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Como a filha de Bob Marley salvou o futebol feminino da Jamaica

Cedella, filha de Bob Marley, com jogadora Khadija Bunny Shaw, da Jamaica - Reprodução/Instagram
Cedella, filha de Bob Marley, com jogadora Khadija Bunny Shaw, da Jamaica Imagem: Reprodução/Instagram

Caê Vasconcelos

Colaboração para Ecoa, de São Paulo (SP)

02/08/2023 06h00

Essa é apenas a segunda edição de Copa do Mundo que a adversária de hoje do Brasil, a Jamaica, encara.O time viveu por anos uma história dramática, chegando até a não figurar no ranking da Fifa por falta de atividade. Entre 2010 e 2014 o país simplesmente não tinha uma seleção de futebol feminino.

Mas hoje se você pode assistir a Jamaica na Copa do Mundo, precisa saber que uma mulher está por trás disso: Cedella Marley, filha de nada mais nada menos que Bob Marley.

Hoje aos 55 anos, Cedella é muito conhecida na moda e na música, mas o que pouca gente sabe é que ela é a responsável por salvar o futebol feminino na Jamaica.

Sua "estreia" no mundo esportivo, no entanto, aconteceu quando ela desenhou pela primeira vez o uniforne usado por seu compatriota Usain Bolt nas Olimpíadas de 2012, de Londres.

Amor de Bob Marley pelo futebol virou herança

Dois anos depois, Cedella faria história mais uma vez. Dessa vez no futebol. O amor pelo futebol sempre esteve em sua vida, já que Bob Marley era apaixonado pelo esporte.

Como o rei do reggae dizia: "futebol é parte de mim. Quando eu jogo, o mundo acorda ao meu redor". Assim, não teve outro jeito: passou o sentimento para os filhos.

Bob Marley jogando futebol - Reprodução - Reprodução
Bob Marley jogando futebol
Imagem: Reprodução

O futebol feminino havia surgido na Jamaica em 1991, quando as "Reggae Girlz", como são chamadas, fizeram seu primeiro amistoso internacional — uma derrota de 1 a 0 para o Haiti. Mas, em 2008, a Federação de Futebol da Jamaica encerrou as atividades do elenco feminino por falta de patrocínio e de dinheiro. Na época da desativação, a Jamaica ocupava o posto 128 no ranking da Fifa.

A própria Cedella Marley não sabia que existia um time feminino no seu país. Até que em 2014 seu filho mais novo, Skip, chegou em casa com um panfleto escrito "Apoie as Reggae Girlz". O panfleto era do técnico de futebol de Skip e pedia aos pais que pensassem em doar dinheiro para reviver o futebol feminino da Jamaica.

Curiosa, Cedella decidiu ir atrás para saber mais sobre o assunto. Ela procurou a federação jamaicana e perguntou o que eles precisavam para reativar o elenco feminino.

"Era realmente injusto que as meninas estavam sendo tratadas desse jeito apenas porque algumas pessoas acreditam que o futebol é um jogo só de homens", Cedella em entrevista ao Washington Post.

As necessidades do time feminino da Jamaica, então, iam de viagens e alimentação a alojamento e campos de treinamento.

Para arrecadar o dinheiro inicial, Cedella usou seu talento na música e reuniu seus irmãos, Damien e Steve, para gravar a música "Strike Hard".

Ela também colocou a Fundação Bob Marley como patrocinadora master do time.

Cedella também criou a iniciativa "Football is Freedom" ("Futebol é Liberdade", em tradução livre), para apoiar o desenvolvimento e a expansão do futebol feminino em todos os níveis. O que nasceu para ser um projeto, se tornou um movimento de valorização do futebol feminino no país.

Era a volta do futebol feminino na Jamaica.

Allyson Swaby vibra com o gol da Jamaica diante do Panamá - Alex Grimm/FIFA via Getty Images - Alex Grimm/FIFA via Getty Images
Allyson Swaby vibra com o gol da Jamaica diante do Panamá
Imagem: Alex Grimm/FIFA via Getty Images

Jamaica: primeiro país caribenho a jogar uma Copa do Mundo Feminina

Poucos anos depois, em 2019, a Jamaica se tornava o primeiro país caribenho a jogar uma Copa do Mundo Feminina. O primeiro jogo foi contra o Brasil. Uma derrota de 3x0.

No segundo, uma goleada para a Itália. No terceiro, mais uma goleada, dessa vez para a Austrália, mas as "Reggae Girlz" marcaram naquela partida o primeiro gol de uma seleção caribenha na história da Copa do Mundo feminina.

Com a continuação da valorização do futebol, a Jamaica se classificou para mais uma Copa, a deste ano. Dessa vez, decidiram fazer mais história. De novo no mesmo grupo do Brasil.

O primeiro jogo foi contra a França e a Jamaica conseguiu manter o empate sem gols. No segundo jogo, a primeira vitória da história jamaicana na Copa: 1x0 contra o Panamá.

Cedella comemorou os dois jogos. Atualmente a seleção jamaicana ocupa a 43ª posição no ranking da Fifa.

"Parabéns Reggae Girlz. Mais uma vez desafiando as probabilidades e fazendo história ao segurar um time de ponta no empate. O mundo inteiro está torcendo por vocês. O primeiro ponto da Jamaica na Copa do Mundo Feminina da Fifa", escreveu depois do primeiro jogo.

"História feita mais uma vez pois acabaram de vencer sua primeira partida da Copa do Mundo Feminina", disse no segundo jogo.

Ajuda de vaquinha para jogar a Copa do Mundo

Mesmo com a ajuda de Cedella, até mesmo para ir para esta edição da Copa do Mundo, o time da Jamaica ainda carecia de mais apoio. As jogadoras precisaram pagar suas próprias malas e infelizmente não para por aí: antes do Mundial a mãe da meio-campista Havana Solaun abriu uma vaquinha online para custear a viagem do time.

At'e agora, US$ 52 mil foram arrecadados. A meta é de US$ 100 mil. Ainda é possível realizar doações aqui.

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