Parar de fumar 'vape' é tão difícil quanto largar cigarro de tabaco?

É cada vez mais comum encontrar jovens fumando cigarros eletrônicos, também conhecidos como vape, pod ou pendrive, no Brasil. Segundo o Covitel 2023, aproximadamente um a cada quatro jovens (23,9%) de 18 a 24 anos fumou um dispositivo eletrônico no país no ano passado.

Quase 12% dos que fumam esses tipos de cigarros o fazem justamente porque está na moda, de acordo com a pesquisa, atrás apenas de quem o faz por curiosidade (20,5%).

Isso tudo apesar da proibição da comercialização, importação e propaganda de todos os tipos de dispositivos eletrônicos no Brasil, desde 2009. O assunto inclusive esteve em pauta em consulta pública, encerrada em 9 fevereiro de 2024, para saber se os vetos se manterão.

O cigarro eletrônico também vicia. Como a maioria dos e-líquidos tem nicotina, há maior risco de dependência da substância com o uso desses dispositivos, assim como acontece com o cigarro comum.

A nicotina presente nos DEFs [dispositivos eletrônicos para fumar] é modificada, tornando-se menos agressiva ao paladar, assim a quantidade da substância inalada é muito maior. Aldo Agra de Albuquerque, pneumologista da comissão de tabagismo da SBPT (Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia)

Parar é até mais difícil

Não há indicação do uso do DEFs para parar de fumar o cigarro convencional, pois, de acordo com Albuquerque, é uma troca de uma fonte de nicotina por outra, mantendo-se a dependência.

"O vape vicia tanto quanto o cigarro por conta da nicotina, e prejudica a saúde tanto ou mais do que o tabaco", afirma Vinícius Anacleto, pneumologista da Santa Casa de São José dos Campos.

Especialistas ouvidos pelo VivaBem percebem uma dificuldade maior ao tentar cessar o uso dos cigarros eletrônicos devido à alta taxa de nicotina inalada.

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O uso repetido do vape, ao longo do dia, torna mais complexa a sua suspensão quando comparado a uma pessoa que fuma de um a dois cigarros convencionais nas 24 horas. Alexandre Augusto Ramalho Araruna, pneumologista do HULW (Hospital Universitário Lauro Wanderley) da UFPB (Universidade Federal da Paraíba), ligado à Ebserh (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares)

O processo de parar considera diferentes fatores:

psicológicos;

índice de carga tabágica —consumo diário em relação aos anos de uso;

grau de dependência, se esporádica ou diária.

O tratamento é sempre individualizado e deve ser orientado por especialistas, já que é diferente do processo recomendado para largar o cigarro de tabaco.

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"Não existe terapia para o cigarro eletrônico, não há nenhum documento que autorize o tratamento com medicamentos, como é feito com o cigarro convencional, em que se prescrevem antidepressivos, que agem no receptor da nicotina, adesivos de nicotina e goma de mascar", esclarece José Roberto Megda Filho, pneumologista e presidente regional do Vale do Paraíba da SPPT (Sociedade Paulista de Pneumologia e Tisiologia).

Os que fumam o cigarro eletrônico e que desejam interromper o hábito são tratados por meio da terapia cognitiva comportamental, que busca mudanças na rotina para acabar com o vício, e da conscientização dos malefícios.

Riscos além da dependência

Muitos usuários acreditam que há apenas nicotina e vapor d'água, e trocam o cigarro convencional pelo eletrônico, acreditando que este não faz mal. Mas, segundo Albuquerque, são mais de 2 mil substâncias, entre elas, metais pesados com potencial cancerígeno que podem elevar o risco de doenças cardiovasculares, enfermidades respiratórias e dependência química.

O hábito é capaz desencadear, a curto e longo prazo, de uma bronquite até uma doença crônica pulmonar, como a DPOC (doença pulmonar obstrutiva crônica), além de:

Problemas no coração, como infarto;

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Desenvolvimento de câncer;

Evali, doença relacionado ao fumo de dispositivos eletrônicos;

Piorar sintomas da asma;

Disfunção erétil;

Lesões no pulmão a longo prazo;

Entrada no tabagismo;

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Transtornos psicológicos, como depressão e ansiedade.

As doenças agudas podem acometer até os que usam os DEFs aos fins de semana. A quantidade de fumaça inalada é de três a quatro vezes maior comparada ao cigarro convencional. Perde-se o senso de que faz mal, inclusive para as pessoas que estão no mesmo ambiente, no qual antes não se fumava. José Roberto Megda Filho, pneumologista e presidente regional do Vale do Paraíba da SPPT (Sociedade Paulista de Pneumologia e Tisiologia)

Se o indivíduo tiver alguma condição crônica, asma, por exemplo, corre o risco de entrar em crise de broncoespasmos ou desenvolver outra doença respiratória nova, de acordo com Anacleto.

"O cigarro eletrônico aumenta a ameaça de infecções pulmonares, como pneumonia, covid mais grave, assim como influenza, pois lesiona o pulmão e facilita a entrada de bactérias, vírus, agentes infeciosos que favorecem as infecções", alerta Megda Filho.

Fontes: Aldo Agra de Albuquerque, pneumologista da comissão de tabagismo da SBPT (Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia); Alexandre Augusto Ramalho Araruna, pneumologista do HULW (Hospital Universitário Lauro Wanderley) da UFPB (Universidade Federal da Paraíba), ligado à Ebserh (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares); José Roberto Megda Filho, pneumologista e presidente regional do Vale do Paraíba da SPPT (Sociedade Paulista de Pneumologia e Tisiologia); Vinícius Anacleto, pneumologista da Santa Casa de São José dos Campos.

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