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Fernando Calmon

Ford fechar fábrica no centenário é reflexo da realidade fiscal brasileira

Anúncio da Rural 1966: precursora do que se espera atualmente de um SUV - Reprodução
Anúncio da Rural 1966: precursora do que se espera atualmente de um SUV Imagem: Reprodução

Colaboração para o UOL, em São Paulo (SP)

20/02/2019 07h00

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Há mais de um ano havia fortes rumores que, depois de anunciar o encerramento da produção do Focus na Argentina, a Ford tomaria a decisão de fechar a fábrica de São Bernardo do Campo (SP). Era uma notícia esperada, mas não deixa de causar tristeza.

Esta unidade fabril foi construída pela Willys Overland, fundada em agosto de 1952. A produção se iniciou dois anos depois com o utilitário Jeep CJ-5, seguido pela perua Rural (precursora do que seria, hoje, um SUV), uma picape, além do sedã Aero-Willys (1960) e sua versão de luxo Itamaraty.

A empresa também fabricou sob licença da Renault os compactos Dauphine e Gordini e, ainda, o Alpine A108, pequeno carro esporte rebatizado aqui de Interlagos, com mecânica Renault, nas versões berlineta, cupê e conversível.

A Willys apostou muito no Projeto M, tendo por base o médio-compacto Renault 12. Porém, dificuldades financeiras levaram à venda para a Ford de toda a operação brasileira, em 1967, incluindo as instalações às margens da rodovia Anchieta. O Projeto M se transformou no Ford Corcel, em 1968, cuja carroceria era completamente diferente do modelo francês, só lançado um ano depois na França, e também produzido na Argentina pela IKA. 

Dor no centenário

No ano em que a Ford completa o centenário de sua fundação no Brasil, encerrar as atividades em uma unidade com tanta história é especialmente doloroso para os cerca de 2.800 empregados entre horistas e mensalistas. Toda a linha de montagem dos caminhões médios e pesados Cargo, dos caminhões leves F-350/F-4000 e do Fiesta hatch será interrompida de imediato.

A marca não produzia caminhões na matriz há mais de uma década e o lançamento do Ka enfraqueceu muito o Fiesta com qual compartilhava a arquitetura.

A empresa reservou US$ 460 milhões (R$ 1,7 bilhão) para indenizar funcionários, concessionárias e fornecedores. Prejuízos financeiros na região da América do Sul foram de quase US$ 700 milhões (R$ 2,6 bilhões) no ano passado.

Estima-se que cerca de 60% tiveram origem nas operações brasileiras, que incluem fábricas de veículos e motores em Camaçari (BA), motores e câmbios em Taubaté (SP) e campo de provas em Tatuí (SP). As atividades nessas cidades continuarão.

Reflexo da realidade fiscal brasileira

Há quem lembre que a marca contabilizou 24 trimestres consecutivos de lucro entre 2007 e 2012. Infelizmente isso não garante a uma empresa manter-se saudável e gerar caixa suficiente para investir, em especial se o mercado local minguar quase 50%, como aconteceu aqui. Opção pode ser encolher ou, em caso extremo, sair de um país.

É bastante provável que a GM tenha chegado a um acordo em São José dos Campos (SP) porque estava próximo o anúncio sobre o encerramento das atividades de outro fabricante no mesmo Estado. Essas informações vazam nos bastidores e a preservação dos empregos falou mais alto aos sindicalistas.

Precisa ficar claro: produzir veículos no Brasil com a carga fiscal insana sobre os produtos, baixa produtividade, alta burocracia e deficiências graves em infraestrutura, só para citar alguns entraves, é um fato, apesar de oportunidades que possam surgir no futuro.

Diminuir investimentos ou fechar uma fábrica são alternativas dolorosas, incontornáveis. Não se trata de ameaça, mas reflexo do mundo real.

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Imagem: Alta Roda
+ Volkswagen confirmou preços do T-Cross, seu primeiro SUV nacional: R$ 84.990 (motor 1-L turboflex) a R$ 109.990 (1,4-L, idem). Versões superequipadas passarão de R$ 125.000. Série zero começou a ser produzida em São José dos Pinhais (PR), mês passado. Nas vitrines em março (motor mais potente, de início); primeiras entregas em abril, como previsto pela coluna.

+ Versão híbrida flex do novo Corolla, primeira desse tipo no mundo, chega às concessionárias em outubro próximo. Unidades convencionais da quinta geração do modelo, no início daquele mês. Toyota ainda não confirma, mas SUV a partir do Yaris é dado como certo para 2021. Ela tem R$ 1 bilhão a receber do governo paulista em ICMS atrasado.

+ Dos três modelos Nissan, em sua ofensiva elétrica, mais interessante para o Brasil é o do Note e-Power. Tração totalmente elétrica, mas fica longe de tomadas: gerador a combustão carrega uma bateria de porte pequeno. Autonomia até 1.200 km. Avaliado no autódromo de Interlagos mostrou-se silencioso e ágil. O conjunto estará no Kicks, em 2020.

+ Caoa Chery ampliou gama de SUVs com o Tiggo 7, cinco-lugares e 4,50 m de comprimento. Pontos fortes, estilo e equipamentos de série. Motor 1,5-L turboflex, 150 cv/21,4 kgfm e câmbio automatizado de dupla embreagem, os mesmos do sedã Arrizo 5, reclamam um pouco do peso extra de um SUV. Preços competitivos, mas não de arrasar: R$ 106.990 e R$ 116.990.

+ SUV médio-grande, T80 completa a linha JAC na faixa de R$ 139.990 a 145.990. Espaço é ótimo para cinco adultos e duas crianças na última fileira. Motor turbo 2-litros, 210 cv/30,6 kgfm e caixa automatizada de duas embreagens dão conta do recado, embora não passe sensação de mais de 200 cv. Tela multimídia tem 10 pol. Há câmeras de ré e com visão de 360 graus.
 

Relembre "Apaixonados por Carros", programa de 2013, com o Corcel 1973

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