Por que preço dos carros subiu na pandemia e não vai mais baixar
O preço médio dos carros de passeio zero-quilômetro mais vendidos no país praticamente dobrou nos últimos cinco anos, passando de R$ 70.877, em 2017, para R$ 140.150, de acordo com informações da Jato Dynamic. O cenário preocupa parte dos brasileiros que, durante a pandemia, preferiram esperar a crise passar para comprar um veículo novo. Anos depois, a pergunta "quando os automóveis começarão a baixar de preço?" ainda continua na cabeça de muitos. Infelizmente, a resposta mais provável é: "nunca mais".
A principal razão para os preços dos carros subirem drasticamente em poucos anos foi a redução na produção de autopeças e matérias-primas durante a pandemia. Naquele período, com o estoque de materiais essenciais para fabricar carros em baixa, eles ficaram mais disputados e caros. Todas as montadoras tiveram que encarecer seus produtos e priorizar carros com uma margem maior de lucro para tentar manter seus resultados.
Houve uma inflação de commodities - como aço, alumínio, vidro e plástico - muito grande e que, como são precificadas em dólar, que também aumentou, fez os efeitos se multiplicarem. A grande questão é que tudo isso passou, mas o preço dos carros não baixou.
De acordo com Cássio Pagliarini, da Bright Consulting, a questão é que o mercado não sofreu apenas com a variação dos preços das matérias-primas. Se o problema fosse apenas esse, o cenário teria se ajustado com a estabilização da crise. Nesse período, vieram novas exigências governamentais.
"Quando os airbags e os freios ABS passaram a ser obrigatórios, por exemplo, alguns carros deixaram de ser produzidos, como o antigo Uno. O mesmo acontece com as exigências atuais. Temos determinações do Proconve, em relação a emissões, e medidas de segurança como controle de estabilidade. Colocar equipamentos caros em veículos baratos dá um forte impacto nos preços, não à toa os carros de entrada do mercado brasileiro partem de R$ 70 mil, o que era impensável há poucos anos atrás", opina o consultor.
Não vale a pena fazer carro barato
Além dos fatores apontados, Ricardo Bacellar, fundador da Bacellar Advisory Boards, aponta para um outro detalhe: a estratégia das montadoras. Ele explica que o modelo da indústria automotiva era voltado para o volume. Ou seja, lucrava-se pouco nos carros mais baratos para compensar a quantidade de vendas. Mas a pandemia acabou com o sucesso desse modelo de negócio.
"A falta de componentes para a construção dos carros piorou a situação, já que as montadoras investiram em uma produção grande de veículos e não conseguiram finalizá-los. Como a indústria estava sem volume de carros para vender e rentabilizar o negócio, precisou apostar em veículos com maior valor agregado, que são mais rentáveis. Isso deixa os automóveis populares de lado no portfólio de vendas"
Para Bacellar, a demanda por carros populares existe, mas isso não significa que as montadoras estão dispostas a atendê-las.
"A maioria esmagadora das vendas no programa de governo para incentivar a compra do carro zero foi de veículos de até R$ 80 mil. É muito claro que tem uma demanda reprimida de carros mais baratos. Mas não há previsão que as montadoras voltem a produzi-los. A proposta agora é em maior valor agregado e maior margem de rentabilidade", argumenta o especialista.
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