Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Brasil do futuro começa nas cidades
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Na esteira da construção de projetos de Estado em um ano político-eleitoral, nossa atenção se volta aos níveis estadual e nacional. Mas a elaboração de políticas públicas que dialoguem com os diferentes contextos e realidades se torna um desafio ainda maior quando há um vácuo de dados. É na falta do Censo, organizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), sem ocorrer há 12 anos, que mora um dos principais perigos desta eleição.
Ainda que no escuro, iniciativas da sociedade civil tentam mitigar essas lacunas, apreendendo para si a produção coletiva de ações públicas que solucionem os problemas da metrópole a serem replicadas no macro. É o caso da Casa Fluminense, a completar uma década em 2023. Unindo ativistas, pesquisadores e cidadãos para um Rio mais integrado, traçam como horizonte identificar e promover agendas pautadas pelos territórios e a população, ressignificando o termo ''periferia''.
Ao ver-se como tecedores de novos amanhãs, nos dias 20 e 21 de maio farão o evento "Fórum Rio", refletindo e agindo por temas como justiça econômica, racial, de gênero e climática.
"Quando tudo ficou mais caro e até o osso virou motivo de disputa, foi a potência solidária da sociedade civil que construiu sobrevivência em nossas cidades, bairros e favelas da periferia metropolitana. Vamos juntes reconstruir o Rio de Janeiro e o Brasil, a partir de propostas e as ações necessárias para virar a página e escrever um novo capítulo em 2022", convocam os realizadores, lançando conjuntamente a quinta edição da Agenda Rio, uma bíblia de ideias intersetoriais e interseccionais para apontar a prioridade no debate das eleições estaduais em 2022 e para o investimento público no próximo plano de governo.
Quem também dispõe energia pensando a transformação a partir do que acontece nas cidades é Pedro Henrique de Christo, urbanista e professor universitário de políticas públicas e atualmente o Coordenador do NAVE - Novo Acordo Verde, outro espaço que dialoga na elaboração de políticas públicas.
"É nas cidades onde estão 85% dos brasileiros, de onde provêm ⅔ das emissões de gases de efeito estufa no planeta e, desde a última década, pela primeira vez na história, onde vive a maior parte da humanidade. Dessa maneira, um projeto para nosso país, como também para o mundo, tem que ser essencialmente também um projeto para nossas cidades em relação com nossas áreas rurais e biomas."
Pedro acredita ser prioritária a fundação de "novas estruturas de governança para escalas urbanas como metrópole e as megarregiões, baseadas em três princípios: (1) a integração urbana das favelas e da cidade; (2) é urgente transformar o metabolismo das cidades, o que ela usa e o que ela produz, para diminuir as emissões de gases de efeito estufa e torná-las mais sustentáveis (para equilibrar o clima) e resilientes (para resistir aos já presentes extremos impactos climáticos como vimos em Petropólis) e; (3) é decisivo reformar o pacto federativo para que as cidades tenham os recursos e mandatos políticos necessários para responder aos desafios do nosso tempo como a crise climática, desigualdade e pandemias, pois elas são as mais afetadas dos três entes da federação e as que possuem menos recursos".
A importância das cidades e seus atores enfatiza o manancial de possibilidades desenhadas por intelectuais orgânicos e acadêmicos, reunindo o que de melhor podemos ter no Brasil não de 2022, mas o dos próximos 30 anos. Não se ater a essa dinâmica apequena a realização de um projeto de reconstrução política e social rumo a um país digno e possível. Para todos.
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