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Professora cria princesa preta para ensinar alunos sobre inclusão em MS

Andréia usa forma lúdica para levar pautas sociais importantes aos alunos do Ensino Infantil - Semed/Divulgação
Andréia usa forma lúdica para levar pautas sociais importantes aos alunos do Ensino Infantil Imagem: Semed/Divulgação

Ed Rodrigues

Colaboração para Ecoa, no Recife

19/09/2022 06h00

A professora do ensino infantil Andréia Souza Cássio usa uma forma lúdica para levar pautas sociais importantes aos alunos de um colégio de Campo Grande, em Mato Grosso do Sul. Vestida de princesa e levando com ela uma boneca, a educadora aborda a inclusão de maneira simples, compreensível e na linguagem dos pequenos.

A intenção da ação é mostrar para as crianças que é normal ser diferente e estimular o respeito às individualidades. A Ecoa, a educadora explica que as personagens foram pensadas especialmente para a educação infantil, crianças de 0 a 6 anos, mas que ela também leva a discursão ao ensino fundamental.

"Nada mais propício do que usar de imagem que conduz o olhar atento das crianças. A boneca é a parte imagética do brinquedo, pois na composição da brincadeira o olhar de cuidado, carinho e reconhecimento de si mesmo passa pela imagem em transposição da boneca. A criança aprende que a boneca precisa de cuidados, carinho, assim como as pessoas ao seu redor", diz.

Além das apresentações para os pequenos, a professora faz palestras para os professores e bate-papo com adolescentes, abordando a temática da cultura étnico racial. A abordagem, detalha Andréia, começa com uma história na qual ela apresenta a boneca. Ela se caracteriza, vira a "Preta Princesa" e inicia um diálogo com a boneca Nina.

"Conversamos sobre como é onde eu moro, conto que sou filha de mãe solo, que gosto de cantar... Aí vou introduzindo cantigas populares. Digo que gosto de dançar, estudar... É a minha história mesmo, com a intenção de que as crianças tenham um olhar de representatividade e que saibam que podemos fazer e sermos o que quisermos, seja princesa, heroína, professora, cuidadora, etc", diz Andréa.

E continua: "E isso cabe aos meninos também, pois quando escutam essas falas ficam com os olhinhos atentos ao discurso. Todos precisam de práticas urgentes, tanto sobre a questão racial quanto de gênero", ressalta.

Andréia Souza Cássio se veste de princesa para dar aula para crianças de 0 a 6 anos - Diogo Ajala/Semed - Diogo Ajala/Semed
Andréia Souza Cássio se veste de princesa para dar aula para crianças de 0 a 6 anos
Imagem: Diogo Ajala/Semed

Um mundo de descobertas

As crianças receberam a interação de maneira positiva. Segundo a professora, elas estão sempre abertas para ingressarem em um mundo das descobertas. Para a educadora, os adultos que precisam saber mediar o entendimento que eles têm sobre a sociedade em geral, uma vez que, geralmente, a criança tem um olhar puro sobre as coisas.

"É a educação conduz os alunos às necessidades reais da sociedade. Então, com a educação é que a gente faz esse parâmetro mostrando as diferenças, essa mediação para que eles entendam como é que nós olhamos a sociedade em geral. Na família, existem alguns estereótipos que conduzem essa formação e o professor auxilia nessa condução dos saberes e aprendizagens em parceria com a família, mostrando como devemos elaborar esses conhecimentos necessários a eles. Com respeito, autonomia e ética", destaca.

A intenção da atividade, continua a educadora, é trabalhar a empatia e o acolhimento às diferenças sem deixar de conduzir o trabalho nas especificidades de cada um. Andréia lembra que as crianças têm, por vezes, comportamentos discriminatórios sem ter noção do real significado do ato.

"São expressões como 'sua cor ou cabelo é feio'; 'não gosto da sua cor'; 'minha mãe não quer que eu brinque com você; 'sua cor é suja'; 'não brinco com meninas'; 'você não pode ser princesa'. Temos conhecimento de que essas falas são ditas por adultos e reproduzidas pelas crianças no convívio da escola, e é nesse momento que cabe a nós intervir com o maior cuidado e zelo, para ressignificar essas ações que não queremos para nossos alunos e na convivência em sociedade."

Para Andréia, 'é a educação que conduz os alunos às necessidades reais da sociedade' - Semed/Divulgação  - Semed/Divulgação
Para Andréia, 'é a educação que conduz os alunos às necessidades reais da sociedade'
Imagem: Semed/Divulgação

Construindo identidade

O trabalho ocorre na Emei (Escola Municipal de Educação Infantil) Ivone Calarge Zahran. Maria Aparecida de Oliveira, diretora da unidade de ensino, destaca que as atividades da professora Andréia fazem parte do Projeto Político Pedagógico da escola. O tema, aponta a gestora, é desenvolvido na infância com o objetivo de construir a identidade da criança, aprendendo a respeitar a si mesma e ao outro, independentemente de raça.

"Ela começou a desenvolver o projeto há pouco tempo. No entanto, as crianças estão encantadas. Temos certeza de que essa experiência será positiva. Elas participam da história, interagem com a professora e relatam até experiências. A escola sempre desenvolve projetos de acordo com a realidade cultural da comunidade", diz.