Marca chinesa já fala em igualar "padrão coreano" de carros; quanto falta?
Recentes lançamentos mostram o que evoluiu nos carros da Lifan em 11 anos, mas também o longo caminho ainda a percorrer
As marcas chinesas aproveitaram o "boom" vivido pelo mercado automotivo brasileiro há alguns anos para se estabelecer como aquelas que ofereciam carros "completinhos" a preço de banana.
Tal tática deixou de dar certo por uma série de motivos: queda brusca nas vendas -- que afetou em cheio justamente o segmento de veículos "populares" --, adoção de cotas e sobretaxa para veículos importados e má fama (em relação a qualidade dos produtos e do pós-venda) são alguns deles.
A duras penas, porém, os asiáticos estão aprendendo que se quiserem operar em um país tão complexo quanto o nosso, terão que diversificar suas apostas e ingressar também em segmentos de maior valor -- afinal, são eles que conferem status e ajudam a construir o valor de uma marca.
A Lifan parece ter entendido o recado.
Em encontro com jornalistas brasileiros realizado na sede da fabricante, em Chongqing (região sudoeste da China), executivos da montadora prometeram que enfim vão se movimentar e lançar novos produtos para o país, reduzindo a "X60dependência".
Mais do que isso, esmiuçaram um ousado plano de evolução que tem como objetivo tornar seus produtos referência em tecnologia até 2024. Nesse processo, segundo os diretores, a marca conseguirá alcançar o padrão de qualidade atualmente visto em marcas coreanas, como Hyundai e Kia.
"Reestruturamos todo nosso departamento de pesquisa e adotamos critérios mais rígidos de desenvolvimento", contou Shen Hanjie, recentemente contratado pela Lifan para liderar a área de P&D (Pesquisa e Desenvolvimento) da companhia.
Hanjie estruturou esse plano de evolução em quatro estágios. De acordo com seu método, a montadora estaria atualmente passando do primeiro para o segundo nível. O terceiro seria atingido em 2020, com o lançamento de uma nova plataforma que daria origem a pelo menos quatro produtos.
A última etapa ficaria para 2024 e incluiria novos parâmetros de conectividade e interação entre motorista e veículo (como usar comandos de voz para ajustar a temperatura do ar-condicionado, por exemplo). Não houve interesse demonstrado quando questionados sobre condução autônoma.
No caminho certo...
Para chegar à afirmativa acima, nossa reportagem testou os dois produtos mais recentes lançados pela Lifan na China (ambos este ano): o suvão de sete lugares X80 -- que a marca promete lançar no Brasil até abril de 2018, como alternativa de R$ 100 mil a Toyota SW4 e Chevrolet Trailblazer -- e a minivan M7 -- ainda em "fase de estudos" para nosso país, que brigaria com Chevrolet Spin e JAC J6 caso viesse.
Primeira constatação: a melhora de um ano para cá -- havíamos feito a mesma visita em 2016 -- é perceptível.
Tomemos como exemplo o X80. Num período de 12 meses a Lifan praticou mudanças e resolveu problemas crônicos: aprimorou o isolamento acústico; acelerou as respostas do acelerador; fez melhorias no acabamento, usando materiais mais suaves ao toque, e reduziu desalinhamentos.
Lista de equipamentos também foi repensada -- partida do motor por botão, painel de instrumentos integralmente digital, tal qual o "cockpit virtual" da Audi e câmera de 360 graus são destaques --, assim como o visual. Parte dianteira deixou de ser mera cópia da Toyota Hilux e recebeu grade alargada, remetendo à Audi; traseira tem claríssima inspiração na BMW.
E a minivan?
Mostrada pela primeira vez aos jornalistas brasileiros, a minivan M7 é outra a se notabilizar por uma lista robusta de itens de série, que inclui central multimídia em tela destacada do painel, sensores de ponto cego, alerta de mudança involuntária de faixa e teto solar panorâmico.
Motores de ambos estão alinhados com as tendências: 4-cilindros turbo com injeção direta -- 2.0 TSI (olá, Volkswagen) de 183 cv para o X80; 1.5 GDI de 141 cv para o M7 --, gerenciados por transmissões manuais de cinco marchas ou automáticas de seis e oito velocidades, respectivamente.
...Mas ainda falta muito
A questão é que, apesar disso tudo, o caminho para alcançar o nível dos coreanos ainda é longo, pois ambos os projetos contam com falhas que ainda podem ser consideradas primárias.
No X80, por exemplo, não é possível abrir a tampa do porta-luvas sem bater nos joelhos, algo inacreditável para um SUV tão grande. O caso da M7 é um pouco mais grave. Projeto mais recente do grupo, e portanto o que mais deveria dispor de soluções inteligentes, a minivan possui direção (hidráulica) que dá "rebote" em qualquer tipo de ondulação, reação que compromete a segurança e põe em risco a integridade das mãos do motorista.
Já a alavanca para puxar ou empurrar os bancos traseiros proporciona enorme risco de esmagar um dedo, trauma que os proprietários do Volkswagen Fox conhecem de perto. Rebarbas e peças mal encaixadas comprometem o acabamento.
Falta ainda a adoção de uma identidade visual linear e definitiva: um carro da marca remete aos japoneses (X60), outro aos alemães (820), um aos italianos (X50) e um último aos americanos (vai falar que a M7 não é um clone da Ford S-Max?). No fim, nenhum deles remete à... Lifan.
Evolução contínua
É possível alcançar o tal padrão coreano daqui a sete anos? Sim, embora UOL Carros ache improvável. Mas não duvide dos chineses. Eles já mostraram que aprendem rápido -- não esqueçam que a Lifan é uma fabricante de apenas 11 anos --, e não têm restrições em usar seu poderio econômico para adquirir o conhecimento de quem já manja do riscado.
Portanto, o trabalho evolutivo precisa ser feito em passos largos. Afinal, são nos detalhes e no capricho que se determina se um carro será bom de verdade ou não.
Viagem a convite da Lifan Motors
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