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Paula Gama

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

O que brasileiros e seu trânsito caótico têm a aprender com os argentinos

Colunista do UOL

26/04/2023 04h00

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Na última semana, passei alguns dias em Buenos Aires, capital da Argentina, para visitar a fábrica em que a Ford produzirá a nova Ranger. Acostumada com o trânsito caótico de São Paulo e de outras capitais brasileiras, com motociclistas furando sinais, transitando nas calçadas e arriscando a vida no meio dos carros, a sensação era de que eu não estava em uma cidade tão grande, com uma região metropolitana de 16 milhões de habitantes. Por lá, além de as motos não chamarem tanta atenção no trânsito, até mesmo as bicicletas respeitam o sinal vermelho.

Para entender melhor o meu estranhamento, resolvi comparar os dados do trânsito de Buenos Aires com o de São Paulo, e a sensação de segurança se reflete nos números. Em 2019, a capital Argentina comemorava o sucesso de um plano de redução de acidentes. Naquele ano, 103 pessoas morreram nas ruas da cidade portenha, 33% a menos que em 2015. No mesmo ano, houve 758 acidentes de trânsito fatais na capital paulista. Para uma comparação mais justa, atualmente, o trânsito de Buenos Aires tem uma taxa de mortalidade de 3,6 a cada 100 mil habitantes, enquanto a de São Paulo é de 6,4/100 mil habitantes.

Buenos Aires tem um novo plano para reduzir pela metade a letalidade dos acidentes até 2030. Para tanto, estabeleceu cinco metas intermediárias para 2023: 60 km de avenidas com redução de limites de velocidade; redução de 10% nos veículos que ultrapassam o limite de velocidade; 400 mil motoristas submetidos ao etilômetro; alcançar 80% do uso do cinto de segurança; alcançar uso de capacete por 95% dos motociclistas e chegar a 300 km implementados de ciclovias.

As metas para a ciclovia já foram alcançadas, e os ciclistas têm sido tratados como prioridade na última década. Para se ter uma ideia, segundo a prefeitura da cidade, 10% das viagens realizadas por lá já são feitas de bicicleta. Existe até mesmo um programa que empresta bicicleta gratuitamente para a população para a realização de quatro trajetos de 30 minutos por dia.

A capital argentina também apostou em ciclovias protegidas, ou seja, separada das faixas de trânsito por uma barreira física, já que, segundo a gestão municipal, "experiências internacionais mostram que a coexistência ou faixas preferenciais não são respeitadas pelos motoristas, o que gera uma situação perigosa ou insegura para o ciclista".

Nas ruas e avenidas sem ciclovia, as bicicletas devem respeitar a sinalização de trânsito como carros e motos, parando nos sinais e seguindo o sentido da via. No Brasil, as bicicletas não são obrigadas a respeitar as Leis de trânsito direcionadas a veículos automotores.

Caos em São Paulo

Em 2022, a produção de motocicletas no Polo Industrial de Manaus cresceu 18,2%, de acordo com dados da Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares (Abraciclo), no acumulado do ano, saíram das linhas de montagem 1,4 milhões de unidades. Os modelos mais procurados foram os de entrada e de baixa cilindrada, muito utilizados como instrumentos de trabalho e transporte de baixo custo.

O cenário aponta para mais motos na rua, mas, ao menos em São Paulo, o crescimento da frota não foi o suficiente para o aumento da fiscalização. De acordo com a CET, "a fiscalização basicamente é por equipamentos eletrônicos e, portanto, independe da frota. Está mais sustentada pelos pontos de fiscalização".

Edgar Francisco da Silva, conhecido como "Gringo", presidente da AMABR - Associação dos Motofretistas de Aplicativos e Autônomos do Brasil, afirma que a forma de contrato dos entregadores de aplicativo é uma das grandes causadoras do festival de infrações no trânsito.

"A gente acredita que essa bagunça no motofrete vem da falta de capacitação da galera. Tanto o estado de São Paulo quanto o Brasil têm leis que regulamentam a profissão, exigindo um curso de aulas práticas e teóricas que preparam o profissional e alertam para os riscos da profissão. Mas essas empresas contratam qualquer pessoa que tenha CNH", afirma.

A Associação Brasileira de Mobilidade e Tecnologia (Amobitec), que representa as principais plataformas tecnológicas que atuam na intermediação da prestação de serviços de entregas entre consumidores, estabelecimentos comerciais e entregadores, afirma que a segurança viária é uma das prioridades de suas associadas.

"[Elas] incentivam por meio de campanhas e comunicações constantes a importância do respeito às leis de trânsito, oferecem cursos de capacitação sobre segurança de forma permanente e utilizam a tecnologia para incentivar a condução segura dentro das velocidades permitidas nas vias", disse por meio de nota.

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