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OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

A sobrevivência da América Latina depende da Amazônia; entenda

Ibama apreende toneladas de madeira ilegal na Amazônia - Divulgação
Ibama apreende toneladas de madeira ilegal na Amazônia Imagem: Divulgação

Sabrina Cabral*

Colaboração para Ecoa, de Fortaleza (CE)

13/11/2022 06h00

Você provavelmente deve saber que a Amazônia está no foco dos debates ambientais e climáticos internacionais, sobretudo com a chegada da 27ª conferência do clima da Organização das Nações Unidas - COP 27.

A primeira vista isso não aparenta ser negativo, afinal, o Brasil está recebendo destaque. Porém, nossos olhares se voltam para lugares distantes quando falamos de políticas de cooperação global, como os Estados Unidos e países da Europa. Consequentemente, acabamos esquecendo totalmente das possibilidades de integração com a nossa própria região para perspectivas de desenvolvimento sustentável.

Somos levados a acreditar que os países do Norte Global podem salvar o mundo, nações que se desenvolveram a partir do consumo desenfreado de recursos naturais. Enquanto isso, deixamos de lado a cooperação com os países que são compostos em grande parte pelo bioma amazônico. Esse fato bem contraditório só reforça o quanto as nossas relações com nossos vizinhos latinos e caribenhos deixam a desejar, percepção pessoal que confirmei durante minha participação no 1º Encontro de Jovens das Américas.

Promovido pela Organização dos Estados Americanos (OEA) e Young Americas Business Trust (YABT), o evento aconteceu entre os dias 3 e 4 de outubro de 2022, na Universidade Nacional Maior de São Marcos em Lima, no Peru. Governos, setor privado e sociedade civil de todo o continente estiveram presentes, assim como com agências multilaterais. E para a minha decepção, eu percebi que era a única delegada brasileira no evento.

Como ativista que vem investindo nas relações com países latinos, tenho sido a única em diversas ações juvenis diplomáticas no nosso continente e região. Nestes espaços, aprendi sobre acordos regionais para o desenvolvimento socioambiental como o Consenso de Montevidéu e o Acordo de Escazú. Documentos tão importantes quanto a Agenda 2030, mas que mal são citados nas políticas de sustentabilidade brasileiras.

Uma organização que tem se destacado na superação desse cenário é o The Millennials Movement. Fundado pela jovem peruana Rosario Diaz Garavito, o grupo tem promovido a participação ativa de jovens de territórios da América Latina e do Caribe em processos regionais e globais para alcançar o desenvolvimento sustentável. E estive nessa jornada participando de ações da ONU relacionadas com Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, aprendendo como os outros países latino-americanos compartilham seus avanços e reivindicações.

Sabemos que toda a comunicação oficial das Nações Unidas é feita em inglês, então o trabalho de adaptação que Rosário e sua equipe realizam é essencial. Uma mediação que facilita essa participação, como uso integral do espanhol na realização de reuniões de escuta e debate, além do acolhimento de pessoas como eu, que até pouco tempo não tinha acesso a um segundo idioma.

Mas se engana quem acredita que o Brasil também não tem o que compartilhar.

No Encontro de Jovens das Américas, as pessoas estavam muito interessadas nas políticas do nosso país, sobretudo aquelas com foco na preservação da Amazônia. Durante o trabalho de construção da declaratória do evento, que é uma carta contendo pontos de trabalho essenciais em determinados temas, os participantes se surpreenderam com as ideias que compartilhei baseadas no trabalho de ativistas periféricos brasileiros que, como eu, lutam para combater a crise climática.

Dentre as iniciativas que citei estava o projeto de lei de iniciativa popular Amazônia de Pé, contando com mais de 60 organizações brasileiras para designar as florestas públicas para as comunidades tradicionais e povos originários.

A sobrevivência da América Latina depende da Amazônia. De acordo com a Rede Amazônica de Informação Socioambiental Georreferenciada, ela ocupa mais de 40% dentro dos territórios dos 9 países em que está contida, chegando a mais de 90% dos territórios de países como Guiana e Suriname. Ou seja, devemos construir relações de troca com nossos vizinhos do Sul para que juntos possamos exigir que o Norte cumpra o seu papel de apoiar nosso desenvolvimento sustentável e compensar os prejuízos.

Precisamos construir estratégias para que a floresta amazônica não seja o único ponto de intersecção dos países latino-americanos. Para garantir um futuro digno para nossas futuras gerações.

Para seguir e conhecer

Amazônia de Pé: https://amazoniadepe.org.br/

The Millennials Movement: https://www.instagram.com/themillennialsmovement/

ECOSOC Youth Forum: https://www.un.org/ecosoc/en/ecosoc-youth-forum

Semana Global dos ODS: http://act4sdgs.org/

Rosário Dias Garavito: https://www.instagram.com/rosariod.garav/

*Sabrina Cabral é ativista e criadora sobre a periferia nordestina no perfil @sanydapeste a partir de Fortaleza - CE. Inserida nas temáticas de sustentabilidade, direitos humanos e educação, Representante juvenil em iniciativas da ONU e Liderança no IYD Brasil. Fundadora da iniciativa Ruma para desenvolvimento sustentável no Nordeste Brasileiro.