Paula Gama

Paula Gama

Siga nas redes
Só para assinantesAssine UOL
ReportagemCarros

Golpe no posto: por que você pode se dar mal ao abastecer com dinheiro vivo

É comum deparar-se com postos de combustível trazendo preços tentadores, mas com uma condição: o pagamento só pode ser feito com dinheiro vivo.

À primeira vista, a condição pode até fazer sentido, já que o pagamento com cartão de crédito ou débito costuma vir acompanhado de taxas pagas pelos postos às respectivas operadoras. Contudo, entidades do setor de combustíveis alertam: quem paga em espécie corre sério risco de cair em um golpe.

Emerson Kapaz, presidente do Instituto Combustível Legal, explica que a fraude de combustível causa um prejuízo de R$ 29 bilhões por ano - R$ 14 bilhões estão relacionados à sonegação de impostos e o restante, R$ 15 bilhões, corresponde a fraudes operacionais.

"Essas fraudes operacionais podem ser de dois tipos: em relação à qualidade do produto [adulteração] ou à quantidade. Nesse último caso, a bomba registra uma quantidade de produto, mas - na prática - o consumidor leva menos. É muito comum que postos fraudulentos apliquem, até mesmo, os dois golpes ao mesmo tempo", informa.

Siga o UOL Carros no

Para atrair os consumidores, esses postos oferecem preços abaixo do mercado. É como se, hipoteticamente, cobrassem R$ 1,90 por litro de combustível, enquanto os concorrentes estão vendendo por R$ 2,40.

"Promoção com pagamento em dinheiro, principalmente no fim de semana, quando a fiscalização é menor, pode ser cilada. É uma forma de dificultar a comprovação de onde você comprou o combustível problemático. Esse setor é um dos poucos em que ainda se paga mercadoria em dinheiro vivo, e isso atraiu o crime organizado, que usa postos para lavagem de dinheiro e outros crimes, como a fraude de combustível", alerta Kapaz.

Outra recomendação do Instituto, que defende consumidores contra adulteração no combustível, é sempre pedir a nota fiscal, mesmo pagando com cartão.

"Com a nota fiscal e a via do cartão, fica mais fácil comprovar que a compra do combustível problemático foi feita naquele posto e, então, ir atrás dos seus direitos. Se se sentir lesado por combustível de má qualidade, orientamos que entrem em contato com o Instituto Combustível Legal para fazermos a apuração", informa o presidente da entidade.

Continua após a publicidade

O que dizem os postos

UOL Carros também entrou em contato com o Sincopetro, que representa os postos de combustíveis. José Alberto Gouveia, presidente da entidade, diz que o sindicato concorda com o posicionamento.

"Em qualquer mercado, o preço muito baixo indica menor qualidade. O consumidor sabe disso. Nossa recomendação é de desconfiar de preço 'milagroso'. A margem de lucro de um posto é de R$ 0,50 a R$ 0,55 por litro, não tem como ter muita diferença de preço entre um e outro", alerta.

Sobre o pagamento em dinheiro, Gouveia afirma que é uma prática comum entre postos com atividades suspeitas, como lavagem de dinheiro.

"Além de fugir de preços muito abaixo do mercado, é importante tomar alguns cuidados, como sempre descer do carro para abastecer. Isso inibe, por exemplo, o frentista de adulterar a bomba [algo que é feito por controle remoto]. Outra dica é conhecer o consumo do seu carro, se baixar repentinamente, você pode ter sido enganado", orienta.

Guerra contra fraudes

Para combater as fraudes em postos de combustível e defender os consumidores, o Instituto Combustível Legal tem apostado em algumas ações, como o uso de "clientes misteriosos", ou seja, de fregueses ocultos que abastecem e depois levam o combustível de postos suspeitos para avaliação em laboratório.

Continua após a publicidade

A partir de então, se encontrada fraude, são feitas denúncias aos órgãos fiscalizadores. "No ano passado, fizemos 1.300 denúncias de fraude operacional ou misturas inadequadas", informa Kapaz.

Reportagem

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Deixe seu comentário

Só para assinantes