Como eu comecei a pedalar em SP e como isso pode virar inspiração para você
Costumo brincar que na época em que comecei a me deslocar de bicicleta pela cidade de São Paulo tudo era mato por aqui. Não havia um quilômetro de ciclovia, tampouco o mínimo de consciência de motoristas e dos próprios ciclistas.
Quando optei pela bike, no começo de 2001, nem mesmo eu tinha a noção exata dos direitos reservados aos ciclistas, que eram raros pelas ruas da capital paulista. Mas eu aderi ao ciclismo sem pensar muito. Foi uma questão de necessidade.
Eram tempos de grana curta, e a bicicleta se tornou importante para aumentar meu salário. Eu trabalhava de madrugada em uma famosa rede de fast food na zona oeste de São Paulo. À época, eu ganhava um salário mínimo, aproximadamente R$ 180. O vale-transporte era repassado em dinheiro, direto na conta.
Pensei, então, em incorporar essa quantia aos meus vencimentos. Na ocasião, a passagem de ônibus em São Paulo custava R$ 1,40. Dessa forma, eram R$ 2,80 de economia por dia. Ao fim do mês, eu tinha quase R$ 70 a mais, o que representava um aumento de quase 40% do salário.
Peguei uma bicicleta que estava encostada em casa e passei a usá-la todos os dias. Eu deixava o bairro do Butantã às 22h e pedalava oito quilômetros até a esquina das avenidas Rebouças e Henrique Schaumann, em Pinheiros. Às 7h, pegava o caminho de volta, com a facilidade de encarar um trajeto com menos carros, pois a maior parte ia em direção ao centro da cidade.
Depois disso, não parei, mesmo em épocas em que estive mais distante da bicicleta. Em 2015, depois de me tornar colaborador do UOL, voltei a usá-la todos os dias, muito em função das melhorias em relação à estrutura da cidade. Sim, qualquer ciclovia faz diferença no nosso dia a dia.
Hoje, vejo mais facilidade àqueles que buscam mudar o estilo de vida nas cidades e que, em meio à pandemia do novo coronavírus, tentarão minimizar os riscos na aglomeração no transporte público com deslocamentos feitos de bicicleta.
Há mais respeito, há mais condições, há mais ciclistas. O cenário é mais convidativo do que há 20 anos. Sou um otimista e sonho com uma cidade mais plural na mobilidade.
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