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Eduardo Carvalho

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

COP26: Mesmo atrasado, discurso de Obama clama alerta mundial

Ativistas seguram uma faixa em protesto na COP26 em Glasgow, na Escócia - HANNAH MCKAY/REUTERS
Ativistas seguram uma faixa em protesto na COP26 em Glasgow, na Escócia Imagem: HANNAH MCKAY/REUTERS

10/11/2021 06h00

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''Não podemos permitir ninguém à margem''. Foi assim que o ex-presidente Barack Obama retornou aos holofotes mundiais durante discurso na Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2021, a COP26, na última segunda-feira (08). Em tom de urgência e crítica, Obama esteve no palco central do evento para, ao mesmo tempo, encorajar quem quer que fosse para mudanças no agora sobre o meio ambiente do planeta. Um discurso atrasado, mas que reconhece o que se pode fazer no imediato.

Na plenária, Obama fez questão de sinalizar a falta de chefes mundiais em ação. "Foi particularmente desanimador ver os líderes de dois dos maiores emissores do mundo, China e Rússia, se recusarem a sequer acompanhar as discussões". Também houve espaço para lembrar e incluir a presença mais forte do Brasil para debater sobre o clima atual do mundo. ''Também precisamos da Índia, Rússia e Indonésia, África do Sul e Brasil", completou Barack. Na conferência, o Ministro do Meio Ambiente Joaquim Leite representou o atual governo, junto de parlamentares. O vice-presidente Hamilton Mourão até tentou justificar dias atrás e sem êxito, o não comparecimento de Bolsonaro: ''Ele vai chegar em um lugar em que todo mundo vai jogar pedra nele''.

Na fala de Barack, um lugar importante foi dado à juventude que toma as ruas clamando por atenção neste tema primordial à existência, e que em Glasgow se repetiu. ''Vocês têm razão de estarem frustrados. As pessoas da minha geração não fizeram o suficiente para lidar com o problema que vocês enfrentam hoje''. Quem pôde acompanhar o desabafo direto foi a jovem Kamila Camilo, correspondente especial para ECOA no evento.

Junto de Raull Santiago, ativista brasileiro do Complexo do Alemão e a jornalista Andréia Coutinho, Kamila marcou presença em um painel com a ex-presidente da Irlanda, Mary Robinson, discutindo justiça climática. O debate se estendeu por propor soluções que passam pela garantia e acesso à direitos e à vida para pretos, periféricos, indígenas e quilombolas no Brasil. Engrossam o coro por lá, até sexta (12), quando termina o evento, integrantes da Coalizão Negra por Direitos, PerifaConnection e Instituto Ayíca.

Do fim ao cabo, Obama afirmou que as metas dispostas para o Acordo de Paris e da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima são vistas com muita distância por todos os países. ''Não estamos nem perto de onde precisaríamos estar. Para começar, apesar do progresso que Paris representa, a maioria dos países falhou em cumprir os planos que estabeleceram''.

Segundo aponta a análise da Climate Action Tracker, as metas apresentadas para redução de emissões de 2030 na COP estão longe do limite seguro de 1.5ºC. De acordo com o panorama, ''está claro que há uma enorme lacuna de credibilidade, ação e compromisso que lança uma longa e sombria sombra de dúvida sobre as metas líquidas zero propostas por mais de 140 países, cobrindo 90% das emissões globais''. O Brasil não apresentou nenhuma meta que mostrasse melhora nos últimos anos.

A próxima COP não é tão distante, e até lá, as placas tectônicas se movem num tabuleiro político que pode influenciar as políticas climáticas do nosso patropi. Esperançando com Obama e o provérbio havaiano que proferiu ao fim do discurso, há que se ter união para seguir em frente.