Paula Gama

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BYD assume fábrica da Ford para produção de carros elétricos na Bahia

É oficial. A BYD assumiu nesta segunda-feira (9) a antiga fábrica da Ford em Camaçari (BA), que havia encerrado suas atividades em janeiro de 2021. A cerimônia de oficialização do acordo entre a chinesa e o governo baiano aconteceu na própria fábrica e contou com a presença do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), do governador Jerônimo Rodrigues (PT), do CEO global da marca, Wang Chuanfu, da CEO da BYD Américas, Stella Li, e do atual presidente da empresa no Brasil, Tyler Li.

A CEO Stella Li prometeu um centro de desenvolvimento de tecnologia na Bahia, com a proposta de transformar o estado em um "Vale do Silício", região americana que abriga muitas start-ups e empresas globais de tecnologia, como Apple, Facebook e Google. "BYD, em inglês, significa 'construindo os seus sonhos', e vamos construir os sonhos aqui no estado da Bahia", disse a executiva.

A promessa foi reforçada pelo CEO global da marca, Wang Chuanfu. "Escolhemos a Bahia, escolhemos Camaçari porque queremos transformar essa região em um Vale do Silício. Por isso, vamos instalar um centro de desenvolvimento de pesquisa e desenvolvimento para buscar novas soluções para a transição verde e novos jeitos de mover nossos veículos. O Brasil é um mercado de grande potencial que vai ser uma referência no mundo".

O primeiro projeto do centro de pesquisa e desenvolvimento será um modelo híbrido plug-in flex. O novo conjunto deve equipar o Song Plus, que será um dos primeiros carros produzidos na fábrica.

Para o vice-presidente Geraldo Alckmin, o momento marca a reindustrialização do país. "Essa é a neoindustrialização que o presidente Lula lançou, baseada na inovação e na sustentabilidade. A BYD, que é líder mundial de elétricos no mundo, vai trazer para cá um dos principais centros de pesquisa, desenvolvimento e inovação".

Em seu discurso, o governador Jerônimo Rodrigues falou sobre as expectativas provocadas em diversos segmentos. Para ele, a classe trabalhadora espera pela oportunidade de postos de emprego, o consumidor espera pela oportunidade de ter carros elétricos e os ambientalistas, pela chance de descarbonizar a economia.

"Para muitos, é a oportunidade de emprego, de geração de renda. Nós estamos vendo os investimentos possíveis da BYD para toda a cadeia da produção automobilística, mas estamos falando da possibilidade de mais de cinco mil postos de emprego. Nós poderemos triplicar isso porque, com certeza, a cadeia dos postos de abastecimento, concessionárias, alimentação, saúde do trabalhador, toda ela será movimentada na Região Metropolitana de Salvador, em Camaçari," afirmou o governador.

Durante a cerimônia, o governador Jerônimo Rodrigues assinou um projeto de lei que será enviado para votação na Assembleia Legislativa da Bahia (Alba), garantindo que os carros elétricos produzidos na Bahia, com valor de até R$ 300 mil, ficarão isentos do Imposto sobre Propriedades de Veículos Automotores (IPVA). Para veículos acima desse valor, será fixado o percentual de R$ 2,5% para o IPVA, igual ao aplicado aos demais automóveis.

Bastidores

A Ford e o governo estadual assinaram na última quarta-feira (4), um contrato que repassou o controle da fábrica para o Estado da Bahia, o que permitiu que a BYD assumisse imediatamente o local - mas ainda não foram divulgadas informações sobre como foi o acordo com os chineses. Apenas cinco dias após o acordo, a BYD já instalou a sua "pedra fundamental" no local e colocou placas com sua marca.

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De acordo com o governador Jerônimo Rodrigues (PT), em evento realizado em setembro, a Ford deve ser indenizada em R$ 100 milhões devido a melhorias realizadas na fábrica. Mas ainda não se sabe se a BYD comprará ou arrendará a planta.

BYD na Bahia

BYD planeja a implementação das três fábricas previstas na Bahia, onde fabricará chassis para ônibus e caminhões elétricos, automóveis híbridos e elétricos, e processamento de lítio e ferro fosfato para atender ao mercado externo.O investimento total do grupo chinês na Bahia será de R$ 3 bilhões . Nesse valor já devem estar inseridos os custos com a compra do complexo, que deve gerar mais de 5 mil empregos diretos e indiretos e entrar em funcionamento no segundo semestre de 2024

A empresa de tecnologia chinesa, maior fabricante de automóveis elétricos do mundo, produzirá cinco veículos no complexo baiano, entre eles o Dolphin, o híbrido Song Plus, uma picape e o elétrico subcompacto Seagull, de 3,78 m de comprimento, 2,50 m de distância entre-eixos, 1,71 m de largura e 1,54 m de altura. O quinto produto seria um modelo inédito

A meta da BYD é participar como grande player do mercado no segmento dos veículos urbanos e entregar carros como o Seagull, 100% elétrico, ao preço entre R$ 100 mil e R$ 110 mil. Ele começará importado e será comercializado a partir do primeiro trimestre de 2024

O polo de Camaçari estará pronto para receber um outro investimento, nova fase, na categoria dos "pesados" para produção dos chassis de ônibus e caminhões elétricos, assim como a divisão de baterias

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A BYD está no Brasil desde 2015. A empresa tem fábricas em Campinas, onde faz chassis de ônibus elétricos, e módulos fotovoltaicos para painéis solares e, em Manaus, montou em 2020 uma fábrica para produzir baterias de fosfato de ferro-lítio

Vamos participar do mercado brasileiro, criar tendências e procurar atender as demandas do consumidor" Henrique Antunes, diretor comercial da BYD

Incentivos

A contribuição do Estado da Bahia para viabilização do empreendimento inclui a concessão de incentivos fiscais até 31 de dezembro de 2032, de acordo com a legislação tributária estadual

Os benefícios baseiam-se na Lei nº 7.537/99 que institui o Programa Especial de Incentivo ao Setor Automotivo da Bahia (Proauto), e na Lei nº 7.980/2001 e Decreto n.º 8.205/2002, estaduais, que institui o Programa de Desenvolvimento Industrial e de Integração Econômica (Desenvolve)

O que sobrou da fábrica em Camaçari?

Complexo Industrial Ford Nordeste, Camaçari, dois anos após o fechamento
Complexo Industrial Ford Nordeste, Camaçari, dois anos após o fechamento Imagem: Rafael Martins/UOL
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Pátios vazios, grama cortada e nenhuma placa de identificação, resumidamente, esse é o cenário que a reportagem encontrou durante uma visita ao Complexo Industrial Ford Nordeste, em Camaçari, na Bahia. A coluna esteve no local em janeiro deste ano e, para a nossa surpresa, o espaço, que no passado empregou mais de 4 mil pessoas diretamente, estava em ótimo estado de conservação após quase dois anos sem produzir carros.

No estacionamento, que um dia foi abarrotado de carros de funcionários, havia apenas nove veículos, praticamente o mesmo número de pessoas que conseguimos ver durante o período que estivemos nas redondezas, entre seguranças e funcionários de manutenção. Um deles, inclusive, mantinha a grama baixa com um pequeno trator.

O sinal do tempo e do esquecimento estão em pouquíssimas placas que restaram sinalizando que aquela é uma propriedade particular da Ford Company. As maiores identificações foram retiradas e a moldura aguarda a chegada de novos donos para que a vida volte a pulsar na região.

Apesar do tempo, fábrica segue bem cuidada
Apesar do tempo, fábrica segue bem cuidada Imagem: Rafael Martins/UOL

A fábrica da Ford foi sendo desmontada, aos poucos, entre janeiro e dezembro de 2021. De acordo com um engenheiro que preferiu não ser identificado, 90% das máquinas foram direcionadas para a fábrica de General Pacheco, na Argentina, ou para serem vendidas em leilões para reaproveitamento do aço ou até mesmo como sucata.

"A empresa que assumir a planta terá que construir uma nova linha de produção. O que existe hoje em Camaçari é a infraestrutura base, ou seja, um lugar adequado para instalar máquinas e robôs, galpões. Mas a linha de produção não existe mais. Até os parceiros, em sua maioria, desmontaram o maquinário", conta o técnico, que atualmente trabalha no Centro de Desenvolvimento de Produtos da Ford, que fica no Senai-Cimatec, onde seria instalada a fábrica da Jac Motors no passado.

Reportagem

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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