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'Água' é tema central do primeiro dia de seminário em SP

Felipe Ribenboim e Alex Atala, idealizadores do seminário FRU.TO - André Giorgi/UOL
Felipe Ribenboim e Alex Atala, idealizadores do seminário FRU.TO Imagem: André Giorgi/UOL

Rômulo Cabrera

De Ecoa, em São Paulo

25/01/2020 04h00

O teatro do Unibes Cultural, na região central de São Paulo, recebeu ontem (24) o seminário "FRU.TO: Diálogos do Alimento". Idealizado pelo chef Alex Atala em parceria com o pesquisador e produtor Felipe Ribenboim, o evento chega à sua terceira edição e tem a água como um dos temas centrais das palestras.

"O FRU.TO não fala a verdade, mas abre espaço para a sua verdade", brincou Atala, em fala que abriu o seminário. "O que buscamos aqui, por meio do seminário, é a experiência do diálogo."

O diálogo entre a ciência e o alimento, aliás, foi o fio condutor das falas logo pela manhã. O estadunidense Bill Schindler iniciou o ciclo de palestras, seguido do espanhol Toni Massanés, e dos brasileiros Jorge Ferreira e Marcelo Sulzbacher — pesquisadores de plantas alimentícias e macrofungos comestíveis.

Em seguida, Larissa Bombardi, pesquisadora e professora do Departamento de Geografia da USP, alertou sobre a problemática do uso de agrotóxicos no Brasil.

"O país é o maior consumidor de agrotóxicos no mundo. Entre 2007 e 2014, o país contabilizou 1,1 mil mortes em decorrência do consumo dessas substâncias", conta, citando dados do Atlas Geográfico de Uso de Agrotóxicos no Brasil.

Para a pesquisadora, é preciso repensar a maneira como lidamos com a produção dos alimentos no país. "A soberania e a potência de transformação de uma sociedade — acredite — começa pela boca", disse, parafraseando o escritor uruguaio Eduardo Galeano.

No início da tarde, os debates se concentraram na questão da água, tema central desta edição. Passaram pelo palco Benedito Braga, presidente da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo), o argentino Pablo Vagliente, da Fundação Avine, e o jornalista brasileiro Sérgio Túlio Caldas — autor do livro "Água: precisamos falar sobre isso".

"Mesmo com a riqueza de água potável que temos (cerca de 12% de toda água doce do planeta), tratamos muito mal esse recurso no país", disse. Em sua fala, Sérgio buscou apresentar um panorama global da situação hídrica atual.

"Isso não é um exercício de futurologia. Os recursos naturais, em especial a água, irão se esgotar. Temos que pensar no planeta agora", alertou o jornalista.

Finalizaram o primeiro dia de palestras os brasileiros Milton Antonio da Matta, Eduardo Malta, e Alexandre Pires.

Ainda no contexto hídrico, Pires, que fechou a série de palestras neste primeiro dia, apresentou o programa Cisternas, da rede Asa, entidade que levou mais de 1 milhão de cisternas ao semiárido brasileiro. O projeto, financiado pelo governo federal desde 2003, tem por objetivo promover o acesso à água para consumo e produção de alimentos por meio da agricultura familiar.

"O semiárido brasileiro é uma região que, há muito tempo, viu negada o seu direito de acesso a água. O projeto de cisternas nada mais faz do que valorizar os saberes dos camponeses e camponesas daquela região, além de fortalecer essa ideia de convivência com a própria terra", conta. "Água é também um alimento."

ECOA transmitirá neste sábado as palestras do seminário FRU.TO a partir das 9h (horário de Brasília).