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M.M. Izidoro

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Talvez só precisamos fazer o que podemos fazer

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Imagem: iStock

M.M. Izidoro

colunista do UOL

23/07/2022 06h00

Esses dias fui almoçar com meu pai e um amigo da família. Em papo sobre economia e investimentos, esse amigo disse uma coisa que estou pensando até agora: "Temos de fazer o que podemos fazer agora".

No caso dele, ele estava falando sobre a economia e como não adianta só ficar reclamando do preço disso, do aumento de algum juros ou coisa do tipo, que isso ele não tinha como mudar, então ele tava procurando o que fazer com o que podia ele mesmo fazer.

E tô pensando nisso não por ser um investidor e querer achar maneiras de alocar meu capital da melhor maneira, porque nem capital para alocar eu tenho.

Mas porque esse pensamento se encaixou em outras situações da minha vida nesses últimos tempos muito loucos que estamos vivendo.

As notícias e os fatos que estão acontecendo parecem grandes tsunamis de tristeza e desespero que arrebatam toda nossa atenção e sentimentos cada vez que vemos um jornal ou entramos na rede social.

É guerra, é estupro, é assassinato, é gente passando fome de novo, gente sendo morta por não concordar com o outro ou por o outro não concordar que essa pessoa tem de estar viva pelo que ela é e representa. É o governo avisando que pode dar um golpe de estado a qualquer momento e que não faz nada para termos condições mínimas de bem-estar social e, quando faz, faz como marketing eleitoral.

Isso tudo nos oprime. Tira mesmo nossa atenção e parece que não tem nada que possamos fazer, mas como disse o amigo aqui da família: "temos de fazer o que podemos fazer agora."

Talvez ao invés de focarmos nossas atenções no macro, podemos começar a focar no micro. Em vez de olhar pra cima, pode ser mais negócio olhar pro lado.

Assim, em vez de só ficarmos bravos com o governo, patrão ou quem quer que esteja nos oprimindo, podemos ver como podemos ajudar nossos vizinhos ou colegas do cubículo ao lado.

Temos de continuar reclamando e reivindicando direitos e evoluções sociais, sim, sempre que der. Mas isso cansa e pode, a curto prazo, nos drenar mais do que ajudar.

Por isso, bora cuidar da gente e dos nossos. Bora dar atenção pro prédio ou pro bairro. Bora cuidar mais da família e dos nossos parceiros. Bora cuidar mais de nós, sem esquecer do nosso.

A evolução só vai ser coletiva. Aí cada um de nós que tropeçar e cair, já tem alguém do lado para apoiar e tomar nosso lugar até a gente estar forte.

Assim como aconteceu em outros tsunamis, essa água toda vai passar. Ela sempre passa. A coisa é estarmos atentos e fortes para o que ela leva consigo e o que ela deixa pra trás. Assim que ela passar e as poças começarem a secar, a gente tem de estar forte e inteiro para reconstruir o que ela levou, e isso só vai ser de mãos dadas e não cada um por si.

Então, hoje, depois de ler isso aqui, faz um bolo pro povo da sua casa, liga pra um vizinho e vê se ele precisa de alguma coisa, pede ajuda se você tiver precisando, limpa o armário e doa as roupas que tu não usa mais, ajuda o estagiário com algo que ele não tá conseguindo fazer direito na firma, escreve uma carta para a prefeitura para pedir para tampar aquele buraco na sua rua, ouve seu amigo que não tá com a saúde mental legal, começa uma hortinha com ervas medicinais, aprende com a sua vó como usá-las, planta umas verduras em casa ou até uma horta comunitária para ter comida fresca em casa.

Faz o que você quiser, mas faz.

Que reclamar do que a gente não consegue diretamente mudar é bom e muitas vezes necessário, mas talvez pra gente ficar de boas, só precisamos fazer o que podemos fazer.