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Dá para salvar: quando vale investir em carro que não recebeu manutenção

Um dos maiores temores de quem pensa em comprar um carro usado é descobrir, somente depois da compra, que o mesmo não está com as manutenções em dia. Veículos assim costumam ser verdadeiras bombas prestes a explodir a conta bancária do comprador.

Sendo assim, parece óbvio que o melhor a se fazer é ter certeza das manutenções que foram feitas, através dos comprovantes, ou então solicitar a ajuda de um profissional que possa atestar a qualidade e levantar as possíveis pendências.

Tem casos em que até podem compensar comprar um usado com manutenções negligenciadas, desde que o valor da compra seja muito bem calculado. Porém, isso funciona melhor em carros com projetos mais simples, sem muitas complexidades que podem fazer os custos dos reparos virarem uma bola de neve com o tempo.

Passei por isso na semana passada com uma pessoa precisando da minha ajuda para vender seu carro. O modelo em questão, um Honda Civic 2016, tem reputação das melhores. Robusto, eficiente e com forte liquidez no mercado de usados, é daqueles veículos que aguentam desaforos até mesmo de donos pouco atentos com as manutenções.

Assim que tive o primeiro contato com o carro, desanimei com a quantidade de detalhes estéticos e mecânicos que precisavam de correção. Esperava mais, mas infelizmente a proprietária tem pouco conhecimento sobre carros e não conta com suporte de parentes ou amigos que possam ajudar.

O resultado desse cenário é um carro pouco atraente. Confesso que pensei em recusar o atendimento, mas era daqueles casos em que não poderia dizer não. A proprietária foi indicada por um grande amigo e, além disso, faltavam apenas dois dias para ela entrar num avião e tentar "recomeçar" a vida em outro país.

Respirei fundo, analisei os pontos e decidi encarar o desafio de trabalhar a venda do carro, desde que fosse nas minhas condições - ou seja, somente depois de prepará-lo por inteiro, sem gambiarras ou atalhos, com tudo do bom e do melhor. O negócio foi aceito e assim passei a ver potencial nesse Civic.

A primeira coisa foi listar o que precisava ser feito imediatamente. Identifiquei problema grave nos freios e na lubrificação do motor devido ao óleo vencido. Esses são exemplos de manutenções corretivas, em que a correção é imediata e não pode mais ser adiada.

Em casos extremos, o carro quebra e só chega na oficina de guincho. Não era o caso, até estava funcional, mas sem segurança e prestes a ter problemas.

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Encomendei as peças e, assim que as recebi, levei no meu mecânico. Colocamos o carro no elevador, fizemos as trocas necessárias e começamos a procurar por outros detalhes. Para minha sorte, nada mais seria preciso de imediato, mas saí de lá com uma lista das correções futuras, que podemos chamar de manutenções preventivas.

O leitor também pode fazer o mesmo, com o carro que tem na garagem ou com o usado que está querendo comprar. As preventivas são as manutenções feitas para evitar que o veículo apresente problemas, antes do limite máximo de desgaste das peças.

Para isso, basta consultar o cronograma de manutenções que está no manual do carro e seguir o que está ali. Normalmente os fabricantes colocam uma planilha com as principais manutenções e a recomendação dos intervalos de troca, seja por tempo ou por quilometragem.

Para exemplificar melhor, darei o exemplo desse Civic, que está com 80 mil km rodados. Segundo a Honda, esse carro exige regulagem da folga das válvulas a cada 40 mil km. Como ele tem carimbo da quarta revisão feita em concessionária, imagino que tenha feito essa manutenção no passado, mas agora já está batendo o segundo intervalo dessa regulagem.

Então, entrou na lista a junta da tapa de válvulas, única peça que será trocada nessa manutenção. A Honda também recomenda a troca do óleo do câmbio a cada 100 mil km ou cinco anos. Apesar de não ter atingido essa quilometragem, o carro já tem quase nove anos, e como não sei se isso foi feito no passado, entrou na lista os óleos e filtros necessários para essa troca.

Outro um exemplo interessante é o do jogo de velas, com recomendação de troca a cada 60 mil km. Porém, nesse caso é possível verificar a qualidade das mesmas, que varia de acordo com o tipo de uso do carro. Na nossa avaliação, ainda estão boas, então não vou trocá-las agora.

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Mas pode acontecer o contrário, como o caso das buchas da suspensão traseira, que não tem programação de troca, mas identificamos que estavam ruins e foram para lista.

Enfim, tem mais coisas para poder gabaritar esse carro, que espero concluir em até 30 dias. Depois de pronto, certamente estará acima da média do que eu costumo ver por aí.

Minha estimativa é de investir cerca de R$ 20 mil em peças, mão de obra, estética, pequenos reparos, IPVA desse ano e comissão da venda. Foi o montante que subtraí do valor que espero receber por ele, e que a proprietária aceitou negociar.

Ainda que não tenha concluído o "projeto", é um caso em que valeu a pena pegar um carro com pendências de manutenções. Mas atenção: volto a alertar que só compensa se o veículo for de concepção simples e se o preço a se pagar for muito bem negociado para ter margem para os reparos.

Jamais encararia esse desafio caso fosse um desses carros mais modernos, com turbo, injeção direta e muitos módulos eletrônicos. Aqui sim, o risco é grande do custo final ser maior do que o valor de mercado.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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