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Meditação altruísta para tempos difíceis: Bondade amorosa e compaixão

Getty Images/iStockphoto
Imagem: Getty Images/iStockphoto

Emersom Karma Konchog

31/03/2021 06h00

Atualmente, cada vez mais pessoas têm recorrido à meditação para tentar buscar algum alívio para situações de angústia e estresse contínuos. No entanto, é comum que o benefício obtido tenha curta duração, como se meramente apertássemos um botão de pausa: há paz enquanto nos desligamos. Mas não podemos, nem queremos, ficar o tempo todo desligados.

A convite de Ecoa, vou sumarizar algumas técnicas de meditação, que costumam ajudar na descoberta de fontes internas de bem-estar que não sabíamos possuir, podendo contribuir não apenas para lidarmos melhor com este difícil período, mas também para a transição em direção a relações e sociedades mais humanas.

São formas de meditação secular, ou seja, que podem ser praticadas independente de tradições espirituais. Essencialmente, é assim que se medita no budismo tibetano — a tradição em que me formei — mas os elementos mais espirituais, que podem exigir algum tipo de crença, estão ausentes. Mestres tibetanos como o Dalai Lama, Mingyur Rinpoche e outros costumam usar abordagens similares quando se dirigem para o público em geral ateu/agnóstico, ou com outras inclinações espirituais.

As meditações e contemplações serão publicadas em três partes ao longo desta semana. A primeira delas já está no ar, só clicar abaixo:

  1. Motivação, atenção e respiração
  2. Bondade amorosa e compaixão
  3. Expandir o amor e a compaixão

Parte 2: Bondade amorosa e compaixão

As etapas 1 e 3 da meditação anterior são as mesmas. O que muda é a etapa 2, que é a prática principal.

1 - Motivação

Em uma postura confortável, nem muito tensa nem muito relaxada, comece cultivando uma motivação altruísta. Pelo menos, tenha a intenção de que com essa prática, você possa ser mais compassivo com as outras pessoas e seres. Contemple isso por um ou dois minutos.

2 - Conexão com amor e compaixão

Já nessa etapa 2, por 1 ou 2 minutos, apenas descanse a mente naturalmente, sem alimentar nenhum pensamento, mas também não bloqueando nada. Basta não se distrair. Ou se preferir, medite na respiração.

Então, conecte-se com o amor e compaixão que você sente por si mesma. Queremos o melhor para nós: não desejamos sofrer, perseguimos aquilo que, imaginamos, trará satisfação. "Que eu esteja livre do sofrimento e de suas causas. Que eu tenha felicidade e suas causas". Cultive isso no nível de um sentimento genuíno, por alguns minutos.

Depois, solte tudo e descanse por alguns segundos, como no começo.

Então, traga à mente uma pessoa ou ser amado. Estenda o mesmo sentimento que cultivou para si a essa pessoa. Cultive isso da mesma maneira por alguns minutos.

Depois, solte e relaxe como antes.

3 - Dedicação

Ao final, lembre-se da motivação altruísta e cultive a aspiração de que os efeitos benéficos dessa prática não se limitem a você, podendo alcançar outros seres através de suas atitudes. Contemplar isso por um minuto "sela" a prática.

Dicas

  • Ao cultivar amor e compaixão, note como -- nos momentos em que esse sentimento flui de modo genuíno -- isso ocorre quase que naturalmente, como se fosse nossa própria natureza. Na verdade, é. Por esse motivo, a meditação no altruísmo ajuda muito a meditação de repouso, em que nos conectamos com nossa natureza.
  • Se tiver dificuldade em cultivar compaixão consigo mesma (muitas pessoas têm), tente se enxergar sem culpa e cobranças excessivas, que vêm de experiências difíceis no passado ou de nossa sociedade competitiva. Uma técnica útil é lembrar de si como uma criança inocente, antes do início de todos os problemas.
  • Cultivar compaixão conosco não é sinônimo de indulgência, permissividade ou narcisismo. Não se trata de nos darmos permissão para fazermos aquilo que condenamos, nem de ficar cultuando a si. É simplesmente a atitude de nos dar as condições necessárias para o contentamento básico que precisamos para viver e florescer -- livres do sofrimento, cobranças e julgamentos excessivos. Hoje em dia, é comum não termos esse autocuidado.