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Novo Discovery usa truques para parecer menor e mais urbano; veja como anda

Leonardo Felix

Do UOL, em Los Angeles e Saint George (EUA)

03/03/2017 04h00

Terceira geração ganhou luxo e perdeu visual lameiro para vender mais, mas segue valente como sempre

Faça um desafio: coloque lado a lado a terceira geração do Land Rover Discovery e seu irmão menor, o nacional Discovery Sport. Sabemos que é quase impossível fazer isso na prática, mas ao menos imagine que, enquanto um tem monstruosos 4,97 metros de comprimento, 2,07 m de largura e 1,89 m de altura, o outro alcança 4,60 m x 2,07 m x 1,72 m, respectivamente.

Ou seja: tirando a largura, o novo Discovery faz o Discovery Sport parecer um "carrinho", algo que sabemos que ele não é. Isso ajuda a ter uma pequena noção de sua imponência.

Prestes a ser lançado no Reino Unido no próximo trimestre -- preço inicial já foi fechado em 43.495 libras (cerca de R$ 165 mil) --, o "suvaço" de sete lugares não deve demorar a aportar no Brasil: lançamento deve ocorrer até junho. E se por aqui o Discovery atual não sai por menos de R$ 328.900, podemos deduzir que o novo deve beirar R$ 350 mil na etiqueta mais barata.

Ele continua tão valente como antes -- comprovamos isso em teste de mais de 600 quilômetros rodando nos desertos de Utah e Arizona (Estados Unidos) -- e está ainda mais grandalhão -- especialmente em comprimento e altura, já que cresceu 13 e 5 cm, respectivamente --, mas a mensagem que a Land Rover quer passar é outra.

Inovações e tradições

Com inspiração no conceito Discovery Vision Concept, de 2014, o novo Discovery (que não usará o número 5, que seria alusivo às trocas de geração e atualizações visuais no nome) chegou a ser comparado pela nossa reportagem com o Fiat Mobi em relação aos traços visuais. Ok, a "culpa" disso vem mais do fato de o citycar brasileiro usar soluções de "size impression" para parecer maior do que é, mas não deixa de ser curioso.

Interessante mesmo é que o próprio Discovery faz uso do truque de ilusão de ótica, mas no sentido oposto: se apropria de elementos estilísticos do Evoque -- como o teto bicolor fluido e a linha de cintura levemente ascendente -- a fim de tentar parecer menor e mais urbano do que é.

Em outras palavras, ganhou traços visuais genéricos a fim de agradar a um público mais amplo, em primeiro lugar, mas também para abrir espaço à nova família do Defender, que será posicionada como a opção mais off-road da fabricante lá por 2018 ou 2019.

Por fora, o resultado ficou polêmico: o Discovery parece um tanto desproporcional, principalmente quando visto de traseira (ele fica alto demais para a largura, parecendo até um micro-ônibus). Já por dentro... A sensação ao dirigir é, de fato, similar à de um carro de porte menor, só que com doses cavalares de espaço, conforto, conectividade e luxo.

Como o Discovery tem um renome a zelar, a terceira geração manteve algumas tradições (ou a "essência", como a Land Rover prefere dizer) para não promover uma ruptura tão grande assim.

Exemplo: se as linhas "quadradonas" se foram, o degrau no teto (muito discreto, é verdade) segue presente, tendo papel fundamental para promover espaço decente a quem senta na terceira fileira de assentos -- e acredite: o Discovery é um dos pouquíssimos veículos a conseguir carregar sete adultos sem causar problemas na coluna.

Lanternas viraram horizontais e bipartidas, mas o desenho da tampa do porta-malas continua assimétrico, com o nicho da placa posicionado à esquerda. Esta última, aliás, é uma de suas soluções mais controversas. 

Land Rover Discovery 2018 - Leonardo Felix/UOL - Leonardo Felix/UOL
Acanhada, lá ao canto esquerdo, está a nova geração do Discovery. Sejamos sinceros: o modelo perdeu muito de seu apelo e charme ao optar por um estilo "Evoque anabolizado"
Imagem: Leonardo Felix/UOL

Na trilha da tecnologia

Apesar da nova carinha de SUV de condomínio fechado, o Discovery não perdeu nada de sua capacidade off-road. UOL Carros abusou dele em estradas de asfalto, gelo, lama, pedras e trilhas de areia, e pode atestar. Para conferir o que ele consegue fazer, veja no álbum que abre esta reportagem.

A diferença é que, agora, a valentia está cada vez mais atrelada a módulos eletrônicos: do seletor de reduzida (com duas velocidades e que permite ativação em movimento a até 60 km/h) à tração -- integral no modo normal, com entrega de 50/50 ou variável a até 78% para o eixo dianteiro e 68% ao traseiro --, tudo é controlado eletronicamente.

As babás são onipresentes, inclusive em modo off-road: apesar de oferecer cinco estilos específicos (lama, terra, grama, cascalho e areia), o módulo Terrain Response de segunda geração permite andar o tempo inteiro em "auto", pois é capaz de fazer leituras do terreno a cada milésimo de segundo para entregar a tração 4x4 de acordo com a situação (até 100% para cada eixo). 

As suspensões também se adaptam às circunstâncias. Dotadas de amortecedores pneumáticos, elas aumentam a altura do solo em 7,5 cm para andar no barro -- índice padrão é de 28,3 cm --, e rebaixam em 1,3 cm quando se passa de 105 km/h numa rodovia.

Motorização oferece o moderno propulsor 2.0 4-cilindros em alumínio da família Ingenium (recém-estreado no F-Pace), em calibrações de 180 ou 240 cv, sempre a diesel, e também o velho conhecido V6 3.0. Este último é o que deve ser vendido no Brasil, nas configurações turbodiesel (258 cv e 61,2 kgfm) ou a gasolina com compressor (340 cv e 45,9 kgfm). Transmissão é automática de oito velocidades da ZF.

Nas versões mais fortes o Discovery 5 será capaz de rebocar até 3.500 kg de carga (reboque com freios). Volume do porta-malas é de humildes 258 litros com todos os bancos eretos, mas chega a 1.231 litros com a terceira fileira rebatida e a 2.500 quando a segunda também se esconde. Capacidade de imersão na água cresceu 20 cm, para 90 cm.

Quase um carro de passeio

Todas essas informações impressionam, mas aqui vai um balde de água fria: a terceira geração do Discovery não foi pensada para os trilheiros, mas sim para famílias cujas aventuras de maior destaque serão a visita semanal ao shopping ou uma eventual esticada até a casa de parentes no interior.

É por isso que, além do visual polêmico, ele quer ser tão requintado, dócil na condução e interativo. Para o motorista há os assistentes de estacionamento, auxílio em subida e descida em rampas e manutenção em faixa, além de frenagens automáticas emergenciais e controle de cruzeiro adaptativo.

Ao volante, encontra-se a suavidade de um sedã médio: isolamento acústico é primoroso e a direção elétrica progressiva, muito precisa. Acelerações também são bastante suaves -- na verdade até falta motor, com exceção à configuração V6 a gasolina.

Contribui para tal sensação o "regime" de 480 kg feito com o uso de carroceria monobloco em alumínio, além da distribuição de peso em 50:50. Só não deu para suavizar o rolamento nas curvas mais fortes.

Sala de estar

Passageiros podem se entreter com a central multimídia InControl Touch Pro (tela tátil de 10 polegadas, projeção de celulares via Apple CarPlay e Android Auto e conexão com internet com WiFi para até oito smartphones simultaneamente), sistema de áudio Meridian com 14 alto-falantes, nove entradas USB, seis tomadas 12V e diversos porta-trecos projetos para caber até tablets.

Lembra-se das suspensões pneumáticas? Elas são capazes de rebaixar a carroceria em até 6 cm quando o veículo está parado, para facilitar o acesso de crianças e cachorros. Até o rebatimento dos bancos é feito eletricamente. Tudo luxuoso e cômodo até demais, até chegar a hora de estacionar: o carro quase não cabe na vaga.

Viagem a convite da Jaguar Land Rover.