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Por que carros não ficarão mais baratos mesmo sobrando nos pátios

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Do UOL, em São Paulo

22/03/2023 04h00

Nesta semana, General Motors, Hyundai, Stellantis e Volkswagen anunciaram férias coletivas para seus funcionários após parada em suas fábricas. O motivo é a baixa demanda do mercado, que compromete as vendas e, por isso, o reabastecimento dos estoques perde o sentido.

Mesmo que a queda na procura muitas vezes se relacione com o barateamento dos produtos, infelizmente não é desta vez que o consumidor poderá comemorar a chegada da tão desejada inflexão nos preços dos carros, que ainda não pararam de subir.

Para o consumidor, o principal reflexo positivo dessas paradas nas fábricas é o da manutenção dos preços. Se, mesmo com a queda na demanda, as fábricas continuassem a funcionar, o 'taxímetro continuaria rodando' em toda a cadeia produtiva, desde a produção até os estoques. Assim, os carros encareceriam, o que afastaria ainda mais os consumidores. Seria uma 'tempestade perfeita'", Ricardo Bacellar, da Bacellar Advisory Boards.

Além disso, o especialista destaca os principais pontos que fundamentam essa redução acumulada da procura dentro do setor automotivo. São eles:

  • Custo do produto: só tem encarecido devido aos custos logísticos, dos estoques, do dólar, das commodities, entre outros;
  • Custo do dinheiro: relativo aos juros (que regem os custos e as emissões dos empréstimos), bem como à perda do chamado custo-oportunidade (quando a pessoa deixa de investir após se descapitalizar);
  • Empobrecimento do potencial comprador: decorrente do aumento da defasagem da relação entre renda e preço dos produtos, dos índices de desemprego, da perda do poder de compra devido à inflação, entre outros pontos.

Não é o consumidor que não quer mais trocar de carro. Ele, na verdade, não tem mais as mesmas condições de adquirir um. Para piorar, os credores vêm reportando recordes de inadimplência, entre os 5,5 e os 6 pontos percentuais. Isso impacta a emissão de créditos também na parte dos financiamentos automotivos, com taxas que já chegaram aos 30%. Mesmo que a paralisação das fábricas ajude a impedir que os preços fiquem ainda mais elevados, não contribui para o alívio desses três pontos citados".

Mas há um porém

Por outro lado, o especialista explica que, se esse cenário perdurar por longo tempo, a rede não terá outra escolha a não ser criar promoções para os clientes. Isso seria uma das únicas saídas para aliviar as pressões sobre os estoques, que, de tempos em tempos, precisam girar para não comprometer a geração de caixa das empresas.

"Não há muita pressa para a renovação dos estoques por desatualização dos modelos, pois ainda estamos em março. Se tivéssemos mais para o fim do ano, isso também seria uma preocupação. Mas, ainda assim, as marcas precisam de algum retorno financeiro. Se a manutenção dos preços por tempo indeterminado estiver limitando demais as vendas, a próxima medida seria mesmo as campanhas de desconto", explica.

Enquanto isso não ocorrer, a pressão sobre os preços dos carros usados continuará alta, o que interfere, inclusive, na dificuldade das revendas de oferecer campanhas de valorização do usado na compra do zero km.

"A população vai continuar indo atrás dos carros usados enquanto os novos continuarem nos atuais patamares de preços. Isso mantém a Fipe dos usados em níveis mais altos, diminuindo a possibilidade dos concessionários de realizar campanhas de valorização do seminovo. Para que o carro fique mais acessível de verdade, só com a geração de empregos e com o foco na reindustrialização do Brasil. Assim, a dependência sobre fatores externos diminui, a começar pelo dólar", finaliza.

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