Câmbio manual está com os dias contados; como fica nossa pose de piloto?

Condutor preocupado com desempenho tende a ficar mais comportado
Antes símbolo isolado de esportividade, o câmbio genuinamente manual, daquele tipo que convida o "piloto" a fazer os engates caprichando na pose, à la James Dean, pode estar com os dias contados. Ou quase. Não quer dizer que a autonomia do condutor para acelerar de acordo com seu estilo de dirigir tenha sido comprometida. Nada disso. Ninguém precisa se sentir um motorista de trólebus, circulando em uma velocidade de cruzeiro constante de dar sono.
O fato é que, nos modelos feitos para brilhar nas pistas, sob o comando de profissionais ou de amadores, estamos na era da troca de marchas cada vez menos sujeitas ao "esforço" do motorista -- e menos perceptivas aos olhos da audiência. O motor respira a um simples toque da aleta atrás do volante ("borboletas", "paddle shifters" ou algo do tipo), ou com um discreto deslizar da alavanca dos "Tiptronics" e suas variáveis em nomenclatura. O condutor em busca de maior desempenho na sua macchina tende a ficar mais comportado na dramaturgia.
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Nada como ser o dono da situação
Um dos grandes apelos dos carros com câmbio mecânico era a sua associação à performance. "Era", porque se trata de uma máxima para um passado romântico. Hoje em dia, a tecnologia evoluiu tanto que os modelos equipados com transmissão automática não são mais vistos como lerdos, e não deixam nada a desejar aos seus antecessores. A diferença entre um e outro não chega a ser perceptiva no dia a dia. O carro automático pode ser alguns décimos mais rápido na arrancada e o mecânico com a mesma motorização pode tirar essa diferença na velocidade final. Coisa de profissional, que não faz o menor efeito para quem circula nas cidades.
A suavidade nas mudanças é uma qualidade, sem dúvida. Solavancos estão mais remetidos à barbeiragem de iniciantes do que ao estilo de direção propriamente. Mas quem gosta mesmo de pilotar não abre mão daquela sensação de ter sido o responsável por dar novo fôlego ao motor. A graça de dirigir leve e solto, fora dos engarrafamentos da vida, está em poder decidir entre esticar a segunda ou a terceira, para aumentar o giro do propulsor e impressionar a plateia com o ronco zunindo no escapamento, ou reduzir da quarta para a terceira, para a segunda, antes de chegar na curva, tangenciando a pista com os pneus colados no asfalto.
Além disso, o câmbio pode ser puramente automático, com aquelas conhecidas posições "P", "R", "N", "D". Mas, querendo, torna-se manual no que se refere ao acionamento: basta empurrar a alavanca para o lado. Assim, o motorista pode assumir o controle do carro também neste caso, prolongando ou encurtando as acelerações com simples toques para frente ou para trás. E com uma vantagem adicional: sem precisar pisar no pedal da embreagem.
Para onde vamos cambiar?
O câmbio manual não deve sumir da noite para o dia, é certo. Algumas marcas mantêm essa opção para os puristas. É o caso da Porsche, por exemplo, que ainda dispõe do Porsche Carrera com trocas por sua conta. Os interessados são tão escassos que, para o Brasil, essa versão só vem sob encomenda e por R$ 1 milhão.
Mas a tendência é que a versão automática, corriqueira nos modelos topos de linha, seja cada vez mais acessível e passe a equipar todos os carros de entrada do mercado. Um movimento natural. Foi assim com itens que antes eram sinônimos de glamour e hoje viraram banais, como direção hidráulica (depois elétrica), acionamento elétrico dos vidros, ar-condicionado, coisa e tal. Chegam caros e depois vão se tornando mais baratos, e melhores. Tem a ver com a evolução.
Para o saudosistas de plantão, a boa notícia é que, embora a essência tenha mudado, a aparência nem tanto. O câmbio manual pode até virar peça de museu e por mais que, lá embaixo do carro, a engenhoca responsável por levar a força motriz para as rodas tenha se sofisticado e opere de forma autônoma/automatizada, lá em cima, quem decide a hora de ela trabalhar é o senhorzinho atrás do volante -- o nosso "piloto" de mão cheia. E isso é o que importa, convenhamos. Mas sem brutalidades dos gestos, por favor.
*Chico Barbosa, autor do blog "Car & Fun", é jornalista e doutor em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP, editor da "CBNEWS Books" (especializada em livros sobre cultura automotiva) e editor contribuinte de Motor da revista "VIP"
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