Conheça o Miau, museu sobre carros com jeito único no mundo (e fica em SP)
Museu da Imprensa Automotiva mostra que Brasil está aprendendo a guardar história do carro, do país e até do jornalismo
Quem chega ao número 108 da rua Marcelina, zona oeste de São Paulo, dá de cara com duas relíquias. Uma é o Chevrolet Omega GLS 1998, da última safra produzida pela General Motors no Brasil (o australiano estrearia naquele mesmo ano, meses adiante) -- todo original e que pertencera ao jornalista e engenheiro Fernando Calmon, colunista de UOL Carros --, que dá boas-vindas aos visitantes.

Relíquias com e sem rodas
Jornalista de 44 anos, Rozen amealhou cada item distribuído nos mais de 30 salões visitados ao longo de sua carreira. Em 1998, já atuando no segmento automotivo, herdou um polpudo acervo da editora em que trabalhava. "A empresa ia mudar de endereço e jogar todo o arquivo fora. Foi ali que tive a ideia de montar o museu."
Essa é a origem de itens pitorescos como um crachá de visitante à fábrica da Ferrari, em Maranello (Itália), um rádio de pilha da Volvo e até caixa de fósforos distribuída à imprensa no Salão do Automóvel de 1970 -- parece prosaico, mas é uma "relíquia" da época em que era permitido fumar mesmo em ambientes públicos fechados, mesmo dentro de um evento cheio de carros, carpetes, papeis e muitos elementos inflamáveis.
No primeiro andar, o "túnel do tempo" dá acesso a publicações como a primeira edição da "Quatro Rodas", de agosto de 1960, e principalmente a rara "Mecânica Popular", versão brasileira da "Popular Mechanics", de 1902.
Do lado direito do corredor, cartazes, placas e jornais contam a evolução da imprensa (e da indústria) automotiva, iniciada em 1911 pela pioneira "Revista de Automóveis".
Inebriado pelo reencontro com papéis desbotados, revistas amareladas e manuais de proprietário de carros que já se foram, chegamos ao Chevrolet Opala Comodoro 1988. Dentro dele, sentando em seu banco largo e aveludado, o visitante assiste a um vídeo que narra a trajetória do sedã, desde sua estreia em dezembro de 1968 até a despedida, em abril de 1992, um milhão de unidades depois.
A exposição é itinerante, e o Ford Corcel -- que completa 50 anos em 2018 -- é o principal candidato a próxima exibição, prevista para o primeiro semestre de 2018.
Senna na TV, cerveja na geladeira
No segundo andar, os impressos dividem espaço com TV e rádio. Numa Gradiente de tubo (dê um Google se não souber do que se trata), programas automotivos das décadas de 1980 e 1990. Um deles mostra a chegada da Audi no Brasil, em 1994, com direito a uma volta em Interlagos com Ayrton Senna -- líder da empreitada, ao lado do irmão -- pilotando um A6 e um S2. Algumas horas depois, a mesma fita, reproduzida através de um vídeo-cassete Panasonic G9, exibia a notícia e os desdobramentos do falecimento do tricampeão de Fórmula 1, morto em 1º de maio daquele ano.
No rádio pregado na parede, dá para ouvir boletins do "Jornal do Carro", ainda na voz de Joel Leite, outro conhecido jornalista e blogueiro de UOL Carros. Fica ali também um café, que serve sobremesas e a indispensável cerveja do Miau, artesanal.
Em uma das estantes, livros e mais revistas, organizados por marca. Na prateleira à sua frente, livros à venda, uma das fontes de sustento do museu. "Além do patrocinador atual, a Audi, precisamos de mais apoiadores. A ideia é em breve abrir o espaço também para palestras, eventos e cursos", explica Rozen.
O idealizador conta ainda que o Miau é uma pequena parte de todo seu arquivo. "Ao todo, tenho cerca de 10 mil itens, todos catalogados. Aqui no Miau está cerca de 10% disso", revela. A ideia é que o público -- formado por jornalistas, entusiastas de automóveis, estudantes ou simplesmente quem curte museus -- nunca se entedie: "Dá para renovar o Miau mais umas dez vezes, se precisar".
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Boa parte do acervo foi doada. Um dos poucos investimentos materiais foram os R$ 500 desembolsados pela "Vida na GM", publicação da General Motors no Brasil e tida como a pioneira entre as revistas institucionais.
Ainda de acordo com Rozen, a “biblioteca” é composta por 60% de artigos relacionados a automóveis, 10% a motos, 10% a caminhões e ônibus e 20% a automobilismo. Este último tema deverá ser ampliado no próximo ano, a julgar pela procura e fidelidade do público.
Só não tente comprar o que não está à venda. "Exceto pelos livros repetidos ou doados para tal finalidade, nada aqui está à venda. A ideia é preservar e dividir essas fontes de conhecimento", avisa Rozen.
Melhor fazer como seu Nilton, que apareceu por lá durante nossa visita. Pagou ingresso, visitou e antes de sair prometeu doar ao Miau tudo o que colecionou por cerca de 60 anos. Todo gentil, ainda prometeu mandar um caminhão entregar.
"Na verdade, o museu é de todos que ajudaram a construí-lo, que doaram parte do que guardavam por algum motivo", afirma Rozen. "Meu trabalho é só fazê-lo funcionar, atrair visitantes e perpetuar essa história, que é não apenas do carro e do jornalismo, mas também do Brasil". Que assim seja!
* Siga Rodrigo Mora e seus clássicos no Instagram: @moranoscarros
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