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Eduardo Carvalho

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Carta para Sandra, minha vizinha racista de São Conrado

A ex-atleta de vôlei e nutricionista Sandra Mathias Correia de Sá é acusada de injúria por preconceito e lesão corporal a entregadores de delivery em São Conrado - Reprodução/TV Globo
A ex-atleta de vôlei e nutricionista Sandra Mathias Correia de Sá é acusada de injúria por preconceito e lesão corporal a entregadores de delivery em São Conrado Imagem: Reprodução/TV Globo

Edu Carvalho

Colunista de Ecoa, no Rio de Janeiro (RJ)

11/04/2023 15h21

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Trago-lhe más notícias: não abaixarei a cabeça ao ouvir seus gritos e sua voz esganiçada ao dizer que paga IPTU e que aqui "não é a favela". Usarei da educação de minha mãe e da legislação como escudo para enfrentá-la com seu ataque.

Ataque que também é violência e só existe pelo fato de não achar que pessoas como eu (e com características iguais as minhas) possam estar neste bairro. Por entender que negros e negras estão condicionados a morar em uma favela - neste caso, a Rocinha - ou mesmo a não existir.

Ao ver as imagens da violência racista que poderia ter acontecido comigo, penso nas vezes que cruzei com você e sua cachorra, nas ruas de São Conrado, afinal, só uma travessa nos separa.

Pois assim, te mando a real: não acataria sua ordem, nem daqueles que como você insistem em querer nossas existências impossíveis.

Para seu desprazer, continuarei aqui, na São Conrado oriental; sendo um filho com orgulho da Rocinha Ocidental. Este espaço em que só cheguei por merecimento individual e coletivo.

Estar aqui me faz existir reexistindo, numa resistência dupla, no bairro que num curto espaço de tempo teve, dois dias antes, um caso de racismo dentro de um supermercado. E que durante a infância, tornou-se pra mim o cenário da desigualdade.

Às autoridades, peço que o ato de racismo de Sandra, minha vizinha, seja de fato nomeado como tal, não sendo apagado apenas pelo crime de injúria, que "amacia" o contexto e relevância dos atos.

É preciso dar nome ao que acontece, algo que está longe de ser uma doença mental, carente do conveniente amparo médico. Isso não é loucura, cara vizinha, o nome do seu ato já existe: é racismo. E é crime.

Para minha cara vizinha racista, deixo um um conselho: talvez seja urgente despedir-se do bairro que com tanta veemência "defendeu". Despeça-se também do cachorro, o mesmo de quem você pegou a coleira para atacar os entregadores de aplicativo - todos negros.. Dê tchau ao grupo de sua empresa, que desvia energia elétrica na praia.

Pessoas que cometem crimes como o que você cometeu só merecem um lugar: a cadeia.

Boa estadia, minha futura ex-vizinha.