Qual a relação entre triglicérides e hipertensão com depressão e ansiedade?

Triglicerídeos são partículas de gordura presentes no sangue e que servem como reserva de energia para o organismo. Quando seus níveis estão elevados, podem causar danos aos vasos sanguíneos, aumentando o risco de infarto, AVC, obesidade, diabetes, síndrome metabólica, gordura no fígado.

Já a hipertensão é a pressão arterial elevada, que pode ter várias causas, sendo algumas o consumo excessivo de sal, álcool e tabaco e a falta de atividade física. Ela afeta a saúde dos vasos sanguíneos e do coração, além de outros órgãos, como rins e cérebro.

Em comum, ambas as condições clínicas poderiam comprometer ainda o emocional e psicológico. Médico pela Unaerp (Universidade de Ribeirão Preto) e pós-graduado em endocrinologia, Rodrigo Neves comenta que há pesquisas sobre o comprometimento metabólico influenciar a função cerebral e a neurotransmissão, contribuindo para um risco maior de depressão, em especial nos adultos mais velhos, com diabetes tipo 2 e índices elevados de triglicérides.

É o que afirmam estudos científicos recentes. Num deles, da Austrália, publicado em 2021, descobriu-se que triglicerídeos altos e hipertensão atuariam nos genes relacionados à pré-disposição para depressão e ansiedade. Foram identificados 674 genes associados, sendo 509 comuns a ambos os transtornos.

"Estudos em psiquiatria molecular também destacam existir uma associação entre processos inflamatórios sistêmicos [que afetam o organismo como um todo], marcadores inflamatórios periféricos [moléculas medidas no sangue que circula pelos vasos], hipertensão e risco elevado de desenvolvimento de transtornos psiquiátricos, como a ansiedade", complementa o médico. Ele ressalta, entretanto, que essas relações são complexas e não estão totalmente esclarecidas.

Além disso, foi observado que tanto a hipertensão quanto os níveis altos de triglicérides no sangue poderiam contribuir para a formação de uma proteína tóxica chamada amiloide, que ao se acumular no cérebro interfere na comunicação entre os neurônios, causando perda de memória e demência, termo que engloba várias doenças neurodegenerativas, como Alzheimer.

Ciclo vicioso

Causas orgânicas não determinam sozinhas a saúde mental, mas sim sua interação com outros fatores, o que pode afetar ainda percepção, aprendizagem, sono, capacidade adaptativa e de recuperação e levar a comportamentos prejudiciais, como compulsões por doces e alimentos hipersalgados; sedentarismo; dietas muito restritivas; vícios em cigarro, álcool e outras drogas.

"Tudo isso pode aumentar os níveis de pressão arterial e gordura no sangue, estabelecendo um ciclo vicioso. Então, ansiedade e manifestações depressivas não são apenas consequências como também causas para obesidade, triglicerídeos altos, hipertensão, uso de medicamentos", informa Wimer Bottura, psiquiatra e psicoterapeuta pelo Instituto de Psiquiatria da USP.

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Para prevenir e tratar hipertensão e triglicerídeos altos é indicado:

seguir uma alimentação equilibrada;

praticar exercícios físicos regularmente;

controlar o peso;

cessar vícios;

descansar;

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regular o sono.

hábitos saudáveis inclusive para tratar problemas de saúde mental, como ansiedade e depressão, que demandam psicoterapia e, às vezes, uso de remédios controlados.

Com doenças crônicas, avise

No caso de doenças físicas que afetam mente e emocional, como as já mencionadas, além de alterações hormonais da glândula tireoide, o paciente deve seguir as orientações do médico responsável pelo seu tratamento. Pode ser de início um clínico geral, ou endocrinologista, e depois o paciente leva os diagnósticos ao psicólogo ou psiquiatra, se precisar de um deles.

"Faz parte de uma boa investigação psiquiátrica sempre excluir as causas orgânicas para o transtorno ou para os sintomas do paciente, e isso se aplica a outras circunstâncias, como uso indiscriminado de anabolizantes, inibidores do apetite e intervenções controversas para fins estéticos", afirma Felipe Mota, psiquiatra e professor da Afya Educação Médica de Fortaleza.

Portanto, compreender os mecanismos biológicos por trás dos transtornos mentais é um desafio que requer uma abordagem integrada e abrangente, até para novos estudos e tratamentos. Além disso, pode favorecer a redução do estigma e do preconceito em relação às pessoas que sofrem de transtornos mentais, reconhecendo que eles são condições médicas que podem afetar qualquer um.

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