Como autonomia oficial dos carros elétricos pode colocar você em enrascada

Introduzido pelos modelos da Cadillac em 1978, os computadores de bordo digitais, que informam dados como consumo médio e previsão de autonomia com o combustível disponível, hoje estão presentes na maioria dos carros zero-quilômetro.

É com base nessa previsão que muitos motoristas se orientam para saber a hora de abastecer o automóvel. Não é muito diferente com os elétricos - no entanto, como a infraestrutura para recarga é mais escassa, e o alcance com uma carga completa ainda é relativamente limitado, o cuidado com essa projeção deve ser maior.

O princípio de funcionamento do equipamento é parecido.

"Os computadores de bordo dos carros usam formas similares para processar as informações provenientes dos sensores, para produzir as estimativas de consumo instantâneo, médio e prever a autonomia. No caso dos carros a combustão, o tempo de injeção do combustível, associado à forma pela qual você acelera o veículo, junto com o volume de combustível, fazem a tríplice para esse cálculo acontecer, de forma análoga ao elétrico, mas medimos o fluxo de corrente que sai da bateria, a quantidade de carga remanescente e, igualmente, a forma pela qual você está acelerando. Isso retorna ao motorista a estimativa de consumo do carro", explica Fabio Delatore, professor de Engenharia Elétrica da FEI (Fundação Educacional Inaciana).

É um cálculo mais complexo e que muda em tempo real, pois os sensores estão sempre conversando entre si. O gerenciamento da plataforma elétrica é mais sofisticado em alguns pontos.

"Há o Battery Management System (BMS), sistema que monitora diversas variáveis da autonomia. Ele está sempre ativo, coletando dados como o State of Charge (SOC) e State of Health (SOH), os estados de carga e saúde do sistema, além de parâmetros como energia e consumo, tudo para você ter garantia dos dados que vão indicar o estado da bateria", esmiúça Wanderlei Marinho, membro do Comitê de Veículos Elétricos e Híbridos da SAE BRASIL.

Autonomia de eletrificados é menor na estrada

Além da análise do gerenciamento de força, outros fatores impactam na autonomia indicada, o que reforça a necessidade de pensar no percurso como se fosse uma viagem de avião, calculando a autonomia antes de chegar ao ponto de não retorno.

"Quando se pensa no planejamento mais longo na estrada, tem que planejar previamente para tentar usar o máximo possível da autonomia. Na cidade, pode-se conviver melhor", indica Gustavo Noronha, diretor de Eletromobilidade da AEA (Associação Brasileira de Engenharia Automotiva).

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Tanto veículos elétricos quanto híbridos, incluindo os plug-in, via de regra consomem menos energia em circuitos urbanos, trechos em que a carga das baterias é poupada e regenerada pela recuperação de energia das frenagens, algo que não acontece tanto nas estradas. No caso dos modelos que precisam de recarga - não é o caso dos híbridos normais -, a distância entre os pontos de carregamento é mais crítica nas rodovias, o que só aumenta o cuidado com a autonomia indicada.

Aqui cabe uma ressalva: diferentemente dos elétricos, os automóveis plug-in podem rodar com a bateria descarregada, o que pode aliviar a ansiedade do alcance. Porém, com ela fora de jogo, o desempenho geral e a economia vão diminuir drasticamente, uma vez que não haverá a força extra do propulsor elétrico (ou mais motores).

O modo de dirigir tem um impacto forte, entretanto, não é o único fator que diminui a autonomia indicada.

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"No dia a dia, essa informação no painel é bem precisa. Quem se habituou ao carro elétrico já viu a influência da aceleração, consumo e a possível regeneração, dados que são reorganizados rapidamente. Mas o computador não sabe o seu percurso. Um exemplo: você tem 250 km para ir para Campinas ou para a praia. Como há uma variação de altitude e relevo do percurso, o computador vai sendo atualizado rapidamente, variando o alcance projetado", ensina Wanderlei. "O computador de bordo está medindo miliamperes justamente porque não quero deixar o usuário a pé", completa.

O professor reforça que o sistema de gerenciamento de dados pode ser influenciado ainda pela temperatura, dado que o gerenciamento térmico para cima ou baixo é medido de acordo com a energia dispensada naquele momento.

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Se habituar com o funcionamento de um veículo eletrificado é uma necessidade para aqueles que saíram de um carro a combustão. "O usuário tem que entender as características daquela tecnologia. Conduzir o veículo de uma maneira suave, analisar a topografia, se é serra ou plano, pensar na velocidade, na carga e, claro, ter o hábito de carregar o veículo", aconselha Gustavo.

Da mesma maneira que nos modelos a combustão, é necessário segurar a empolgação para não drenar a autonomia.

"Uma forma de condução mais suave sempre vai privilegiar o consumo e autonomia em detrimento do desempenho. Os consumidores de carros elétricos ficam empolgados com o torque imediato proporcionado pelo powertrain e, naturalmente, acabam exigindo mais desempenho do carro, o que impacta diretamente na autonomia", ensina Fabio.

Caso o risco de uma "pane seca" se torne cada vez maior, as baterias podem usar uma espécie de reserva, mais ou menos como outros aparelhos a base de baterias de íon de lítio.

"A bateria sempre tem uma pequena reserva. Para você ter uma ideia, em uma situação emergencial nos EUA, o Elon Musk liberou uma quantidade extra de energia armazenada que os proprietários dos Teslas não conheciam, cerca de 20%, o suficiente para manter o carro sustentado", tranquiliza Wanderlei.

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