiadores no cercadinho do Palácio da Alvorada, em Brasília. Dias antes, Bolsonaro afirmou que "acreditava em Deus" e que, "nos próximos dias", aconteceria "algo que vai nos salvar [do PT e da esquerda] no Brasil".

No dia seguinte, Carlos publicou no Twitter e em seu canal no Telegram que "a tentativa de assassinato de Bolsonaro" foi "cometida por antigo membro de aliado do PT [lembrando que Adélio foi filiado ao PSOL antes de cometer o crime; segundo a polícia, não há relação entre os fatos]". A mensagem foi postada originalmente em resposta a uma seguidora.

Posteriormente, o vereador no Rio de Janeiro voltou a abordar o tema, mais uma vez relacionando o episódio ao partido rival.