Paula Gama

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Reforma tributária renova incentivos à Stellantis e inflama GM, VW e Toyota

Nesta quarta-feira (8), em uma votação histórica, o Senado aprovou o texto da Reforma Tributária, que tem como objetivo a simplificação da cadeia de impostos brasileira. No entanto, um detalhe, inserido um dia antes pelo senador Eduardo Braga, relator da proposta, deixou três das quatro principais montadoras do país insatisfeitas. Chevrolet, Toyota e Volkswagen se posicionaram contra a prorrogação dos benefícios fiscais para indústrias automobilísticas nas Regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste até dezembro de 2032, que beneficia diretamente a Stellantis.

As três montadoras que, ao lado da Fiat (que pertence à Stellantis), têm a maior participação nas vendas de automóveis e comerciais leves do Brasil, pleitearam a revogação dos artigos que permitiam a renovação dos incentivos para produção de carros a combustão até o último momento. Publicando, inclusive, cartas abertas sobre o tema em diversos veículos de comunicação do país.

Fábio Rua, vice-presidente de políticas públicas e comunicações da General Motors, grupo responsável pela Chevrolet, afirmou à coluna que a montadora continuará lutando pela revogação do trecho na Câmara, onde a reforma será discutida mais uma vez.

"O primeiro relatório do senador Eduardo Braga trazia um artigo 19 bem diferente do que ele apresentou de surpresa na terça-feira. Com a modificação, a reforma volta à estaca zero em relação ao compromisso do país com a descarbonização, já que inclui incentivos à produção de veículos a combustão", afirma.

Para Rua, o texto passa a mensagem de que o Brasil não está comprometido com a pauta climática. "O que surpreendeu foi que durante a articulação no plenário os argumentos utilizados omitiam o fato de que estavam incluídos os carros a combustão, falando apenas sobre carros eletrificados. Estão usando o peso que o Nordeste tem no Senado para jogar a discussão para uma pauta de Nordestinos X Sudestinos. Um debate que já está pacificado", argumenta o executivo.

Fábio Rua, no entanto, não faz conjecturas para o mercado caso os incentivos realmente sejam aprovados ao fim da tramitação da Reforma Tributária no Congresso. Segundo ele, não é o momento de falar em sair do Brasil devido ao resultado da votação. "Quando você está no ambiente de concorrência desleal, tem que usar as ferramentas que tem para ter o mínimo de chance nesse mercado assimétrico", finalizou.

A Stellantis, principal beneficiada pelos benefícios com sua fábrica em Pernambuco, preferiu não se posicionar sobre o assunto. Mas, em outra ocasião, o vice-presidente de Comunicação Corporativa da Stellantis, Fabrício Biondo, argumentou que o incentivo foi criado para reduzir o gap competitivo de cerca de 20% de produzir no Nordeste em relação aos estados do Sul e Sudeste.

"O Brasil não é um país competitivo. Estamos em disputa com outros países, como o México e a China. Enquanto a gente tentar disputar entre nós, estaremos destruindo a indústria. Deveríamos estar de mãos dadas para trazer mais produção. Deveríamos estar no governo discutindo a nova regra para que o Brasil estivesse na vanguarda para atrair investimento dos outros países, e não brigando entre si."

O que mudou no projeto

Até segunda-feira, antes da aprovação do texto da Comissão de Constituição e Justiça do Senado, a proposta previa benefícios fiscais do IPI nas Regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste para a produção de veículos elétricos e híbridos, mas foi ampliada para modelos a combustão.

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Durante a discussão no Senado, o trecho foi um dos que mais provocaram discussão entre os senadores, principalmente entre os parlamentares do Sudeste e Sul, que argumentaram que o incentivo criava uma verdadeira guerra fiscal entre os estados. Agora, a proposta será discutida novamente na Câmara dos Deputados.

Na visão da senadora Mara Gabrilli (PSD-SP), esse incentivo beneficia poucas indústrias e prejudica muitas outras. Ela advertiu que esse benefício tem causado prejuízos a muitos estados, com um ambiente de concorrência inviável. Para Sérgio Moro (União-PR), o incentivo para a indústria em Pernambuco prejudica todas as montadoras no restante do país. O senador Jorge Kajuru (PSB-GO) chegou a apresentar um destaque para a questão, mas terminou retirando o requerimento.

No entendimento da senadora Teresa Leitão (PT-PE), o equilíbrio federativo só é possível com o enfrentamento das desigualdades regionais e sociais. Para a parlamentar, não é justa a campanha contra o regime diferenciado para as fábricas de automóveis de Pernambuco. Ela apontou que a política de incentivo ajuda na manutenção dos empregos, na geração de renda e no estímulo ao desenvolvimento do Nordeste.

O senador Humberto Costa (PT-PE) afirmou que as montadoras já receberam incentivos para se instalarem na região Sudeste e que é preciso pensar "em um só Brasil":

Redução de investimentos

Em outubro, a coluna entrevistou representantes de três das cinco principais montadoras do Brasil. Os executivos confirmam que estavam apresentando ao Congresso argumentos contra a renovação, mas que apoiavam incentivos temporários para novas fábricas, como a da BYD na Bahia.

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"Não somos contra novos investimentos, tanto que apoiamos o incentivo temporário à BYD, que é um novo tipo de investimento, em carros elétricos. Agora, incentivos antigos, que já foram amortizados, usados só para remeter lucro para a matriz, que fica na Itália, não fazem mais sentido", argumentou um dos entrevistados.

Uma reclamação forte entre as montadoras contrárias ao programa é que uma decisão do STJ permitiu que a Stellantis usasse o excedente do crédito que recebe no Nordeste em todos os estados brasileiros. Um dos executivos chegou a afirmar que os benefícios geram uma concorrência tão desleal que a renovação deles pode levar a uma drástica redução de investimento no país por parte da marca em que trabalha.

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*Com informações de Agência Senado

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