Primeira Classe

Primeira Classe

Siga nas redes
Só para assinantesAssine UOL
OpiniãoCarros

Por que montadoras rivais têm falhado ao tentar derrotar a Fiat Toro

A Rampage estreou no mercado brasileiro fazendo bonito no ranking, deixando a maioria das picapes médias para trás em seu primeiro mês de vendas, outubro. O modelo usa a fórmula da Toro: plataforma de carro de passeio (a mesma da Fiat, aliás), tração 4x4 (no caso do modelo da RAM, em todas as versões) e opções a diesel.

Com isso, conseguiu embalar bem na estreia, mas provavelmente jamais terá o mesmo volume da Toro. Isso porque tem um posicionamento de preço superior, trazendo motor a gasolina mais forte e mais tecnologia embarcada - além da tração integral desde a versão básica.

Mas se a Toro é um exemplo a ser seguido, por que ninguém nunca conseguiu lançar um modelo para derrotá-la, ou ao menos se aproximar no ranking de vendas? A resposta é mais simples do que parece: a concorrência não consegue.

E, antes de explicar o que torna a Toro tão única e difícil de "copiar", há um outro "case" importante no mercado automotivo, bem anterior à picape da Fiat. Seu nome: Ford EcoSport.

Escola do EcoSport

O EcoSport foi lançado em 2003. A ideia parecia simples: um utilitário-esportivo feito sobre plataforma de carro compacto. Mas, se fosse tão simples, todo mundo teria feito igual rapidamente. E levou nada menos do que 12 anos para o Ford finalmente ser superado.

Atualmente, o que não falta é SUV compacto feito sobre base de carro de passeio. Há, inclusive, hatch que quer ser chamado de utilitário-esportivo, mas isso é outra história. Porém, levou muito tempo para as montadoras chegarem a essa fórmula, inaugurada no Brasil pelo EcoSport.

O desenvolvimento na indústria automobilística leva tempo, e nesse caso levou mais que o normal. E, na verdade, as respostas acabaram vindo de fora. Com carros nacionais, mas desenvolvidos em outros países.

O primeiro, em 2011, foi o Duster, produto da marca romena de baixo custo Dacia que a Renault nacionalizou. O veículo até conseguiu superar o EcoSport no ranking de vendas em alguns resultados mensais. Mas não tirou sua liderança geral.

Continua após a publicidade

O EcoSport só a perdeu em 2015 para dois modelos ao mesmo tempo, que começaram a brigar entre si pelo primeiro lugar entre os SUVs compactos. Eles são Honda HR-V, derivado do Fit, e Jeep Renegade. A partir daí, o Ford nunca mais voltou ao primeiro lugar, até sair de linha definitivamente em 2021.

Depois do Honda e do Jeep, ambos desenvolvidos fora do Brasil, vieram muitos outros integrantes para o segmento de SUV compacto. E foi o Renegade, aliás, que deu ao então Grupo FCA (atualmente Stellantis) a chance de ter um "case" como o do EcoSport para chamar de seu.

A plataforma Small Wide

O HR-V trouxe ao segmento de SUVs compactos espaço interno e porta-malas amplos, demandas do cliente do SUV que o EcoSport não era capaz de entregar. O Renegade veio com suspensões independentes nas quatro rodas, tração 4x4 e motor a diesel. Ambos chegaram depois, mas chegaram melhor, e por isso derrubaram o "rei" da ocasião, o Ford.

Mas se o Renegade trouxe tudo isso, por que não usar sua plataforma, Small Wide, para criar uma rival para picapes médias? Um produto acima da Strada, com atributos para ganhar não todos, mas alguns dos clientes de Hilux, S10 e cia. Especialmente aqueles que não usam o produto para o trabalho pesado.

A solução de produzir o modelo sobre base de carro de passeio foi a resposta para preços mais baixos que o dos picapes sobre chassi. E foi então que surgiu a Toro. O sucesso foi estrondoso e, de fato, muitos que pensavam em comprar médias tradicionais aderiram ao modelo da Fiat.

Continua após a publicidade

Tenho um exemplo dentro de minha família: meu pai. Agropecuarista ativo e tradicional cliente de Ranger e S10, ele aderiu à Toro. Precisava de um carro com caçamba, pois levava algumas coisas à fazenda, e tração 4x4 - afinal, as estradas são de terra. Porém, nunca usou seu próprio veículo para o trabalho pesado - havia outros produtos para isso.

Ele jamais se arrependeu de ter optado pelo modelo da Fiat, que foi seu último veículo. Fora do perfil de meu pai, há também aquele que quer uma picape porque gosta do segmento, mas vive na cidade. Além do preço menor, a maior facilidade de manobrar a Toro e seu conforto ao rodar atenderam perfeitamente esse consumidor.

A verdade é que há muitos picapeiros que querem picape por querer, não porque realmente precisam desse tipo de produto. Para esses clientes, a resposta foi as versões 4x2 flex do produto. E, assim, a Toro triunfou, tornando-se o segundo modelo mais vendido do segmento, atrás apenas da Strada.

Por que ninguém derrota a Toro

Ninguém consegue lançar um modelo à altura da Toro porque nenhuma marca tem meios para isso. Por enquanto. Não é fácil ter uma plataforma Small Wide, que foi criada na Itália por Claudio Demaria, engenheiro da Fiat que atuou muitos anos no desenvolvimento de produtos do Brasil. Estreou em um Jeep, o Renegade, e agora está em diversos produtos da Stellantis.

Na Europa, por exemplo, um dos produtos a utilizar a Small Wide é o 500X. Fato é que essa plataforma é a alma da Toro, e aquilo que permite a ela ter tudo o que tem: tração 4x4, suspensões independentes e porte. Afinal, trata-se de um base extremamente flexível que, entre os SUVs, deu origem desde o pequeno Renegade ao grandalhão (e espaçoso) Commander.

Continua após a publicidade

Não é como se a Toro fosse feita sobre a base do Argo ou Pulse. Nesse caso, não teria dado certo. Sobre os atributos da picape, ter tração 4x4 e motor a diesel é fundamental. Se isso já faz a diferença entre os SUVs - e é o que mantém a liderança do Compass, apesar da cada vez mais ele ganhar rivais -, imagine no segmento da Toro?

Mas o porte também importa. Afinal, quem quer uma picape menor e cabine dupla pode ter uma Strada - e pagar bem menos. Na Toro, o fato é que ela está bem mais próxima de uma média do que uma compacta - tem 4,95 metros de comprimento.

A tentativa

Como ocorreu com o EcoSport, a reação da concorrência à Toro não veio rápido. E, neste caso, talvez seja mais complicada, pois não basta ter uma plataforma de carro compacto convencional.

A Oroch chegou junto com a Toro e até já teve versão 4x4, embora nunca tenha recebido propulsor a diesel. Mas o porte é bem menor (4,69 metros de comprimento). O modelo nunca foi ameaça para a picape da Fiat.

Então veio a nova geração da Montana. Antes do lançamento, o rumor é de que deixaria de ser rival da Strada para concorrer com a Toro. Quando chegou, o modelo da Chevrolet veio sem tração 4x4, sem suspensão independente nas quatro rodas e com porte de Oroch.

Continua após a publicidade

Como a geração anterior, é uma picape feita sobre base dos carros compactos da marca (no caso do modelo atual, o Onix). Ficou apenas maior que o modelo anterior. Oroch e Montana, aliás, têm um conceito muito mais parecido com a da Strada cabine-dupla que com o da Toro.

Próximas tentativas

A Volkswagen trabalha em um modelo para concorrer com a Toro, posicionado acima da Saveiro. Será feito sobre a plataforma MQB, que tem duas versões na América do Sul. Uma é a do Polo, Virtus, T-Cross e Nivus. A outra, instalada na Argentina, é a do Taos.

A segunda seria mais adequada para uma real rival da Fiat. Aliás, a MQB está preparada para tração 4x4 e até motor a diesel. Mas, por enquanto, fica a pergunta: o futuro modelo da VW será Toro ou Montana?

A Hyundai tem um produto global com todos os atributos para encarar a Toro. Trata-se da Santa Cruz, com 4,97 metros de comprimento. A picape já foi flagrada aqui e circulam vários rumores sobre sua nacionalização, que pode de fato ocorrer.

Mas qual é o empecilho? O produto não usa a plataforma que a Hyundai já tem no Brasil (do HB20 e do Creta). A base é outra, para produtos maiores. É a mesma do Tucson, que já foi produzido no Brasil pela Hyundai-Caoa - não pela operação da montadora controlada pela matriz sul-coreana, que é separada.

Continua após a publicidade

Se confirmada a produção da Santa Cruz no Brasil, ela poderá ser o primeiro modelo a ter reais atributos para encerrar o reinado da Toro, que já dura sete anos - um tempo ainda curto, se comparado ao do EcoSport.

Quer ler mais sobre o mundo automotivo e conversar com a gente a respeito? Participe do nosso grupo no Facebook! Um lugar para discussão, informação e troca de experiências entre os amantes de carros. Você também pode acompanhar a nossa cobertura no Instagram de UOL Carros.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

Deixe seu comentário

Só para assinantes