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Eduardo Carvalho

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Cuidados paliativos de Pelé também acontecem na favela da Rocinha

Retrato do Pelé no Museu Pelé, em Santos - Bruno Santos/Folhapress
Retrato do Pelé no Museu Pelé, em Santos Imagem: Bruno Santos/Folhapress

Edu Carvalho

Colunista do UOL

09/12/2022 06h00

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"Vem? Tô na sua área", era a mensagem que recebi da amiga Anna Butler no início da tarde do último sábado. A área era a Rocinha, bairro vizinho, mas sempre eterna morada. O encontro? Nem eu imaginava onde seria.

Até que me assustei. Era uma festa de fim de ano da organização "Comunidade Compassiva", criada em 2018 pela iniciativa de Alexandre Silva, enfermeiro paliativista e professor da Universidade Federal de São João del-Rei, em Minas Gerais.

Tendo em vista as desigualdades das favelas da Rocinha e Vidigal, sob a ótica do atendimento básico (elevado ao quadrado) na saúde pública e refletindo sobre o quê são os chamados cuidados paliativos, Alexandre arregimentou esforços de profissionais da área para realização de visitas mensais aos moradores.

A mobilização reforça um caráter já presente no território: o da ajuda, onde através do compartilhamento e atenção, os moradores se unem para auxiliar o vizinho enfermo. Mas com o projeto, ganham o suporte necessário para que façam isso da maneira mais confortável, já que lidam com as dimensões impostas por doenças na esfera física, psíquica, social e espiritual.

"Tratar desse tema é um tabu muito grande por que falar de cuidados paliativos é falar, na verdade, sobre fim de vida. Quando na verdade, é sobre pessoas que têm uma condição que ameaça a vida de continuar, que geram sofrimento. A gente trabalha prevenindo e aliviando o sentimento humano", reforça Alexandre sobre a sensação de ação para o indivíduo.

"Essa mudança de pensamento sobre os cuidados paliativos faz a sociedade entender que ainda há muito o que fazer para uma pessoa cuja doença pode não ter cura". Para ele, há um elemento de transformação na vida de quem atua como voluntário no projeto, como força-motriz sobre empatia.

Na confraternização do último sábado, um cheque foi entregue pelo músico Andreas Kisser e seu filho, Yohan Kisser, representando o Movimento Maetricia, fundado em memória de Patrícia Kisser. O projeto "objetiva discutir uma morte mais digna".

Sai inspirado, com o coração acalentado pelo movimento e transformação, sobretudo por ser debatido e trabalhado em duas favelas - quase sempre relegadas a essas discussões.

E talvez ainda mais importante pela coincidência daquele dia, no qual a temática ganhou a atenção nacional e internacional pelo estado de saúde de Pelé, o rei do futebol, que está internado em decorrência do tratamento de um câncer.

Que Pelé e tantos outros estejam bem cuidados. E que possamos falar mais e melhor sobre o fim.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL