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Tony Marlon

E existe uma imprensa negra?

Tony Marlon

11/07/2020 04h00

Foi dessa maneira que eu respondi a uma amiga, anos atrás, quando ela me convidou para um fim de semana de mergulho na história dos homens e das mulheres que construíram os meios de comunicação deste país.

Até ali eu sempre acreditei que a comunicação brasileira nasceu com os clássicos. O que eu não entendia, naquele momento, é que, sendo uma pessoa branca, meus clássicos não são automaticamente os clássicos de todo mundo.

A branquitude tem mesmo essa mania de universalização de si. De acreditar que tudo que ela cria, consome ou reconhece como símbolo é o que é a vida, de fato. E que o restante é o outro a ser estudado, conquistado ou, simplesmente, ignorado.

Segundo Ruth Frankenberg, branquitude é "um lugar estrutural de onde o sujeito branco vê os outros, e a si mesmo. Uma posição de poder, um lugar confortável do qual se pode atribuir ao outro aquilo que não se atribui a si mesmo". Tem mais, vale continuar a pesquisa por aí.

Não tenho nenhuma memória dos tempos da faculdade, ou de grupos de estudos que participei, de alguém me contando sobre "O homem de cor", fundado no Rio de Janeiro, em 1833, por exemplo. Ou "O Quilombo", de dezembro de 1948.

A história da imprensa brasileira brotava nas rodas de conversa, nas salas de aula, quase sempre com a TV Tupi, 1950, ou a TV Globo, em 1965. Pouco sobre Abdias Nascimento, sempre Assis Chateaubriand.

Também escutei algumas vezes sobre 1928, ano em que nasceu a Revista Cruzeiro. Mas sobre 1833 nenhuma palavra, até aquele fim de semana. Não fossem os professores Dennis de Oliveira, Juarez Xavier, Bianca Santana e tantos outros e outras, eu ainda pouco saberia sobre essa parte da história que também é a História.

Faz alguns dias, o jornalista Juca Guimarães fez uma importante e necessária reportagem recontando a história da imprensa negra brasileira, dando nomes, datas, rostos para quem, também, construiu a imprensa neste país, mas ainda é pouco contada por ela mesma.

Estamos em um ótimo momento para as faculdades de comunicação reverem seu currículo e não deixarem com que, daqui a quatro anos, saiam de lá comunicadores e comunicadoras que precisem de um fim de semana para conhecerem o que deveria ter sido ensinado em quatro anos. E até antes disso.