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Tony Marlon

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Como entender o sistema político brasileiro? Dois jogos ensinam e divertem

Esplanada dos Ministérios e Congresso Nacional, em Brasília - Ricardo Moraes
Esplanada dos Ministérios e Congresso Nacional, em Brasília Imagem: Ricardo Moraes

01/07/2022 06h00

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Nunca foi tão necessário cultivar uma sociedade que saiba como funciona o Estado brasileiro e o seu processo político. Ironicamente, nunca estivemos mais longe de termos nos espaços de poder e decisão pessoas interessadas em fazer isso acontecer. Ironia não é bem a palavra.

A falta de uma educação política séria, ao menos de alguma política pública nessa direção, é um projeto bem elaborado. Não uma coincidência. São poucas, bem poucas, as lideranças públicas que têm interesse verdadeiro em explicar as estruturas, os códigos e os processos das instituições. Sentados no poder, assim, no masculino mesmo, a maioria escolheu o contrário disso: quanto menos souberem, mais sobra espaço para mim.

Não temos muitas oportunidades para aprender a diferença entre o que faz uma senadora e um deputado federal, por exemplo. Sabendo melhor disso, talvez repensássemos nossas escolhas atuais. Beirando o período eleitoral, como agora, é comum que candidatos joguem com essa falta de formação, e informação, para reivindicar poderes que o cargo que busca simplesmente não tem. Alguns de absoluta má-fé, outros por também não saberem nada sobre aquilo.

Duas experiências de educação política me inspiram e dão esperança de que as coisas, um dia, serão melhores que hoje. Ambas escolheram a ludicidade para conversar com as juventudes.

A primeira nasceu em 2015. Defendendo que é preciso entender as regras para conseguir transformar o jogo, a Fast Food da Política brotou no coração das manifestações que ocuparam o país em 2015. Os primeiros jogos, que ainda eram protótipos, foram testados durante uma manifestação em Brasília. Ali, Julia Carvalho entendeu o poder que aquilo tinha. Gosto, em especial, do que ela sempre diz e que aparece no site delas: "Trabalhamos com a gamificação de informações públicas, as quais acreditamos não poder ter seu acesso restringido". As soluções estão aí, falta interesse e vontade.

A Fast Food da Política trabalha com quatro linhas de jogos, que podem ser baixados gratuitamente aqui. Tem para todos os gostos, para serem usados em diversos contextos, com os mais diferentes públicos. Já que outubro bate à porta, recomendo os que explicam o funcionamento do processo eleitoral.

O segundo projeto nasceu como uma resposta à pesquisa Sonho Brasileiro da Política, de 2014. Durante as entrevistas, ficou forte uma demanda por entender mais e melhor sobre os três poderes que regem e organizam a vida no Brasil. A Énois e o LabHacker trouxeram ao mundo três anos depois O Jogo da Política. Apostando na gamificação, o projeto convida as participantes a sentirem na pele o quanto o sistema político brasileiro é complexo. Quem joga, assume papéis de um vereador, prefeito ou juiz, trilham caminhos com seus personagens. O jogo pode ser baixado gratuitamente aqui.

Contei dois exemplos, existem dezenas por aí. São pessoas e grupos que estão construindo soluções criativas e convidativas que deixam tudo um pouco menos difícil, um pouco mais acessível, de uma maneira que a gente do lado de cá consegue entender. Às vezes, brincando. Poucas coisas são tão urgentes quanto sabermos como o jogo é jogado. E transformá-lo de uma maneira que, pelo menos por uma vez, a população vença.