'Carnaval é machista em todos os sentidos', diz musa da rebaixada Tom Maior
Pepita, 34, fez a sua estreia na Tom Maior como musa no Carnaval 2024. A travesti vê a maior festa popular do Brasil como lugar para todos serem quem quiser e se diz feliz em representar a comunidade LGBTQIAPN+ na passarela do samba. A agremiação foi rebaixada para o Grupo de Acesso em São Paulo.
É uma responsabilidade muito grande. Primeiro que, em alguns momentos, eu vejo que o Carnaval é um pouco machista em todos os sentidos, na fala, nos olhares. Quando vejo pessoas da mesma comunidade que eu numa ala de bateria, na frente de um carro, destaque do carro, eu falo: 'Ufa! Tô bem representada'. A responsabilidade é grande.
Pepita, em entrevista ao UOL
O que ela disse
A cantora destacou que o Carnaval é diversidade e uma oportunidade também de deixar claro que a comunidade não irá se intimidar com os olhares tortos e ideologias preconceituosas. "A comunidade LGBTQIAPN+ não vive só esse dia. A gente tem o ano inteiro. Dia 29 de janeiro foi o dia da visibilidade trans e travesti. O Brasil é o país que mais mata o nosso corpo e mais consome a gente pra sexo. Que hipocrisia e que balança que não bate, né? Mas a gente tá aqui pra fazer parte desse pelotão. Que o nosso sobrenome é resistência. E vai ser difícil de derrubar. A gente pode bambear, mas cair é difícil".
Pepita, que também desfilou como madrinha da Unidos de São Lucas e musa da Grande Rio, visitou a Tom Maior para acompanhar o trabalho do intérprete Gilsinho Conceição. No mesmo dia, ela bateu um papo com o presidente da escola e foi convidada para desfilar em 2024.
Eu achando que ia vir num carro ou numa ala ou na turma do gargarejo e surgiu o convite pra ser musa da comunidade. Isso pra mim foi muito bacana. Pra mim, pra minha comunidade, pro meu corpo... Cheguei em casa pra contar pro marido, falei: 'Mô, vou desfilar numa escola de samba', e ele: 'mais uma'. Aí começamos a ver como seria, de que forma seria e, em todo momento, a escola me abraçou com muito carinho.
Pepita
Com três escolas para desfilar em 2024, Pepita trabalhou uma preparação mesclando os cuidados com o corpo, a mente e a alma. "Porque não adianta você tá com o corpo legal e a sua mente não tá bem. A mente faz a gente viver, respirar e entender o que acontece ao nosso redor. Então, o primeiro passo foi entender um pouco como eu poderia cuidar da minha mente trabalhando com a internet, que as pessoas se acham donas da sua internet e da sua vida também. Quando comecei a entender que aquilo dali poderia ficar de um canto e eu ia viver do jeito que eu queria, ficou mais fácil pra mim. E o corpo, eu faço boxe e treino também. Então a minha alimentação só diminui um pouquinho e o treino aumentou um pouco mais quando chegou próximo do desfile".
Sem ter a agenda de trabalho alterada, o desafio de sair por três escolas de samba só foi possível em virtude do apoio do marido e da sogra para ajudar nos cuidados do filho.
Meu filho tem um pai maravilhoso, né, que é o Kaique, que é minha rede de apoio. Então, tudo que faço chega num acordo de ambas as partes, minha e dele pra gente poder fazer um bom trabalho. Ele tem uma avó que mima ele muito, né? Eu sempre falo que mãe é pra educar e avó é pra mimar. E a avó se chama socorro. Me dá essa rede de apoio de ficar com ele quando tenho que fazer esses trabalhos. Então, não mudou muita coisa. Meu filho também gosta de carnaval, gosta de bagunça, sabe? Então acho que ele tá junto com o pai e a mãe nessa mix de alegria.
Pepita
Pepita reforçou que o respeito ao próximo no Carnaval era o seu grande recado na avenida. "O corpo é meu, eu faço ele do jeito que eu quiser, da forma que eu quiser. Sou assim, você não precisa gostar de mim, mas você precisa me respeitar. É muito fácil você tirar seus medos, suas dores, as suas dúvidas e jogar no outro. Acho que o outro não tem obrigação nenhuma de entender e compreender os seus medos. Amo meu corpo, aceito meu corpo, e como eu já disse, o corpo é a nossa morada. Então a minha morada é desse jeito".
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