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Como a Volvo pretende superar BMW no mercado brasileiro de carros de luxo

A Volvo vem se destacando no mercado brasileiro nos últimos anos. Após o fim do Inovar-Auto, o antigo regime automotivo que praticamente obrigava importadoras a abrirem fábricas no Brasil, a montadora sueca passou a avançar no país. Das maiores marcas premium de automóveis, foi a única a não investir na produção local.

Mas, quando as regras mudaram, e esse regime foi substituído pelo Rota 2030 (em 2018), as vendas da Volvo começaram a deslanchar. O lançamento das novas gerações de XC60 e XC90 e, posteriormente, de suas variantes híbridas, bem como do 100% elétrico XC40, ajudaram a elevar o volume de emplacamentos.

Em 2022, a Volvo foi terceira colocada no segmento de marcas de luxo e, no ano passado, vice-líder. Ficou atrás apenas da BMW, a única das premium que nunca paralisou a produção nacional desde a inauguração de sua planta em Araquari (SC), em 2014. Mas, neste ano, a Volvo quer ir além.

Efeito EX30

Caso seus planos deem certo, a Volvo pode ultrapassar a BMW para assumir o primeiro lugar no ranking de marcas automotivas de luxo. Isso apesar de um desempenho muito fraco em abril: no mês passado, a marca foi apenas quinta colocada na categoria premium, atrás de BMW, Porsche, Mercedes-Benz e Audi - respectivamente primeira, segunda, terceira e quarta colocadas.

De acordo com o CEO da Volvo do Brasil, Marcelo Godoy, isso ocorreu por causa da expectativa em relação ao lançamento do EX30, que começou a ser entregue aos clientes há cerca de dez dias. A espera acabou levando à queda nas vendas dos dois outros carros elétricos da marca - XC40 e C40.

É justamente o EX30 que promete virar o jogo, se os planos da Volvo saírem como o esperado. A montadora estima vender mil unidades do produto - que é importado da China - no Brasil. Por mês. Para comparação, em abril o modelo premium mais emplacado foi o BMW Série 3, com 425 exemplares.

Se tudo correr bem para o EX30, a Volvo pode chegar a cerca de 1,5 mil unidades vendidas por mês no Brasil. E, mesmo que ocorra a perda de clientes para XC40 e C40 por causa da chegada do novato, como ocorreu em abril, ainda assim a montadora pode ter entre 1,3 mil e 1,4 mil exemplares mensalmente. A média mensal da BMW em 2024 é de 1,2 mil unidades, com pico de 1,3 mil.

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China é aliada

Novo Volvo EX30 hoje é o carro premium mais acessível do Brasil
Novo Volvo EX30 hoje é o carro premium mais acessível do Brasil Imagem: Rafaela Borges/UOL

A vantagem da Volvo é que, diferentemente da BMW, o carro-chefe da sueca chegou agora. A alemã já tem seus campeões de vendas lançados no Brasil, que são X1 e Série 3, ambos montados em Araquari (SC) - é justamente isso que dá vantagem à BMW frente à concorrência.

Dentre as marcas premium, a BMW é a que tem mais capacidade de entregar seus veículos ao mercado, pois depende menos da conjuntura internacional. Os produtos são montados no Brasil para consumo interno, diferentemente das demais, que trazem carros de outros países - principalmente da Europa.

Audi e JLR (ex-Jaguar Land Rover) também montam aqui o Q3, o Evoque e o Discovery Sport. Porém, não têm a mesma capacidade da BMW. Mas, então, como a Volvo pode superar a alemã? É que a sueca tem um aliado que garante status para enfrentar a número 1 no ranking de vendas: a China.

O EX30 é um carro chinês. O país asiático tem ampla capacidade de produção, que gera até altos estoques. Além disso, está ávida por entregar seus produtos automotivos ao mundo. Por isso, criou um rápido e eficiente sistema logístico de exportação.

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BYD e GWM, que estão conseguindo altos volumes no Brasil, são a prova da eficiência da China como exportadora de veículos, capaz de entregar grande número de exemplares em pouco tempo. Assim, produto não vai faltar. Para o EX30 cumprir os planos da Volvo, basta o consumidor se interessar.

Preço é forte argumento

E há grandes chances de isso ocorrer, também por causa da China. O carro chinês tende a ser mais barato do que os produzidos em qualquer outro lugar do mundo. Tanto que o EX30 custa entre R$ 229.950 e R$ 294.950. O BMW mais barato atualmente é o X1 de entrada, por R$ 299.950. Já o Série 3 parte de R$ 322.950.

Na Audi, o modelo mais em conta, A3 (hatch e sedã), custa R$ 287.990 nas versões de entrada. O mais vendido, Q3, começa em R$ 297.990. Já Mercedes-Benz, JLR e Porsche estão em um patamar bem mais alto de preços.

Por isso, com o EX30, a Volvo entra em uma faixa para atrair clientes que, até então, não eram de marcas de luxo. Dependendo da versão, o valor é semelhante ao de alguns SUVs médios brasileiros, que têm altos volumes. Dá para concorrer também com os híbridos plug-in chineses, que estão fazendo muito sucesso.

Se o consumidor brasileiro aceitar bem o EX30, a BMW tem algumas opções para continuar na liderança. Porém, não será fácil. Aumentar a produção de X1 e Série 3 em Araquari seria uma hipótese. No entanto, há a questão do preço. A alemã não consegue atingir os clientes que o novo Volvo pode conquistar. Ao menos, não com as versões disponíveis atualmente.

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A BMW pode até trabalhar com promoções e condições especiais para alavancar vendas em meses específicos, se tiver exemplares para entregar. Mas não com um preço de tabela tão baixo quanto o do elétrico chinês da Volvo.

E o EX30 já mostrou que, mesmo com o protecionismo, conseguiu manter preços competitivos. O reajuste gerado pela alta do imposto de importação para elétricos já foi repassado ao produto, que ficou 5% mais caro em relação aos valores anunciados na pré-venda, no ano passado - ali, o inicial era de R$ 219.950.

Em julho, haverá novo aumento de imposto, dos 10% atuais para 18%, mas a Volvo tem planos de segurar o preço do EX30.

Outras novidades

Volvo EX90, SUV de grande porte 100% elétrico, vem aí
Volvo EX90, SUV de grande porte 100% elétrico, vem aí Imagem: Divulgação

Mas não é só o EX30 que está na lista de novidades da Volvo para este e os próximos anos.

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Diferentemente do que vem ocorrendo com outras montadoras pelo mundo, a sueca continua firme no propósito de ter uma linha 100% elétrica até a próxima década. Tanto que, nos próximos lançamentos, não haverá mais versões a combustão, nem mesmo híbridas.

No segundo semestre, chega ao Brasil o EX90, que é a nova geração do XC90 só com versões elétricas. Porém, o atual SUV híbrido continuará sendo vendido, sem previsão de sair de linha.

O mesmo processo ocorrerá com a nova geração do XC60, que será chamada de EX60 e também só terá configurações elétricas. A Volvo manterá o SUV híbrido no Brasil. O novo carro será apresentado em 2025, e chegará ao mercado nacional entre o fim do próximo ano e o início do seguinte, como modelo 2026.

Mas, ainda em 2024, a Volvo vai mudar o nome de alguns de seus carros no Brasil, seguindo o novo padrão adotado mundialmente - e que deve facilitar a posicionamento quando as diferentes gerações passarem a conviver no mercado. Todos os elétricos passarão a ser "EX" ou "EC", sendo que a segunda letra identifica o tipo de carroceria - SUV ou SUV cupê.

O XC40, que no Brasil só tem versões elétricas - lá fora, há híbridos -, passará a ser EX40. O SUV cupê C40 será chamado de EC40. Isso ocorrerá na mudança da linha 2024 para a 2025, na virada do semestre.

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