Paula Gama

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Como Fiat Strada foi de coadjuvante a carro mais vendido do país em 3 anos

Há alguns anos, em 2018, a Fiat Strada era "apenas" um veículo voltado para trabalho, tinha como foco o setor de logística e serviços e vendia em torno de 67 mil unidades por ano. À época, era o oitavo veículo mais vendido do país, muito longe do campeão de vendas Chevrolet Onix, que teve mais de 210 mil exemplares emplacados naquele ano.

A história seguiu assim até meados de 2020, quando a picape ganhou uma nova geração. Naquele ano, o primeiro de pandemia, pulou para o quarto lugar no ranking dos favoritos e passou a vender mais a cada mês. A partir de 2021, não saiu mais da primeira posição nos fechamentos anuais, chegando a ter mais de 112 mil exemplares comercializados no país em 2022.

Afinal, por que uma picape de mais de R$ 100 mil parece ter roubado o lugar dos tradicionais hatches pequenos que lideram o mercado brasileiro por anos?

Acontece que a escalada para o sucesso não é algo tão simples de analisar. Quem mora em grandes cidades, por exemplo, percebe facilmente que não há mais Stradas do que Onix, HB20, Kwid e até Mobi nas ruas. A questão é que, enquanto as vendas de todos esses modelos caíram devido à redução no poder de compra dos brasileiros, a picape pequena manteve suas vantagens competitivas e ainda aproximou a sua imagem de um desejo de consumo: a Fiat Toro.

 A versão mais barata tem cabine simples e custa mais de R$ 100 mil
A versão mais barata tem cabine simples e custa mais de R$ 100 mil Imagem: Divulgação

Milad Kalume Neto, consultor do mercado automotivo, explica que a Strada tem pouca concorrência e um grande trunfo: as vendas diretas. Para se ter uma ideia, das 112.456 unidades vendidas em 2022, 75.296 foram para empresas e 37.160 para pessoas físicas. "A Fiat conseguiu atingir bastante a parte de venda direta. Isso mostra a força desse carro dentro do campo e no multiuso".

Outro ponto a favor da picape, segundo Kalume, é que a Fiat tem uma rede de concessionárias muito ampla, com alta capilaridade no interior do país - sendo, em algumas regiões, uma das poucas opções para quem procura um veículo com espaço interno e "bagageiro". Isso explica porque ela não é tão vista nas grandes cidades como outros campeões de vendas.

Cássio Pagliarini, sócio da consultora Bright Consulting e ex-executivo de marcas como Ford, Renault e Hyundai, avalia que, em muitos casos, ela é substituta dos queridinhos SUVs. Mérito do novo design e das tecnologias a bordo das versões mais caras.

"O crescimento da estrada se deve à definição de um novo lugar para os proprietários de SUVs rumarem. Pessoas que já compraram três, quatro ou cinco vezes um SUV e gostariam de alguma coisa diferente, mais moderna ou mais abrangente. A Fiat soube dimensionar isso e fez um veículo que tem o espaço interno de um SUV com uma caçamba. Em vez de um espaço fechado pequeno, passa a ter uma caçamba com um volume maior. Isso veio primeiro na Toro, mas é mais cara", analisa o especialista.

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Queda do poder de compra

O fato de um veículo de mais de R$ 100 mil ser o mais vendido do país não mostra que a economia vai bem. Pelo contrário, comprova que as pessoas de menor renda não estão comprando carros.

Prova disso é que em 2019, último ano antes da crise econômica causada pela pandemia, o Chevrolet Onix teve mais de 240 mil unidades vendidas, o dobro da Strada no ano passado.

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