Quais os maiores medos dos idosos e como ajudá-los?
Medo todos sentimos, por várias razões, mas no idoso pode estar relacionado aos declínios fisiológicos, hormonais, imunológicos, cognitivos, emocionais. Ou à percepção da finitude, à perda de pessoas próximas, ao surgimento de limitações, à insatisfação com a aparência ou o status profissional, à falta ou diminuição de exposição a riscos, desafios e emoções intensas.
Além disso, com o avanço da idade, o funcionamento cerebral diminui, assim como algumas de suas áreas em até 1% ao ano.
"Pode se dizer que esse fator repercute em medo, pois a atrofia que ocorre afeta memória e as respostas rápidas frente a aprendizados, ações e desempenhos", completa Júlio Barbosa, médico pela UFBA (Universidade Federal da Bahia) e neurocirurgião.
Já o medo do envelhecer, ou rejeição à velhice e tudo o que ela representa, recebe o nome de gerontofobia e pode ter influência pela forma como a sociedade trata os idosos, muitas vezes associando-os a solidão, doença e abandono. Além disso, muitos enfrentam problemas diários, como falta de acesso à saúde, de moradia adequada e sofrem com condições crônicas.
Muitas preocupações em vista
Segundo Cláudia Messias, psicóloga com experiência pelo Hospital Geral de Palmas, muitos idosos terminais, mas lúcidos, demonstram preocupação com "a morte em si, o sofrimento, em dar trabalho para a família e em como determinadas pessoas vão reagir à sua partida". Mas não só. Nos últimos anos, várias pesquisas tentaram descobrir os maiores medos dos idosos.
Os resultados obtidos foram os seguintes:
- Viver em solidão
- Desenvolver doenças graves
- Perder autonomia e independência
- Não ter dinheiro para autossustento
- Não poder permanecer/viver na própria casa
Outras preocupações apontadas incluem medo de parar de dirigir; perder a memória; ser abusado por estranhos, que podem querer se aproximar por interesse; não ter mais lazer; enfrentar desrespeito, negligência, violência; perder a visão; não receber cuidado da família.
"Com o envelhecer aumenta o medo de cair e se acidentar, ficar inválido e não poder contribuir em casa. Às vezes isso se justifica, às vezes não, quando excessivo, paralisante, precisa ser investigado se não há por trás algum transtorno", informa Natan Chehter, geriatra do Hospital Estadual Mário Covas (SP).
Ter medo só piora a saúde
A somatória de medos acaba afetando a maneira como idosos lidam com suas questões internas e pode aumentar com estresse, baixa autoestima, ansiedade e predispor depressão.
"Além disso, muitos acabam tendo ideias equivocadas sobre o envelhecer", reflete Yuri Busin, psicólogo pós-graduado pela PUC-RS.
Essas ideias podem levar a uma obsessão por tratamentos estéticos, dietas restritivas e treinos até a exaustão. E se um idoso que sofre de gerontofobia passar por preconceito por idade (etarismo), ou pressão social, pode até manifestar taquicardia, sudorese, angústia, vergonha. Alguns até evitam, se isolam ou fogem de situações que envolvem a presença de idosos.
Atividades cotidianas, trabalho e compromissos são prejudicados por essa postura, que ainda leva à perda de vínculos afetivos, que são importantes para o bem-estar e a qualidade de vida dos idosos. O medo, por causa da raiva e das tensões constantes geradas, também é um fator de risco para doenças cardiovasculares, hipertensão, demência e outras condições crônicas.
É preciso combater estigmas
Para ajudar o idoso com medos, primeiro é necessário desconstruir o conceito retrógrado da velhice e mostrar a ele uma nova imagem, valorizando os aspectos positivos da longevidade, como experiência, sabedoria, contribuições e realizações pessoais. Idosos se sentem confiantes e valorizados quando enaltecidos por suas vivências, histórias ou quando ouvidos e atendidos.
"Com alguma debilidade que o deixe temeroso, a família ou cuidadores devem auxiliá-lo e repensar sua casa, para que garanta segurança, conforto e facilidades. Estando fora, que o acompanhem e auxiliem, se for conveniente", acrescenta o geriatra Natan. Mas sem fazer críticas ou reprovações, para que o idoso não se sinta mal, antes ele merece acolhimento.
Tem mais. Estando o idoso aposentado, mas em pleno vigor, as pessoas do seu círculo podem estimulá-lo a se manter ativo e participativo, seja com algum hobby, atividades, voluntariado. O medo de envelhecer pode ser amenizado com a adoção de bons hábitos, como seguir uma dieta equilibrada, praticar exercícios regulares, cessar vícios, se divertir e buscar um propósito.
Agora, para idosos em sofrimento psíquico e emocional, o caminho é o suporte psicoterápico. Requerem modificar crenças negativas, compreender que ciclos se fecham, que envelhecer é natural e inevitável, mas que traz oportunidades de crescimento e aprendizado.
Dessa forma, quem sabe aumentem sua resiliência, capacidade de adaptação e satisfação pessoal. "Não dá para ficar apreensivo, achando que o tempo está se esgotando. É preciso aprender que a vida não nos pertence e aproveitar cada dia", conclui a psicóloga Messias.
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