Gasolina à base de água: como Porsche planeja salvar motores a combustão
Em tempos de eletrificação, o futuro dos automóveis ainda pode ser a combustão e passar pela gasolina - mas não necessariamente derivada do petróleo. Esta é a ideia da Porsche, que exibiu em encontro com jornalistas seu combustível sintético produzido à base de água e vento no Chile.
A 'gasolina sem petróleo', batizada pela marca de e-fuel, possui como matéria-prima hidrogênio e dióxido de carbono - um dos maiores causadores do efeito estufa.
No processo, a energia eólica divide os dois componentes básicos da água (oxigênio e hidrogênio). Depois, o CO2 é capturado do ar e filtrado para a obtenção do dióxido de carbono, que é combinado com hidrogênio para produzir metanol sintético - utilizado como base para produção de gasolina, querosene e diesel sintéticos.
Por ser líquido, o combustível produzido pode aproveitar a infraestrutura atual de abastecimento e não exige alterações nos motores que utilizam a versão fóssil da gasolina ou diesel.
Da mesma forma que a gasolina convencional, o combustível feito sem petróleo emite poluentes. Porém, ele traz a vantagem, como o etanol, de neutralizar na respectiva produção o carbono resultante de sua queima - ao retirar dióxido de carbono da atmosfera.
Segundo a Porsche, a gasolina sintética garante o mesmo desempenho do combustível premium vendido atualmente nos postos. O e-Fuel ainda faz parte de um estudo da marca e não há previsão de sua chegada comercial ao Brasil - a meta levar ao mercado global nos próximos dois anos, chegando a 550 milhões de litros produzidos anualmente a partir de 2027.
A marca alemã importou 500 litros do combustível para ser utilizada na apresentação com jornalistas. A produção atual é feita em usina eólica instalada em Punta Arenas, no Chile, e inaugurada em 2022. O projeto leva o nome de Haru Oni, que significa "fortes ventos" na língua dos povos nativos que habitam a região.
A usina chilena faz parte de uma parceria da Porsche com a HIF Global LLC, empresa que realiza projetos de combustível sintético.
Desafios para a produção em massa
A perspectiva de benefícios econômicos e ambientais é alentadora, porém sua produção ainda é cara ante a gasolina tradicional, destaca Everton Lopes, mentor em tecnologia de energia a combustão da SAE Brasil. Segundo o especialista, o desafio é reduzir o custo da extração do hidrogênio necessário para fazer a gasolina sintética, a partir de um processo conhecido como eletrólise.
"É grande a quantidade de eletricidade utilizada para separar o hidrogênio presente na água e isso eleva bastante o custo de produção", pontua.
O combustível sintético já era usado pela Alemanha na época da Segunda Guerra Mundial e, desde então, as pesquisas têm evoluído. Porém, o petróleo ainda é muito mais fácil e barato de ser obtido e refinado Everton Lopes, engenheiro
A Fórmula 1 avalia a adoção do e-fuel a partir de 2025, quando deverá entrar o novo regulamento de motores, mantendo a propulsão híbrida já adotada, porém com o novo combustível e mais eletrificação.
Esse seria o caminho para a mais importante categoria do automobilismo mundial não migrar, ao menos por ora, para motores totalmente elétricos.
A expectativa é de que a novidade, quando chegar aos consumidores, garanta a sobrevida dos motores a combustão interna, seja de forma "pura" ou com algum nível auxílio elétrico. Hoje, tudo indica que propulsores convencionais estão com os dias contados por conta dos limites cada vez exigentes dos governos em relação às emissões de poluentes.
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