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Carro clássico sobrevive a elétricos e autônomos? Falamos com especialista

Murilo Góes/UOL
Imagem: Murilo Góes/UOL

Rodrigo Mora

Colaboração para o UOL

02/11/2017 04h00

De um lado, restrições cada vez mais severas contra carros movidos a combustão. Em Paris, por exemplo, não se embrenha pelo centro da cidade com veículo de mais de 20 anos sem receber dias depois uma intransigente multa. Até 2030, o governo francês prevê varrer das ruas todo carro movido a gasolina ou a diesel, velho ou novo.

Reino Unido e Alemanha prometem sanções similares em prazos parecidos. Celebra-se o carro elétrico como o único provedor da mobilidade do futuro, ainda que sequer as montadoras saibam para qual direção aponta o tal futuro.

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No outro lado, automóveis antigos se tornam cada vez mais valiosos e, desde o ano passado, reconhecidos pela Unesco como patrimônio histórico da humanidade. Ou seja, ninguém mexe com eles.

São movimentos quase antagônicos, que cedo ou tarde poderiam colidir. Mas para Patrick Rollet, presidente da federação internacional de antigomobilismo (Fiva), clássicos viverão em harmonia com elétricos e autônomos. Durante o CarDay Brasil Concoursd’Elegance, UOL Carros trocou uma ideia com o chefão da -- vamos lá arranhar francês -- Fédération Internationale des Véhicules Anciens, entidade máxima do antigomobilismo em todo o mundo. Confira.

UOL Carros: As restrições cada vez mais severas contra carros a combustão não afetarão os automóveis clássicos, por essência grandes poluidores?

Patrick Rollet: Em 1894, o então prefeito de Nova York realizou uma conferência para discutir um problema crítico nas grandes cidades: as fezes de cavalo. Cada um dos 100 mil cavalos usados para trabalho na cidade descarregava 10 kg de cocô nas ruas. Como se livrar daquilo? Três dias de reuniões depois, chegou-se à conclusão de que não havia solução. Contudo, ela chegou pouco tempo depois: o automóvel.

Hoje temos o mesmo problema: há muitos carros na rua. E como se vê, os cavalos foram relegados, na maioria das vezes, a atividades de lazer. Não nos próximos 10 ou 20 anos, mas daqui a 50 deverá ocorrer o mesmo com automóveis clássicos: servirão para atividades de lazer. Não acredito no futuro deles em grandes cidades, são muito congestionadas. Mas, para pegar uma estrada, participar de um passeio e socializar...

UOL: Recentemente, a Jaguar Land Rover esboçou um plano de eletrificação para toda sua linha, que incluía até mesmo um E-Type movido a eletricidade. Essa é uma alternativa para os modelos históricos?

PR: Definitivamente não. Deverá haver petróleo para esses carros, é parte de sua essência.

UOL: Como será usar a mesma rua na qual trafega um autônomo?

PR: A palavra certa é coexistência. Acho que vai funcionar. Creio que mesmo daqui a 50 anos haverá mercado para carros históricos, porque a paixão sempre estará lá, o sentimento de cultura de uma herança. Mas temos que ter mais jovens envolvidos com o antigomobilismo, daí sim será um movimento forte no futuro. Angariar jovens colecionadores é a chave do negócio.

UOL: E como conectar automóveis antigos a pessoas novas?

PR: Eu gostaria que você me desse a resposta. Isso realmente é um problema, um desafio para a Federação, para os clubes. Dois anos atrás, fizemos uma grande pesquisa em 26 países da Europa, a fim de saber qual a idade média dos colecionadores. Inglaterra: 70 anos; Alemanha, França e Itália: 62 anos. Na Polônia é onde estão os mais jovens, com média de 40 anos. Esse é o nosso futuro. Precisamos de pessoas jovens.

UOL: Mas em algum momento os atuais colecionadores deixarão seus carros para seus filhos e netos...

PR: Sempre foi um movimento sociológico. Mas, a atual geração "Facebook" não está interessada nisso quanto nós estávamos. Isso é um problema. Outro agravante é que os carros estão cada vez mais caros, e os jovens simplesmente não podem comprá-los. Um alento é que um pessoal mais novo na Europa está comprando carros mais acessíveis e ainda não valorizados, como o Renault 21. Eles restauram, pegam gosto pela coisa e partem para outros modelos.

UOL: Qual o melhor e o pior lugar para ser um colecionador de automóveis clássicos?

PR: EUA, Europa, Brasil, Argentina são bons lugares, com boa oferta, boa cultura. Já na China simplesmente não há colecionismo. Não há carros chineses antigos e você também não pode importar. Além disso, quando o veículo completa 10 anos, você tem que descartá-lo. Por isso não há construção de uma cultura automotiva. Mas não pense que o chinês está fora: quem pode, compra e deixa em Mônaco, Macau, Hong Kong...