Tony Marlon

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Opinião

Por que o Cristo Redentor vestiu a camisa do Vasco na noite de ontem?

Ontem, o Flamengo venceu o Campeonato Carioca pela trigésima oitava vez. Segue tudo normal no futebol do Rio de Janeiro.

Outra vitória bonita foi a que o Vasco da Gama deu ao país 100 anos atrás, neste mesmo dia, quando enfrentou o racismo e o preconceito de classe, ajudando a transformar o esporte brasileiro. Conhecida como Resposta Histórica, o 7 de abril foi lembrado até pelo Cristo Redentor na noite de ontem.

No primeiro ano em que clube cruzmaltino alcançou a elite do futebol masculino carioca, em 1923, os Camisas Negras, como ficaram conhecidos, se tornaram campeões com uma campanha inesquecível, bem parecida com a do campeão deste ano: apenas uma derrota. E isso incomodou muita gente, conta a história.

Aquelas faixas que vemos na torcida do Vasco, de "o legítimo clube do povo" começam por aqui. É que, diferente dos outros clubes da cidade, que eram formados em sua grande maioria por jogadores brancos e de classe alta da zona sul carioca, o Vasco contava com times de trabalhadores e, em sua maioria, pessoas negras do subúrbio. Naqueles tempos, a prática do futebol ainda tinha um forte recorte de raça e classe.

Ao fim do campeonato, os considerados grandes da época decidiram abandonar a Liga Metropolitana, que organizava os jogos até então, e fundaram a Associação Metropolitana dos Esportes Athleticos (Amea).

A nova entidade trouxe para o estatuto a proibição de jogadores que não fossem alfabetizados ou que não possuíssem ocupação profissional definida. Para ficar em apenas dois exemplos da natureza excludente das novas cláusulas de associação.

Ou seja, para fazer parte da nova entidade, e poder jogar o campeonato de 1924, o Vasco precisava dispensar nada mais, nada menos, que 12 dos seus jogadores. Na prática, desmontar o seu time. Na prática, praticamente deixaria de existir.

Resposta Histórica é como é chamada a carta feita pelo clube de São Januário e como é lembrado o 7 de abril, quando o então presidente José Augusto Prestes se recusou a dispensar quem quer que seja para se fazer caber na Amea.

O posicionamento do Vasco entrou para a história pela determinação com que a instituição enfrentou a exclusão dos empobrecidos, das pessoas trabalhadoras e das pessoas negras na participação da vida social e cultural do país.

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Naquele ano, o Vasco se juntou a outros times populares em um campeonato, enquanto os outros clubes da zona sul da cidade seguiram com a Amea. Em 1924 portanto, houve dois campeões no Rio de Janeiro.

A coragem do clube de São Januário trouxe a luta contra o racismo e o preconceito de classe definitivamente para o debate no mundo do futebol e ajudou a transformar as regras do esporte em todo o país. Para 1925, as cláusulas excludentes caíram uma a uma e aconteceu um só campeonato.

A atitude do Vasco fez mais, atravessando o tema na vida da sociedade brasileira como um todo. O futebol que até ali era para poucos começou a ver as suas barreiras e preconceitos caírem, uma a uma, ao longo dos anos.

Se hoje qualquer criança pode cultivar o sonho de ser uma jogadora e, algumas conseguem alcançar este sonho, isso tem muito da contribuição de clubes como o Bangu, Ponte Preta e o Vasco da Gama, que na hora certa da história souberam escolher o lado certo da história. Um século depois e estamos aqui lembrando aquele dia.

Definitivamente, nunca é só futebol.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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