Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
O país fora do discurso
Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail
Não deu outra: apresentando mais uma vez a sua versão do Brasil, Jair Messias Bolsonaro mentiu ao falar na Assembleia Geral da ONU na manhã de ontem (21), assim como faz desde 1º de janeiro de 2019, quando empossado presidente da República por mandato de quatro anos. De lá pra cá, como bem resumiu a jornalista Miriam Leitão em "O Globo", não há uma semana de paz em todo este governo e em nenhuma outra instância.
Se o país mudou, como bem profanou aos que o escutavam no auditório, foi pra pior, e antes mesmo da pandemia da covid-19 desabar sobre nossas cabeças. Pelo contrário: a crise sanitária intensificou o cenário de terra arrasada pelo vazio de políticas públicas eficazes que mitigassem a falta emprego e a fome, bem como o abastecimento de instrumentos de trabalho para quem estava na linha de frente da saúde. Não há nada de "novos tempos" em nosso patropi.
Se achei que o Brasil vendido pelo atual mandatário seria o real? Nunca. Para justificar tudo o que faz, já era previsível que inventaria realidades diferentes das vivenciadas verdadeiramente, bem como aquela que o próprio acredita que liberta.
A quem ainda tem um rés de sanidade, sempre cabe a surpresa por quão doentio se torna a construção falsa de que está tudo bem, quando não está. Aos investidores e quem mais necessário for alertar, um aviso: não somos o melhor destino para investimento, tampouco temos confiança nos que atuam à frente do planejamento governamental. Diariamente acumulam-se casos concretos de corrupção na família do presidente, indo mesmo além das ligações sanguíneas. Procurem saber sobre as "rachadinhas", que também são conhecidas como crime de peculato.
Vocês também chegarão aos esquemas de compras de vacinas que não existiam, e a divulgação deliberada de estudos feitos com base no uso de remédios ineficazes para a doença que nos próximos dias terá matado 600 mil brasileiros.
O colega do UOL Jamil Chade foi categórico: "O mundo não é bobo e tem informações para desmontar todas as frases desse discurso". Agências de checagens como Lupa e Facebook.Eco se deram o trabalho de compilar algumas delas.
Nossa presença em uma das mais importantes reuniões de líderes mundiais foi pequena, para não dizer outra coisa. Um país que já teve como ápice presença de Gilberto Gil, então ministro da Cultura, cantando "Toda Menina Baiana" ao lado de Koffi Annan, em 2003.
Depois de mais um episódio deprimente em âmbito internacional, só nos resta agarrar às lembranças daquilo que já vivemos - e temos saudade.
Em tempo: me entristeço com o que acontece a cada segundo, mas é também ao mesmo tempo que encontro fôlego para respirar. Tal qual foi o sentimento vendo Hiltinho Fantástico, dançarino de passinho, rabiscando à frente do Museu do Louvre, em Paris. Um dos mais prestigiados lugares da arte serviu de cenário para que o menino bailasse nos últimos dias.
Além disso, tem mestre Caetano Veloso, personificação daquilo que seria zeitgeist, aos 79 anos, lançando nova música e em breve, álbum de inéditas.
Apesar dos pesares, fiquemos atentos às pulsões de esperança. Esses acontecimentos são indicações do que de melhor sabemos fazer e podemos ser.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.