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Drones do iFood: veja as regras e se isso pode afetar os entregadores

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Imagem: Divulgação

Colunista do UOL

26/08/2020 04h00

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O iFood é um dos maiores e mais lembrados aplicativos de delivery de comida no Brasil atualmente. As entregas são realizadas pelos mais diversos meios de transporte: motos, bicicletas, patinetes e até mesmo a pé. A novidade, agora, é que a empresa planeja explorar novos ares - literalmente.

Recentemente, o iFood anunciou que irá começar os testes de entregas realizadas por drones no país. A ideia é avaliar quais os possíveis ganhos de eficiência com a implementação da tecnologia, objetivando um trabalho ainda mais ágil e seguro para os clientes.

A previsão é de que os testes comecem em outubro deste ano, na cidade de Campinas - interior de São Paulo. Os equipamentos que serão utilizados para as entregas aéreas (da empresa brasileira Speedbird) já receberam um Certificado de Autorização de Voo Experimental (Cave), emitido pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).

Será que o sonho de receber comida pelos ares, sem se preocupar com os frequentes transtornos provocados pelo trânsito, está cada vez mais próximo de se tornar realidade?

Autorização concedida pela Anac é inédita no Brasil

É a primeira vez que a Anac autoriza a utilização de drones para serviços de entrega no país. A licença, concedida à Speedbird (que prestará os serviços ao iFood), é de caráter experimental, sendo que o certificado para os testes das operações de entrega será válido até agosto de 2021.

A autorização permite que o controle dos drones seja realizado em distâncias maiores, sem a necessidade de que o responsável esteja, a todo o tempo, mantendo o contato visual com o aparelho enquanto ele estiver pelos ares. Para se ter uma ideia, as entregas previstas para teste serão feitas em um perímetro de 400 metros, entre a praça de alimentação de um shopping e um ponto específico para a distribuição do alimento.

Conforme regulamento da Anac, os drones podem ser enquadrados em duas categorias: os aeromodelos e as aeronaves remotamente pilotadas (RPA). Os aeromodelos são utilizados para recreação e lazer, ao passo que as RPA são aeronaves utilizadas para outros fins, como experimentais, institucionais ou comerciais.

Os aeromodelos cujo peso máximo de decolagem é de até 250 gramas não precisam de cadastro junto à Agência. Já os aeromodelos operados por pilotos que mantenham contato visual com o aparelho, sem o perder de vista, até 400 pés acima do nível do solo, devem ser cadastrados. Nesses casos, também é obrigatório que o piloto remoto seja habilitado e licenciado para a atividade.

A licença concedida para os testes do iFood, além de permitir o controle de drones em distâncias maiores (até 2,5 km), sem que o piloto necessite estar na linha visual do aparelho, também autoriza que o aeromodelo seja maior e mais pesado.

Para os testes, será utilizado o modelo DLV-1, que pesa 9 quilos, atinge uma velocidade máxima de 32 km/h e pode transportar cargas de até 2 quilos. Sendo assim, se classifica como RPA Classe 3, conforme o Regulamento Brasileiro de Aviação Civil Especial (RBAC-E) nº 94, reservada a aeronaves que somam 25 kg ou menos. Além disso, os voos devem ser restritos ao período diurno.

O processo de solicitação do pedido, realizado pela Speedbird, levou cerca de 1 ano para ser avaliado pela Anac (a proposta foi enviada em maio de 2019). Nesse período, especificamente em janeiro e julho deste ano, foram realizados testes supervisionados, a fim de garantir que a empresa cumpriria com os requisitos de segurança.

Após alguns ajustes solicitados pela equipe da Anac, a Speedbird recebeu o aval da agência, tornando-se apta a realizar os primeiros testes de entrega com os drones.

Drone ainda não levará o pedido até a porta cliente

Na fase inicial de testes, os drones não realizarão entregas diretas na casa dos clientes. Eles serão utilizados em um shopping, cujo caminho percorrerá a praça de alimentação até um ponto específico para que as refeições sejam repassadas aos entregadores - que concluirão a entrega, portanto. A distância percorrida deverá ser de 400 metros, e os drones devem levar 2 minutos para concluir o caminho (conforme o iFood, o tempo normal seria de 12 minutos).

A ideia é que haja, posteriormente, um segundo teste, em que o deslocamento será realizado até um local próximo ao condomínio do shopping - um trajeto de aproximadamente 2,5 quilômetros. O percurso deverá levar em torno de 4 minutos (sem o drone, ele leva cerca de 10 minutos).

Essa diminuição do tempo de serviço que o drone pretende proporcionar é um dos aspectos que mais anima o iFood. No entanto, embora a estimativa para o início dos testes seja para o mês de outubro, ainda não há uma previsão de data. A empresa afirma que, em meio ao cenário de pandemia, é necessário avaliar com cautela o momento mais seguro para começar.

Implementação dos drones não pretende causar prejuízos

Um dos primeiros questionamentos sobre a adesão aos drones no mercado de delivery de comida é relacionado aos entregadores. Afinal, eles serão substituídos por máquinas? O iFood nega essa possibilidade. Vale lembrar que a ideia é que os drones percorram apenas parte do caminho da entrega, e que o serviço seja concluído pelo entregador. Ou seja: ainda com o avanço tecnológico, o trabalho humano continuará necessário.

Para o usuário do aplicativo, também não deverá ocorrer nenhuma mudança relacionada a sua experiência de uso com o app. Isso porque não será o cliente quem escolherá o processo de entrega do pedido - ele será selecionado automaticamente por algoritmos que analisam o trajeto (distância e tempo).

Assim, os pedidos somente serão entregues pelo drone quando o sistema do iFood concluir que a sua utilização poderá diminuir o tempo de entrega, aumentando a eficiência do processo.

Por essa razão, o iFood não pretende cobrar uma taxa maior do cliente pela entrega realizada por drone. Aliás, se tudo der certo, a longo prazo é a possível que haja uma redução de custos de operação, o que poderá diminuir os valores pagos pelo usuário do app.

A prática de utilização das aeronaves remotamente pilotadas para delivery de refeições também dá sinais de progresso fora do Brasil. Nos Estados Unidos, por exemplo, a Uber Eats e a Google já investem em entregas com drones. Além de comida, outras empresas oferecem o envio de pequenas compras, como remédios e demais produtos farmacêuticos.

Ao que tudo indica, dentro de pouco tempo, para receber comida, ou até mesmo outros tipos de encomendas em casa, nem mesmo o céu será o limite.