Paula Gama

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Moda não pegou: por que as locadoras estão fugindo de carros chineses

Quando o assunto são locadoras de veículos, boa parte do ocidente está vivendo um fenômeno em comum: o dilema dos carros elétricos.

Apesar de as vendas de veículos do tipo receberem incentivos e subsídios do governo de diversos países, e fazerem sucesso entre clientes pessoa física, as locadoras estão fugindo dessa tecnologia.

Dentre as principais razões está a elevada desvalorização desses automóveis e o alto valor de manutenção em caso de batidas. Em países como o Brasil, isso acaba reduzindo o interesse das locadoras por veículos a bateria de montadoras chinesas, que têm priorizado a eletrificação da respectiva gama nos mercados onde atuam. Mas o fenômeno está longe de ser exclusivo de marcas automotivas do gigante asiático.

A Hertz foi a primeira locadora a trazer o debate à tona, quando decidiu se desfazer de um terço da sua frota de elétricos, boa parte deles produzida pela californiana Tesla, para comprar veículos tradicionais a combustão.

Para justificar a escolha, a gigante citou os altos custos de reparo e a desvalorização dos veículos a bateria: a conta não estava fechando. Nos Estados Unidos, o problema foi agravado pelo fato de o governo local passar a oferecer subsídios na compra do carros elétricos novos, o que desvalorizou ainda mais os usados do tipo.

Pouco tempo depois, foi a Sixt - maior locadora da Europa - que anunciou a desistência dos carros da Tesla, pela mesma razão mencionada acima.

Como é no Brasil

Para Paulo Miguel Junior, vice-presidente da Abla (Associação Brasileira de Locadoras de Automóveis), o cenário é ainda mais complexo no Brasil.

Aqui, são os carros elétricos chineses, mais acessíveis, que têm afastado o interesse das locadoras devido ao temor de desvalorização - já que a venda de carros seminovos também é uma importante fonte de receita para essas empresas.

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Para se ter uma ideia, da frota de 1,5 milhão de carros das locadoras brasileiras em 2023, apenas 657 são elétricos. O cenário está melhor para os híbridos, com 7,7 mil unidades.

"As incertezas e a falta de conhecimento dos usuários ainda não torna viável a locação diária de elétricos. Existem alguns carros do tipo disponíveis, mas ainda são poucos. A entrada dos veículos elétricos chineses e a queda constante dos preços também dificultam a precificação, fica complicado", analisa.

Aluguel de longo prazo

Para o executivo, em locações de longo prazo, a introdução de elétricos tem funcionado melhor, principalmente quando o cliente tem sua estrutura própria de carregamento.

"Observo que, tanto no Brasil quanto no mundo, eles têm funcionado principalmente em contratos de locação de longo prazo, nos quais os usuários possuem seus próprios pontos de recarga. No entanto, na locação diária, os desafios aumentam, pois muitos locatários buscam esses veículos para experiências curtas, sem compreender completamente os métodos ideais de recarga, dependendo por vezes de pontos públicos nem sempre eficientes e ainda utilizando de forma a descobrir ou abusar do veículo, razão pela qual o alto número de sinistros dos carros elétricos e seus custos de reparo mencionados pela Hertz", analisa Paulo Miguel.

Para ele, a discussão central reside na diferença de custos iniciais entre os veículos elétricos e a combustão.

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"Apesar de a adoção de veículos elétricos estar crescendo globalmente, agora também no Brasil, a expansão tem sido mais expressiva nos países com incentivos governamentais para aquisição, criando, por vezes, dificuldades na revenda e desvalorização do veículo devido ao incentivo inicial. Este cenário é exacerbado pelo desconhecimento do usuário, impactando a oferta e a procura", finaliza.

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