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OPINIÃO

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Ataque em escola: Policial no colégio não é solução para evitar tragédia

Policiais em frente à escola Thomázia Montoro na Vila Sônia, na zona oeste de São Paulo - ALOISIO MAURICIO/FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDO
Policiais em frente à escola Thomázia Montoro na Vila Sônia, na zona oeste de São Paulo Imagem: ALOISIO MAURICIO/FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDO

Helena Singer*

28/03/2023 11h27

A semana iniciou com a terrível notícia de que uma criança de 13 anos assassinou a facadas sua professora e feriu outras quatro pessoas em sua escola. É tudo muito recente, há muito a ser apurado para que se consiga efetivamente compreender o que aconteceu.

No entanto, o governador do estado de São Paulo, que administra a rede a qual pertence a escola onde a tragédia aconteceu, já se antecipou dizendo que estuda colocar um policial em cada escola, fazendo uso de agentes da reserva. Difícil entender o que um policial faria neste caso, já que o estudante era aluno regular da escola e atingiu a professora de surpresa, pelas costas, na sala de aula.

As informações que já circulam indicam que o estudante veio transferido havia poucos dias de outra escola estadual, por apresentar comportamento inadequado. Informa-se que há, inclusive, um boletim de ocorrência feito por um funcionário da escola em que se afirma o comportamento violento do menino. Já na escola nova, o garoto parece ter se desentendido com um colega, contra o qual teria proferido ataques racistas, e que a professora que acabou assassinada teria intervindo no conflito. Nas redes sociais e também nas roupas que usava no dia do ataque, o menino fazia referências a outros ataques realizados por estudantes nos últimos anos no país.

O certo é que não podemos considerar este caso de forma descontextualizada. O contexto em que esses meninos cresceram é marcado por dois grandes acontecimentos: o primeiro, uma pandemia que transformou radicalmente o nosso modo de viver durante dois anos, o segundo, o crescimento acentuado das forças políticas de extrema-direita, que promovem o ódio e a violência.

O modo como estes dois eventos impactaram a educação é o que precisamos compreender para buscar caminhos que evitem novas tragédias. Em relação à pandemia, quando as escolas finalmente retomaram o presencial, isso se fez, em muitos lugares, sobre as bases da velha escola, com suas salas de aula, provas e séries.

Aos poucos as escolas foram recebendo a totalidade dos estudantes, mas, ao invés de priorizar o acolhimento e a construção coletiva de novas formas de organizar tempos, espaços, grupos e relações, muitas redes, com a de São Paulo, priorizaram a volta à velha escola e as avaliações externas para "diagnosticar as perdas da aprendizagem". O resultado de tudo isso foi o aumento intenso dos episódios de violência escolar e de adoecimentos entre estudantes e professores.

Foi neste contexto que o menino em questão foi percebido como violento, seu comportamento foi registrado em boletim de ocorrência e, finalmente, ele foi transferido para outra escola.

Em relação ao crescimento da extrema-direita na educação, este já remonta uma década, quando o Movimento Escola Sem Partido se revelou para avançar sua agenda conservadora para a educação brasileira, articulando uma visão ultraliberal com fundamentalismo religioso. A ascensão do movimento se fez na aliança com políticos ligados à agenda armamentista e ambos os lados se fortaleceram na oposição violenta a toda manifestação pelos direitos humanos e suas pautas antirracista, feminista e antifascista. A oposição e mesmo repressão à manifestação destas pautas nos contextos escolares ganharam espaço entre parlamentares, gestores e até mesmo entre pais, professores e estudantes.

Foi neste contexto que o menino em questão proferiu expressões racistas contra seu colega e, dias depois, atacou suas professoras.

Isso é tudo o que sabemos. Podemos, no entanto, falar do que precisaria acontecer em casos como este.

Primeiro, a escola precisa ser percebida por seus estudantes como um lugar de acolhimento e diálogo, onde se sintam seguros e estimulados a trazer suas inquietações, pesquisar e avançar coletivamente nos conhecimentos que permitem superar o ódio. Em um ambiente assim, se um estudante de 13 anos manifestar comportamento violento deve ser compreendido como alguém que precisa de ajuda e, possivelmente, a escola também precise de ajuda para apoiá-lo.

A primeira instituição a ser procurada deve ser a família, que pode relatar problemas emocionais da criança e talvez não saiba onde procurar apoio profissional para apoiá-lo. Ou talvez sejam necessários os serviços da assistência social, para incluir a família em programas específicos, caso se trate de uma família em situação de vulnerabilidade.

Em se constatando que é na família que o menino vivencia o padrão violento de comportamento que reproduz na escola, deve-se acionar o Conselho Tutelar. Pode ser que escola e família, unidas no propósito de apoiar a criança, percebam que ela está frequentando grupos nas redes sociais que estimulam o ódio e a violência. Neste caso, pode ser necessário acionar a Polícia Civil para as devidas investigações e desmantelamento dos grupos.

Em síntese, há caminhos que a escola pode e precisa seguir e a transferência para outra escola não é um deles. Mas, ela precisa de apoio de vários outros equipamentos públicos e a polícia militar não é um deles. As prioridades do governo deveriam ser, portanto, a formação das equipes escolares e o fortalecimento das políticas intersetoriais de educação, saúde e assistência social.

*Helena Singer é socióloga e líder da estratégia de juventude da Ashoka.