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Testamos: Cayenne Coupé leva pegada esportiva da Porsche para andar na lama

Fernando Miragaya

Colaboração para o UOL

01/11/2019 04h00

SUVs metidos a cupê são a novidade no segmento já bastante explorado dos utilitários esportivos. Mas engana-se quem pensa que este nicho é apenas retórica de carroceria. O novo Cayenne Coupé está aí para provar que pode honrar a esportividade da Porsche, mesmo na versão mais mansa com motor V6 por R$ 459 mil.

UOL Carros andou mais de 400 km pela Serra Gaúcha em estradas sinuosas, retões e até trechos de terra e pedra. Em quase todas as situações, o Cayenne Coupé mostrou que consegue dar aquele tempero a mais em relação ao SUV convencional.

E quando se fala que esta é a versão de entrada mais calma, isso significa 340 cv oriundos do V6 com turbina centralizada e 40,8 kgfm de torque despejado nas quatro rodas conforme a demanda. Suficiente para fazer este jornalista que vos escreve, que acha que marca esportiva não deveria ter SUV, se render ao modelo.

Desconfiança inicial

Cayenne Coupé - Divulgação - Divulgação
Imagem: Divulgação

Mas vamos por partes, ou melhor, por situações de rodagem. No início, o Cayenne Coupé desperta certa desconfiança. Nas saídas e em médias rotações na cidade, o SUV tem um certo delay e a potência parece pouca para mover os 2.500 kg do modelo.

De pacato, contudo, esse grandão não tem nada. É só descobrir seus segredinhos escondidos entre o emaranhado de comandos no volante, na tela larga da excelente central multimídia e no console central, também sensível ao toque. Teclas e botões que transformam o utilitário.

Na estrada, mudamos o gerenciamento do carro - o Porsche Sport Management - do modo Confort para o Sport. O Cayenne já fica algo firme, com uma direção mais precisa e a caixa Tiptronic trabalhando em giros mais altos. No modo Sport Plus, o volante fica ainda mais direto e o SUV convida a acelerar.

Mais baixo e mais largo, o Cayenne passa a ter um comportamento bastante esportivo. Aponta bem nas curvas, responde bem nas retomadas e a suspensão pneumática fica mais rígida e baixa nessa opção Sport Plus.

Tiro o pé do acelerador antes da curva, e o conjunto vai fazendo as reduções pontuais com deliciosos trancos. A propósito: na Sport Plus a caixa não passa da sexta marcha. Para quem curte, há opções de mudanças nas aletas, mas a sétima e oitava velocidades da transmissão são longas e funcionam mais como um Overdrive.

Nas curvas, a carroceria rola o mínimo. Até presto atenção no Cayenne Coupé que vai à frente para ver a oscilação do bicho. Impressionante que o utilitário entorta bem menos do que muito hatch médio moderno por aí. E ainda é possível conferir o aerofólio traseiro se abrindo conforme o modelo passa dos 90 km/h.

Dose extra

Porsche Cayenne - Divulgação - Divulgação
Imagem: Divulgação

Mas há outro segredo para deixar o SUV-cupê literalmente endiabrado. Um botãozinho colado a um dos aros do volante traz o Sport Response. Aperte-o e tente não esboçar um sorriso. O conta-giros dá um salto imediato e bruto para 5.000 rpm e as respostas ao pedal do acelerador ficam ainda mais sensíveis e rápidas.

Trata-se de um overboost, embora o pessoal da Porsche não curta usar esse nome para o recurso. Mas o equipamento potencializa o torque do V6 e o Cayenne Coupé fica bastante bruto e ágil para as retomadas.

Tudo bem que a possessão dura 20 segundos. Mas é o suficiente para a gente parecer criança e recorrer ao botão a cada ultrapassagem de caminhão nas estradinhas de pista simples das rodovias da Serra Gaúcha.

É só lembrar que nos modos de condução mais esportivos, o SUV sente todo e qualquer ressalto do asfalto. Seja um buraco, ondulação ou desnível, o Cayenne reflete bastante destas imperfeições na cabine e no volante.

No off-road

Cayenne na água - Divulgação - Divulgação
Imagem: Divulgação

Isso fica mais sintomático na terra. Sim, por mais que a gente duvide que o dono deste modelo vai encarar o trecho de pedra, terra e lama de nível fácil que escolheram para o test drive. A Porsche diz que é importante o cliente saber que pode fazer isso com o SUV.

Se for, que o faça com atenção. Voltamos o Cayenne para o modo normal, inclusive na suspensão. Nas opções de condução off-road, optamos por 'Pedra' e partimos para uma trilha sem grandes níveis de dificuldade.

O conjunto do SUV oferece um pacote de tração integral robusta sob demanda. A suspensão pneumática fica mais alta e há bloqueio eletrônico do diferencial - que não foi exigido nesse trecho.

No terreno fora de estrada, o Cayenne Coupé vai bem. Verdade que a suspensão continua pouco amistosa com as irregularidades, mas o SUV se mostra firme para uma aventura limitada.

Pit-stop de surpresa

Só esqueceram de combinar com os largos pneus Pirelli P-Zero. No modelo avaliado, um rasgo no pneu nos obrigou a um pit-stop. A boa notícia é que é fácil fazer a troca da peça no grandão, mesmo no meio do nada.

O compressor enche o estepe em 10 minutos. As roscas e sistemas de retirada e colocação dos pneus avariado e sobressalente são fáceis até para uma criança. Só que, em determinados trechos tivemos que obedecer os 80 km/h permitidos para rodar com o pneu sobressalente até a outra parada, onde um pneu de medida original foi reposto.

O Cayenne deixa a desejar em alguns itens de condução semi-autônomos. Para um modelo com estas cifras na etiqueta, não ter monitoramento ativo de faixa e frenagem automática de emergência é inexplicável - há só o alerta de colisão.

Falta também aquecimento/resfriamento dos bancos. E as tomadas mini-USB que ninguém mais usa. A propósito: um carregador de celular por indução em um SUV desta categoria seria bem-vindo.

O Cayenne Coupé troca esses mimos pelas doses de emoção. E até na otimização do escapamento duplo, que pode ser selecionado na central multimídia e deixa o modelo com (quase) som de 911. O carro quer mesmo honrar a esportividade da marca.