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Brasil aumenta coleta seletiva; especialistas apontam efeito do desemprego

Rodrigo Bertolotto

De Ecoa, em São Paulo

21/05/2020 17h26

Nos EUA, Itália e outros países, as emissões de gases do efeito estufa relacionadas a produção de resíduos aumentaram durante o período de pandemia. Mas no Brasil — onde, por outro lado, as emissões relacionadas ao desmatamento seguem crescendo —, elas diminuíram. A conclusão foi de estudo sobre o impacto da Covid-19 no aquecimento global capitaneado pela rede de entidades Observatório do Clima.

Os especialistas apontaram algumas razões para isso. A primeira tem a ver com o desemprego por conta da freada econômica, que pode ter aumentado a quantidade de gente coletando lixo reciclável para conseguir renda — enquanto as pessoas em quarentena estão lidando com uma produção maior de resíduos em casa, inclusive pedindo mais refeição pronta nos serviços de delivery, o que gera alto descarte de embalagens.

A segunda diz respeito ao nível de comparação: a porcentagem de reciclagem de lixo é tão pequena no Brasil que qualquer mudança de padrão se torna "significativa". Na primeira quinzena de abril, houve um aumento de 25% da coleta seletiva, segundo dado da prefeitura de São Paulo, por meio da Autoridade Municipal de Limpeza Urbana (Amlurb).

"Até na observação pessoal vejo isso. Aqui na minha rua vinha só um coletor. Agora ele tem vários concorrentes", conta Tasso de Azevedo, coordenador do estudo que foi apresentado.

Azevedo e a equipe Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa do Brasil participaram de um webinar com transmissão ao vivo pelo UOL nesta quinta. Ele falaram sobre os efeitos da Covid-19 nas mudanças climáticas, em uma parceria de Ecoa com o Pacto Global, iniciativa da ONU para engajar organizações e empresas em questões sociais e de sustentabilidade.

A principal conclusão do estudo apontou que o Brasil, na contramão mundial, vai aumentar em 2020 sua emissão de gases do efeito estufa, aqueles que aceleram o processo de aquecimento global que ameaça mudar o clima do planeta nas próximas décadas.

Enquanto o mundo deve ter uma redução de 6% das emissões, por conta da menor queima de combustíveis fósseis na geração de energia, indústria e transporte em decorrente do isolamento social para frear a disseminação do vírus, o Brasil vai aumentar porque o desmatamento só cresce no Brasil e já bateu recorde durante a pandemia. No país, o uso da terra é responsável por 44% das emissões.

O estudo foi elaborado pelo Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa do Brasil, uma iniciativa da rede Observatório do Clima que calcula anualmente as emissões e remoções desses gases de todos os setores da economia brasileira.